22. Areia movediça de textura Dândi.

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#MorceguinhoCerejinha

"Em outra vida, eu fui Daniel Mancini Vitale. Nessa vida, eu sou Jeon Jungkook. Para os íntimos e selvagens, Dândi".

O silêncio da biblioteca soava confortável para mim conforme a frase ecoa em alto som em minha mente. Soa como se fosse dita em brado, é louco como entra em minha cabeça, parece circular por toda a parte.

Balanço-a em negação, não ousando me permitir a pensar sobre dias atrás. É notável que seja recente e me perturbe a mente, no entanto, recuso-me a cair neste buraco de memórias, é como areia movediça, me engole sem dar-me chances de tentar escapar.

Droga, essa areia movediça é de textura Dândi.

Honestamente, eu queria ter o poder de expulsá-lo para fora de minha mente. Você não percebe o quão apaixonado pode ser por uma pessoa até que ela te magoe e vocês se distanciem. Tudo vem para cima de você como baldes de tintas em sua cabeça ou fogos de artifício em uma virada de ano. É péssimo para sua audição, desconfortável.

Sinto-me assim tendo sentimentos por alguém que não está mais aqui e, prontamente, me magoou.

Exponho um rezingo, fechando o livro que lia, ou tentava. As folhas fazem barulho ao se chocar, mas meu foco é direcionado a porta da biblioteca que é aberta, no entanto, não vislumbro ninguém passando por ela. Rolo meus olhos para a capa do livro de filosofia, tinha de fazer um resumo, porém, me faltava concentração para seguir em frente.

Matei aula justamente para isso, como se fosse adiantar de algo, continuo perdido em minha mente. Não sei como fazer para torná-la menos agitada, gostaria de pensar menos, relaxar mais, mas estou ligado na tomada cem por cento do tempo inteiro. Minha bateria não acaba nem mesmo quando estou dormindo.

Pobre é triste.

Inferno, até mesmo falar sobre a desigualdade entre ricos e pobres me faz lembrar Dândi.

— Que ódio, que ódio, que ódio. — Resmungo, batendo meus dígitos contra a mesa branca.

Sons de passos chegam aos meus ouvidos, como anteriormente, ergo meus lumes e encaro o corredor que dá acesso à porta da sala. Inclino a cabeça, curioso sobre quem seria, entretanto, não preciso de muito mais que dois segundos até ter Yoongi em minha direção. À vista disso, assusto-me, sou pego de surpresa e, desprevenido, falho em esconder o choque por vê-lo aqui.

Os mafiosos não comparecem há um bom tempo ao colégio, achei que tivessem metido o pé para fora e abandonado. Digamos que estar aqui é algo que eles não precisam, afinal, suas vidas estão ganhas. E, como Jeon dissera uma vez; ele vinha para me ver, não sei como os outros garotos entram nisto.

Não sei o que falar ou como reagir, então opto por desviar meu olhar para o livro; maldita hora em que o fechei, poderia usá-lo como escape.

Neste ínterim, escuto o arrastar da cadeira a minha frente, em sigilo eu levo meus olhos a encarar a figura do italiano, ele ocupa o local e me observa em silêncio. Céus, eu quero me atirar no chão por vergonha, valei-me, não fui preparado para isso.

Odeio que me encarem, ainda mais em silêncio, ainda mais quando se é um mafioso. Ainda mais quando...

— Sua mochila está caindo. — Avisa-me.

— Oh... — Entreabro a boca, visualizando o fato que ele havia dito. A mochila em meu colo pende para o lado, prestes a cair. Puxo-a e ajeito em minhas pernas. — Obrigado.

Emito um murmúrio através de minhas bochechas, estou intimidado demais para olhá-lo, então evito contato visual e desconto meu nervosismo em ignorar sua existência, uma ilusão, como se fosse possível com o rapaz me observando minunciosamente.

ROCK MÁFIAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora