Pane Vino

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Emma Swan

Observei os passos decididos de Regina em meio ao centro caótico do Cairo, ou ao menos eu pensava estar no centro. Haviam turistas, carros, motos, bicicletas e alguns vendedores passando em meio a todos, mas a morena se destacava com suas roupas. As vestes transitavam entre uma modernidade que se encaixava no meio do deserto, de modo misterioso, mas o hijab tão bem recolocado ajudava a demonstrar que estava em sua terra, mesmo que sua pele não fosse tão dourada quanto as dos outros egípcios. Regina era a divisão e a mistura de culturas, poderia se encaixar em tantos lugares do mundo que não haviam dedos meus para contar, entretanto ficava óbvio o local a qual pertencia.

Diferente da morena, o meu suor escorria pela espinha, sentindo o sol bater no asfalto e resquícios de areia até ser jogado de volta para mim em pura luz, deixando minha pele vermelha pelo esforço que eu não era acostumada.

Após a pequena discussão com Gold, Regina não ousou olhar para Zahi dentro da sala de Fiona, apenas capturando sua bolsa e deixando um olhar de aviso para a mulher, que compreendeu que precisava de tempo. Incerta, decidi seguir a mesma até saber que seus planos eram caminhar da Praça Tahrir para algum lugar que me fugia a compreensão. Respeitei seu silêncio e seu espaço, caminhando um pouco mais atrás de si, porém eu sabia que ela tinha noção da minha presença, afinal, em alguns momentos ousou olhar para trás, como se quisesse ter certeza de que eu estava a seu alcance.

Ajeitei com cuidado a câmera dentro do seu protetor, ficando feliz de a ter levado comigo, pois queria fotografar as ruas na volta de onde quer que fosse que a arqueóloga estivesse indo. Provavelmente as avenidas com cores tão clássicas pareceriam resplandecentes no pôr do sol dourado.

A cada lugar que passávamos minha mente obtinha novas percepções do Egito que me eram desconhecidas, como o fato de que mesmo que eu já conhecesse o país, ainda possuía uma visão muito advinda de filmes antigos, como se o local fosse sempre resumido em terra e tons de amarelo e laranja, e se me permite dizer; era uma total mentira. O Cairo, principalmente, era um ponto turístico e portanto tinha lojas e paradas de todo o tipo, tentando agradar qualquer turista que não quisesse embarcar tão fundo em uma cultura alheia, porém ainda podíamos ver pequenas bancadas mais ao canto com o busto de Nefertiti, placas de hieróglifos ou até mesmo grandes mesquitas como a de Omar Makram que ficava a duas ruas de distância do Museu do Cairo.

A capital era uma explosão de tudo que pudéssemos imaginar.

— Desculpe — Regina disse ao diminuir a rapidez dos seus passos para andar do meu lado.

Ergui uma sobrancelha, curiosa e em dúvida sobre o teor do seu pedido.

— Pelo quê?

— Por te fazer andar no sol — Respondeu sincera, mas o sorriso de canto que se erguia em seus lábios talvez me desse uma noção que a arqueóloga achava aquele fato muito engraçado.

— Pode rir, consigo sentir daqui que está querendo se matar de rir só de olhar meu rosto — Revirei os olhos, cruzando os braços. A postura era séria, mas eu estava relaxada.

— Parece um pequeno tomate seco — Apoiou seus dedos sob os lábios ao deixar sair a verdade, segurando o seu riso mais um pouco.

Fiz uma careta ao imaginar que talvez aquilo não me fizesse bem posteriormente, tanto pelo choque térmico de ter saído de um local frio como era a sala de Fiona para conservar as múmias que analisava, quanto a falta de costume com temperaturas altas como aquela. Deveria estar fazer 32°C se eu pudesse chutar com precisão.

Minha careta de desagrado talvez tenha surtido efeito, pois o olhar que Regina me direcionou foi de completa culpa, a fazendo encarar o relógio delicado de ouro que havia em seu pulso abaixo da manga longa.

VENENUMWhere stories live. Discover now