Deserte

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Notas:
O pov da Regina é regido pela música Effects of Thoughts da Rhita Nattah e está no link da playlist: https://open.spotify.com/playlist/6RzN1WiEym9solX1Ek03NN?si=u3phKIOQSxS9XqcjAhkCMw&utm_source=copy-link&dl_branch=1

Cidade de Tarso, antiga Costa Sul da Turquia a.C.

Cleópatra

Meu navio se aproximava lentamente da pequena cidade construída em pedras, tão delicadamente estável que me fez analisar com cuidado o espanto dos moradores que se aproximavam da borda do cais, surpresos por uma embarcação egípcia se aproximar em seu maior esplendor.

Bati as unhas na madeira da proa, sorrindo de canto ao escutar o burburinho do meu nome se espalhando pelo local, sendo trazido até mim os questionamentos de "aquela é Cleópatra?", em uma língua que eu dominava graças ao meu estudo. Diria que o espanto me tomava quando percebi homens e até alguma crianças se jogando ao mar para se aproximarem da embarcação, entretanto seria mentira. Era tradicional ocorrer isso em outras terras, até mesmo no Egito a devoção era palpável, achavam que eu era Isis encarnada e a história se espalhou até ser cultuada como uma deusa.

Ao estar próxima o suficiente para ver o grande forte com uma torre predominante, consegui visualizar Marco Antônio sorrindo da sua sacada, parecendo esperar que eu aparecesse daquele modo. O novo general havia pedido para que o visitasse, para formamos alguma estratégia contra Otaviano, que estava ascendendo ao poder após ajudar a matar meu querido Júlio César, porém não poderia imaginar estar perto de alguém que só me lembraria o fracasso que meu último plano de deixar meu filho Cesário no poder do Império Romano havia tido. Marco Antônio era uma caixa de lembranças do passado da qual eu não queria lembrar e prepotente apenas como um homem poderoso poderia ser, mas ele detinha algo que eu queria, assim como eu possuía riquezas que o estabilizariam em um confronto contra Otaviano.

A música que soava na embarcação atrás de mim era levada através do meu ouvido, se misturando ao grito da população local. Queriam um vislumbre da minha face, um vislumbre das minhas vestes, um vislumbre de algo tão distante das suas realidades que certamente acreditariam em mitos, fantasias e devaneios.

Deixei com que abaixassem a ponte de madeira para que meus serviçais descessem antes de mim, levando música e iguarias em seus braços, animando a população de Tarso, fazendo seus olhos brilharem pelas cores que nossas vestes traziam ou hipnotizando alguns pela pele dourada pintada com Kohl ao redor do olho, tão bem traçados que alguns diriam que foi desenhado com a ponta de uma adaga mortal. Diferente dos outros, minhas vestes eram em branco profundo, com apenas um único pano amarelo escuro apertando os lugares certos, meus olhos possuíam o delineado mais curto, singelo e o cabelo ondulado e castanho quase acobreado estava preso em um coque. A Grécia era visível em mim, mesmo que o Egito fosse minha casa, meu local de nascença. A dualidade era visível.

Capturei um única tâmara ao me mover para descer, sendo rodeada por meus homens em proteção e posteriormente pelos soldados do Romano poderoso que se aproximava em passos largos, expondo seu porte forte e resplandecente de soldado. Mordi a fruta lentamente ao parar em sua frente, não preocupada com a demora dos meus atos.

— Cleópatra VII — O homem acenou com sua cabeça em cumprimento antes de se ajoelhar a minha frente, mostrando seu respeito — Não esperava que fosse vir depois de tanto tempo.

— Tenho meu próprio tempo — O encarei, observando sua cabeça se erguendo para me encarar, risonho e esperto.

— O tempo de uma deusa.

— E você não desejará ir contra as regras de uma deusa, irá? — Mordi o restante da tâmara, deixando seu suco brilhar em meus lábios, sendo capturado pela ponta da minha língua, distraída com o som do meu nome sendo clamado por todas as partes como música.

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