JEALOUSY

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S/N

Encarei a tela branca a minha frente, com um pincel em mão e uma paleta de variados tons de cinzas, desde o claro ao mais escuro. Sentada no banco eu mordi o lábio, completamente perdida. Por onde eu deveria começar? O que eu deveria pintar?!. Os pensamentos tomaram de conta de minha mente, enviando um branco.

- Eu não sei o que deveria fazer. - falei girando sobre o pequeno banco, para olhar John.

- Vamos pintar um corvo. - se posicionou a minha frente, com um sorriso sugestivo nos lábios. - Tem tudo a ver com o nosso trabalho.

- Hum, eu pensei na máscara da lenda. Mas o corvo parece melhor ainda! - me levantei e lhe entreguei as coisas. O mesmo me lançou um olhar questionador. - Eu não sei mexer nisso, é melhor que você faça essa parte. Se não for um problema pra você, é claro.

- Tudo bem. Já faz um tempo que não uso isso, mas vai ser bom reviver a sensação. - John sorriu e se sentou no banco.

Puxei um outro banco para me sentar ao seu lado e o olhar pintar. Levou sua mão com o pincel firme aos dedos a tela, traçando uma linha fina e curva de cinza claro, logo dando forma ao corvo na tela. Seu traço é delicado e preciso, planejando cada movimento e sua mão parece ter sido feita para pintar. Sua expressão se mantém relaxada e focada, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Ele faz parecer fácil ao mesmo tempo que demonstra preocupação a cada traço na tela. John tem seus olhos focados na pintura e após a silhueta do corvo ser pintada, ele misturou tons cinzas escuros para a base do animal, iluminando alguns pontos com cinzas mais claros e realçando as penas longas.

Levou algumas horas até que a tela esteja completamente tomada por tinta. A frente o corvo e ao fundo cores esverdeadas e marrons, para relembrar a floresta de Duskwood. O seu trabalho ficou tão lindo que enquanto a pintura secava ao vento na aérea do lado de fora do laboratório, me posicionei em frente a tela e o admirei por longos estantes, percebendo o esforço colocado ali. Você podia ver a dedicação nos traços, na forma que foram feitos e como foram terminados, com toda a precisão do mundo, a forma como ele usou todas as cores da paletas naquela tela e fez uma mistura magnífica delas. Estava fascinante aquele quadro e eu poderia me sentar e admirar por horas.

Puxei meu celular do bolso da calça e capturei a pintura na tela, desligando o celular e o enfiando em meu bolso novamente.

- Ficou incrível, John. - falei ao vê-lo se aproximar com alguns lanches em mão. - Você tem um grande talento pra isso.

- Fico lisonjeado. É muito bom ouvir isso de alguém como você. - ele esticou um lanche em minha direção.

John se sentou no banco extenso a frente da pintura. Deixou alguns tapinhas sobre o banco, me chamando para me sentar ao seu lado e eu o fiz.

- Por que parou de pintar? - perguntei sem tirar os olhos da pintura.

- Não era mais a mesma coisa. - sua voz saiu com indiferença. - Eu pintava por me sentir sozinho e então eu preenchia as telas, pra me preencher também. Mas a faculdade chegou, a Maggie também e você sabe como ela, é impossível se sentir sozinho ao lado dela.

- Ela gosta muito de você. Pode não parecer, mas ela gosta. - o olhei por cima do ombro, encontrando seus olhos.

- Acho que a Maggie também se sentia um pouco sozinha no começo. Pode-se dizer assim porque qualquer mínima atenção era o suficiente pra ela. - John olhou para as próprias mãos. - Ela não era nada como é hoje, acredito que a faculdade amadureceu muito ela e ao seu cérebro.

Direcionei os meus olhos até a tela novamente, batucando a ponta dos meus pés no chão de forma aleatória, provocando barulho.

- Quando eu tinha 14 anos alguma coisa aconteceu. Eu não me lembro muito o que era, mas eu me lembro que teve uma grande reviravolta na minha vida e eu comecei a fazer aula de francês. Eu fazia pra preencher a mente e não pensar muito sobre o que tinha acontecido, mas eu nem fazia ideia do que aconteceu, apenas me lembro que me atormentava. As aulas de taekwondo se tornaram insuficientes e eu tive que fazer francês, ajudou, mas depois de um tempo não via mais a necessidade de continuar. - reprimi os lábios. - Estou te dizendo isso pra te mostrar que é completamente normal você precisar ocupar um espaço com outra coisa, e depois de um tempo não ser a mesma coisa.

𝐈𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐃𝐀𝐑𝐊 Where stories live. Discover now