25. E desde então, sou porque tu és.

154K 10K 119K
                                    

#MorceguinhoCerejinha

Se eu te dissesse quem eu era, você viraria as costas para mim? E se eu parecesse perigoso, você ficaria com medo? Tenho a sensação apenas porque tudo o que eu toco não é obscuro o bastante.

A pouca luminosidade do quarto não impediu que eu despertasse com um feixe de luz direcionado diretamente ao meu rosto. Ergo a destra em câimbra, ao levá-la ao rosto para tapar a claridade, lamento-me por ter dormido em cima de meu braço. Caramba, não sinto absolutamente nada. Meu primeiro impulso, no entanto, é escapar da maldita claridade e, ao jogar meu corpo para o lado esquerdo da cama, identifico o corpo de Dândi, ele está de bruços, adormecido ao meu lado.

Franzo o cenho, um tanto quanto surpreso. Talvez eu tivesse acostumado a acordar e não tê-lo ao meu lado ou tê-lo me acordando, como é de costume. Formo um bico em meus lábios, pensativo, perdido em seu rosto afundado no colchão confortável. Meus olhos estão fixados na serenidade em seu rosto, especialmente porque ele parece estar em tanta paz, o que me deixa, de certa forma, feliz logo cedo.

Dândi tem um caos que ele chama de vida, eu gostaria que ele sossegasse um pouco em nome de seu conforto. Sei que é impossível.

Desço o olhar por seus fios pretos, caídos por sua testa, cobrindo parte de seus olhos fechados. Ele está sem camisa e enquanto, ligeiramente, eu estudo seu corpo coberto apenas pela calça moletom, não posso deixar de analisar suas costas, suas marcas e cicatrizes. É fascinante, um pouco assustador compreender o motivo pelo qual elas estão aí, muito louco conseguir lidar com isso, perturbador saber que estou cada vez mais convicto do que me foi dito e mostrado.

Quer dizer, parece maluco e totalmente fora de minha crença, todavia, não me parece – mais, algo criado por Dândi. Atthis e eu somos extremamente diferentes, temos a fisionomia parecida e ainda assim, até mesmo ela tem gostas de diferença, se apontado à cor de nossos cabelos. De qualquer maneira, as últimas conversas que tive a respeito desse assunto estão me ajudando a conciliar tudo o que eu, um dia, julguei ser inexistente.

Entender a respeito de si mesmo à base de crenças nunca me pareceu o caminho mais lógico, eu tenho em mente que isso é mais sobre você e seus passos aqui na Terra, nada além de você mesmo influencia seu destino. Por isso eu não estive tanto tempo enraizado em alguma religião, embora comparecesse a igreja sempre que necessário.

Oh, é uma grande questão. Não sei o que é mais agoniante, esperar para entender cada vez mais e mais essa história ou não saber que direção seguir, entretanto, nesse momento eu estou seguindo meu coração e racional, os dois apontam para uma só direção e essa direção está se remexendo na cama enquanto eu, sem antes ter notado, deslizo meus dedos por cada pequena cicatriz em suas costas.

Até mesmo me assusto ao perceber que estava tocando Dândi, mas não afasto minha mão, deixo que elas continuem a acariciar o homem que eu sinto tanta falta em chamar de meu. Estamos indo com calma, oh, bem, em exceção de ontem. Não fomos nada com calma, não me arrependo de nada, o beijei e isso foi tão bom. Nem mesmo em dias terríveis eu me arrependi do que vivi com Dân, quem dirá agora que estou tendo a oportunidade de lhe conhecer por completo.

De antemão, o mafioso abre os olhos, eu fico sem saber como reagir, então me jogo de volta para o meu lado, percebendo que o feixe de luz não está mais no quarto. Solto um suspiro, afastando de meu corpo o lençol.

— Tão cedo, chéri? — Dân indaga. — Porra, eu não acredito que apaguei.

— Deveria, não? Você estava cansado, engomadinho. Ontem foi agitado e esgotante, você precisava se recompor. — Viro meu corpo, ficando de bruços, apoio meus cotovelos na cama e olho para o cara ao meu lado. Ele está tentando despertar, que fofo. — Hm, buongiorno, Dândi.

ROCK MÁFIAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora