Soberana

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Visão da Emma no hotel:
https://twitter.com/roneymills/status/1446272876492070912?s=20

Egito, a.C.

Cleópatra

Os olhos do homem se abriam cada vez mais em curiosidade pela quantidade absurda de Trigo que se estendia na costa do Nilo. A fartura era um deleite para César, e disso eu sabia.

Acariciei minha barriga proeminente, refletindo em como toda essa viagem pelo Rio Nilo ao logo do Egito iria mudar as visões de Júlio César. O imperador foi tratado como um Deus por ser, supostamente, meu marido, recebeu as melhores músicas, ovações e comidas. Visualizou como era estar no topo de uma sociedade, sendo idolatrado como nada além da sobrenatural.

Suas vestes eram clássicas de um Faraó, tal qual as minhas, mesmo que eu raramente usasse as roupas clássicas ou a coroa que foi um dia simbolicamente do meu pai. Mas era necessário, eu precisava me manter no poder e precisava garantir que meu filho ficaria estável como nunca estive.

Pensando nisso decidi propor a César um passeio pelo que eu tinha como domínio, usando do argumento que seria interessante saber o que ele tinha sob "suas" mãos enquanto era meu consorte. O que era mentira, claro, pois o poder nunca sairia da minha posse, como nunca deixei. O imperador, alheio aos meus motivos, cedeu por uma semana aos meus caprichos e se deixou encantar por cada trecho que descíamos Nilo abaixo.

Vimos Alexandria, Memphis, Tebas, os templos de Karnak e Luxor soando gigantescos tanto quanto as pirâmides de Gizé, que eram mais velhas do que toda a dinastia da minha família ptolomaica. E com isso descansamos na nossa chega em Hermontis, onde eu propus um trato.

Se nosso filho fosse homem, um templo ali seria construído. Seria um Deus, nós seríamos Deuses progenitores e com isso, com esse pensamento de soberania, a República de Roma caiu.

Como um homem que viveu a soberania poderia aceitar a democracia outra vez? Facilmente seria cego pelas vantagens que eu ofereci com apenas uma semana.

Observei o rosto de César ao meu lado, brilhando no sol egípcio com calma, a idade marcando seus traços no canto dos olhos ou no erguer leve do seu sorriso. A idade era traiçoeira e ideia de juventude era encantadora demais para ser recusada, o que foi outro fator que nos levou a ver algumas múmias no Cemitério de Saqqara. Apresentei os indivíduos enrolados em linho, comentando sobre como era visto a mumificação e a crença na vida após a morte, esperando seus pensamentos se assentarem em sua cabeça.

Os olhos do homem brilhavam como as estrelas no céu noturno. Estava encantado, tão focado nas belezas do meu domínio que mal poderia perceber os movimentos que eu fazia.

Veja bem, não desgostava de César, mas tampouco amava. Eram interesses políticos em jogo e acima disso era a minha vida e a do meu filho. Levei a mão instantaneamente para a barriga, refletindo sobre o nosso futuro que sempre soava incerto, mas fui interrompida pela voz do imperador.

— Nunca poderia imaginar que o Egito seria tão incrível em fartura! — Arquejou, virando-se para depositar seus dedos em meu rosto como um carinho. Precisei me controlar para não me afastar do seu toque automaticamente — Vejo agora como vivemos retrogradamente em Roma.

— A sério? — Questionei, fingindo distração, mesmo que meu interior implorasse pelas palavras que poderiam fluir de seus lábios.

— Fico a refletir em que momento deixamos de ser exaltados como acontece aqui. Homens no poder anteriormente eram muito mais valorizados e hoje levamos a sério a democracia, mas... Isso — Gesticulou ao nosso redor — Soa muito melhor.

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