Intimate

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Emma Swan

Regina juntou suas próprias mãos acima do colo, refletindo enquanto me olhava. Não haviam lágrimas ou dedos trêmulos, apenas o silêncio da confissão de parte da minha história. Era um caos e confusão interna tão densos que era quase impossível de demonstrar, me rendendo ao torpor que tudo aquilo me causava.

— Eu queria poder dizer que estou feliz por saber que você é livre deles por agora, mas sinto que há mais para saber. — Mills comentou com cautela, se referindo a história que havia acabado de contar.

Ri irônica ao escutar a palavra "livre". Aquilo não era verdade, estava sinceramente mais próximo de uma grande mentira do que eu poderia sequer traduzir. Estava presa a mim mesma e um passado falido por apenas uma única noite e algumas frases.

— Liberdade é um conceito vago se for levar em conta o que aconteceu posteriormente a tudo isso — Suspirei, ajeitando-me no sofá para encarar de frente a morena enquanto minha cabeça descansava no estofado — Ruby não superou, muito menos.

— Não irei mentir, mas estou curiosa para saber como chegou aqui. — A arqueóloga foi sincera, repetindo meus gestos para espelhar minha posição, retirando seus saltos para trazer acima do sofá.

Brinquei com uma manta que estava ali, movendo de um lado para o outro seus enfeites pendurados, presente de uma viagem ao México. Desejava voltar para aquele local, mas não sabia dizer se tudo passava da necessidade de fuga ou de interesse ferrenho.

— Acho que posso começar dizendo que meu sobrenome não era Swan, era Nolan... — Comecei a explicar aos poucos, deixando os olhos de Regina pesarem em mim com nada além de calma e paciência — Quando tudo aconteceu e Ruby quase fugiu para o outro lado do país enquanto não começava a faculdade, eu fui para o campos uma semana após a briga. David não olhava em minha direção, Ingrid evitava falar comigo nada além do necessário e os sussurros de ofensa de Neal era sempre audível quando estava próxima. Aguentei cada segundo, fingindo que nada havia acontecido até finalmente ir para o campos. Eu iria fazer jornalismo, sempre foi minha escolha e durante o curso descobri que meus pais haviam pago alguém para sempre me vigiar, e quando saí pela primeira vez e dancei com uma mulher meu telefone tocou e pela primeira vez em semanas David falou comigo... — Fechei os durante uma pausa, meus dedos tocando a fronte da minha testa sentindo a dor de cabeça que ameaçava me tomar — Me ameaçou dizendo que não deveria sujar o nome da família, que ele precisava se manter estável para se eleger em um cargo no senado.

Regina me olhou com cuidado, apoiando sua cabeça no dorso da mão que estava no sofá, cautelosa.

— E o que você fez?

— Aguentei as ameaças, fiz tudo o que queriam por em torno de dois anos. Saía com um homem atrás do outro durante as festas, e mesmo que eu gostasse ainda tinha meus pensamentos em Ruby e no lado da minha sexualidade que mal tinha sido explorada. — Olhei para o teto, refletindo sobre a sensação de prisão que sempre havia em meu peito — Quando descobri que meu pai ameaçava o de Ruby para a manter distante de mim de alguma forma, eu surtei aos poucos... Entrei com um processo de mudar meu nome, retirando Nolan e deixando apenas Swan, que pertencia a minha vó. Demorei um certo tempo para conseguir terminar o curso e voltar o contato com Ruby, e naquele momento eu percebi que todo o nosso "romance" era mais uma descoberta que misturou os sentimentos de amizade com paixão.

— Ruby é uma mulher bonita, a paixão poderia ser verdadeira — Regina brincou, fazendo-me sorrir — Entretanto fico feliz que tenham percebido isso cedo e não machucado uma a outra.

— Diferente de mim, Ruby conseguiu retomar contato com os pais, mas com a promessa de que a sua sexualidade nunca seria exposta de algum modo que saísse em qualquer jornal ou meios de comunicação.

VENENUMWhere stories live. Discover now