Aswad

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Esse capítulo tem música, pessoal:

Silk - Elijah Blond
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Emma Swan

A cabeça de Regina descansava por cima de uma das muitas almofadas, caindo outra vez em um sono quase profundo, perturbado pelos pequenos tremores dos seus cílios quando parecia estar algum sonho pouco movimentado. Olhei para o livro de poemas no meu colo, distraída como nunca, sem conseguir focar em nada além da presença do corpo quente próximo ao meu.

Regina caiu com lentidão para o sono que a tomou em meio uma conversa aleatória sobre história, contando-me das poucas vezes que obteve tanto êxito como havia sido com Cleópatra. A cada palavra que saía dos seus lábios, parecendo tão interessantes e decoradas em sua cabeça pelo reviver de memórias, seu corpo relaxava até a induzir a um ressonar baixo.

A arqueóloga parecia ter pouco tempo de descanso em meio a toda nossa correria e por isso não me importei em a deixar dormir o quanto pudesse, levando em conta o silêncio delicado do deserto que nos embalava, o ventilador automático ligado a um minúsculo gerador, e o soar do vento casual do lado de fora.

Meus dedos se apertaram com força ao livro que segurava, tentando encarar as letras e não os cabelos sedosos e negros que exalavam o perfume tão característico de Regina. Como sempre, minha mão era tão curiosa quanto meu corpo, porém minha consciência era maior que qualquer uma das vontades então apenas respirei fundo, relembrando de cada acontecimento rápido em poucas horas.

Regina era uma incógnita ainda para mim, tão complexa que achava mais fácil conseguir ler todos hieróglifos nas tumbas de Cleópatra do que compreender o que significava cada olhar agudo que me era direcionando pela latina-árabe. Mesmo que a mulher houvesse nascido no Peru, mais da metade da sua vida era vivida dentro de uma cultura muçulmana, tão complexa quanto a si mesma.

Um dos fatores que me fez tornar uma jornalista cultural era a diversidade. Cada pequena coisa em meu país que soasse importante poderia ser apenas algo insignificantes ou extremamente errado. Todas as variações de línguas, cores, músicas, sabores... Tudo vibrava aos meus olhos. Como Regina.

Ao chegar no Egito apenas a via como outra colega de trabalho que por sorte sentia simpatia por mim, entretanto nunca havia negado sua beleza. A morena havia um imã em si, tão cativante a cada movimento, até os mais imperceptíveis como o girar de anéis em seus dedos. Seus passos eram delicados, felinos, mas imponentes, andava como alguém decidida e cautelosa ao mesmo tempo, um contraste belo para formar sua figura.

Antes de cair no sono questionei a mesma sobre algo que rondava minha mente como um fantasma descontente, irritante.

— Nunca imaginei que viveria algo assim aqui — Assumi, começando o assunto, esperando o momento certo de abordar o que queria.

Os olhos caídos e pesados castanhos me encararam, pouco confusos, seu corpo virando-se de lado para me olhar melhor, ajeitando as almofadas abaixo de si.

— Algo assim? Assim como? — Seu tom de voz era oitavas abaixo do normal, preguiçoso, deleitando-se em sua preguiça.

Ajeitei o tecido negro do vestido que ainda usava por cima das minhas pernas antes de imitar seus movimentos, apoiando minha cabeça no cotovelo esquerdo que me sustentava, suspirando.

— O dia de hoje, para ser mais sincera — Sorri, provando que não era algo negativo — Desde o beijo ou a ver rodar na areia.

— Por que não imaginava? — Franziu sua sobrancelha, confusa.

VENENUMWhere stories live. Discover now