Chapeuzinho Vermelho

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Há muito tempo atrás, em um tranquilo povoado, vivia uma menina muito apegada à sua avó. Tanto que, em seu aniversário de 10 anos, recebeu dela um lindo capuz de veludo vermelho feito da mais pura lã. Maravilhada com seu presente, a garota nunca mais deixou de usá-lo e até ganhou a alcunha por ali de "Chapeuzinho Vermelho".

Meses depois, porém, correu por ali uma notícia nada boa a respeito de sua querida avó. Ao ficar sabendo, a mãe de Chapeuzinho colocou em uma cesta alguns pães, um pedaço de queijo, frutas e uma garrafa de vinho de qualidade. Em seguida, chamou a menina e lhe disse, pondo a mão em seu ombro:
- Minha filha, como sei que ama muito sua velha vovozinha, vou lhe dar uma tarefa muito importante: Leve a ela esta cesta, pois ela adoeceu recentemente. Acho justo você fazer isso por ela, já que ela sempre te fez tão bem. Eu mesma me ocuparia disso, mas já estou muito ocupada com meus afazeres e sua avó não pode esperar.
- Claro, mamãe! - respondeu a criança, um tanto preocupada. - Farei isso de bom grado!
- Mas tome muito cuidado, minha filha... - continuou a mulher, de dedo em riste e com um semblante sério. - Evite falar com estranhos pelo caminho. Este mundo é repleto de perigos e adversidades, principalmente para uma jovem garotinha como você!

A menina prometeu que faria conforme dito, pegou a cesta que sua mãe preparara, vestiu seu querido capuz e se pôs a caminhar rumo ao chalé da avó, que ficava a cerca de dois ou três quilômetros do povoado, enfurnado no bosque.

Perto dali, no começo da floresta que delimitava o povoado, descansava sob a sombra de um carvalho um lobo faminto. Já faziam dias que ele não conseguia apanhar sequer um coelho ou um javali, e sua barriga roncava como que suplicando por comida. Foi então que ele avistou aquela garotinha encapuzada caminhando sozinha pela estrada e ficou com água na boca.
- Puxa, vida! Hoje deve ser meu dia de sorte! - murmurou ele, consigo mesmo. - Já estava achando que ia morrer de fome, mas parece que hoje a comida resolveu aparecer de bom grado!

Quando já estava prestes a dar o bote sobre a criança, ouviu o som de um machado cortando uma árvore perto dali. Logo se lembrou de que era dia de coleta de lenha e que haviam lenhadores trabalhando por toda a mata. Temendo que a garota gritasse e acabasse por chamar a atenção dos homens, o lobo bolou outro plano para pegá-la. Então se aproximou de mansinho com um sorriso simpático no rosto e cumprimentou Chapeuzinho, dizendo:
- Boa tarde, doce criança! Aonde está indo sozinha com essa cesta nas mãos?

A menina até se lembrou do conselho de sua mãe sobre desconhecidos, mas aquele lobo falava com um tom tão amigável e tranquilo que ela, ingênua como qualquer criança de sua idade, acabou indo na conversa do vilão e respondeu:
- Boa tarde, senhor lobo! Minha pobre vovó ficou doentinha, e minha mãe me pediu para levar um pouco de comida e vinho para ela!
- Ora, sua avó sem dúvida deve ter orgulho da netinha que tem! - comentou ele, sorrindo. - Mas escute, minha boa menina: Se tem algo que faz qualquer um se sentir melhor e mais disposto, é o aroma das flores que crescem no campo! Então por que não colhe algumas flores para levar para sua avó? Tenho certeza que ela vai adorar!

Chapeuzinho ingenuamente agradeceu pela recomendação e começou a procurar por flores dos mais variados aromas, cores e tamanhos. Enquanto isso, o terrível lobo pensou consigo:
- Então essa pirralha tem uma avó? Puxa, hoje com certeza é meu dia de sorte! Vou comer a velha também!

Em seguida, se despediu gentilmente da menina e adentrou o mato. Só havia uma casa nas redondezas que não ficava no povoado da onde a menina vinha, então o lobo, acertadamente, julgou que fosse a casa da velha. Foi até lá e bateu de leve na porta.
- Quem é? - perguntou a anfitriã, com sua voz cansada.
- Sou eu, vovó, sua netinha! - respondeu a fera, simulando uma voz aguda e pueril. - Soube que a senhora adoeceu, então vim lhe trazer um pouco de comida e bebida!
- Oh, que boa criança é você, Chapeuzinho! - respondeu a velha, sorridente. - Puxe o ferrolho da porta e entre, queridinha!

O lobo abriu a porta e, antes que a velha pudesse gritar por socorro, saltou sobre ela e a devorou em um minuto. Em seguida, pensou consigo mesmo:
- Se aquela guria me ver assim, vai correr antes que eu possa pôr as patas nela. Preciso de um disfarce!

Assim sendo, abriu o guarda-roupas da casa e tirou de lá um pijama florido. Vestiu-o e se cobriu com os cobertores na cama. Minutos depois, ouviu algumas batidas de leve na porta e perguntou, imitando a voz da velha:
- Quem é?
- Sou eu, vovó! - respondeu a menina, na soleira da porta. - Sua netinha, Chapeuzinho Vermelho! Soube que a senhora adoeceu, então vim trazer uma cesta com comida e vinho, como a minha mãe me pediu.
- Oh, que boa criança é você, Chapeuzinho! Puxe o ferrolho e pode entrar, queridinha!

A menina abriu a porta e entrou no chalé com sua cesta e um colorido buquê de flores. Fitando-a debaixo das cobertas, o malvado a disse, ainda fingindo ser a avó dela:
- Deixe a cesta em cima da mesa e venha se deitar comigo, minha netinha! Está muito aconchegante aqui.

Chapeuzinho obedeceu sua "avó" e foi até a cama para se deitar com ela. Ao se aproximar, porém, notou algo estranho:
- Puxa, vovó, que olhos grandes você tem!
- São para te ver melhor, minha netinha!
- E que orelhas grandes você tem!
- São para ouvir melhor o que você diz, minha netinha!
- E... que boca grande você tem!
- É para te devorar! - rosnou ele, lambendo os beiços.

Ao perceber o perigo, a menina deu um grito e tentou fugir, mas o lobo já esperava isso e a agarrou com facilidade. Em seguida, ele a devorou inteirinha em pouco tempo.

De barriga cheia, o vilão foi acometido por um forte sono e não resistiu a tirar uma soneca na espaçosa e macia cama que havia ali. Então se deitou e começou a roncar alto em pouco tempo.

Horas depois, um caçador que voltava para casa por aquela estrada acompanhado de seu cão passou em frente à casa. O cachorro subitamente farejou algo no ar e começou a latir, olhando para o chalé.
- Que estranho... - pensou o homem. - Até onde me lembro, quem mora nessa casa é uma velhinha! O que esse cachorro está farejando aí, então?

Ele mandou que o cachorro ficasse quieto e decidiu se aproximar do chalé para ver o que havia de errado lá. Foi aí que começou a ouvir os roncos do lobo e ficou perplexo:
- Céus, onde já se viu uma velha senhora roncar tão alto assim? Preciso entrar aí e ver o que há com a coitada!

Ele então entrou ali sem fazer barulho e logo percebeu quem realmente estava deitado na cama. Furioso, ele pensou:
- Ora, um lobo! Esse covarde deve ter comido a pobre velhinha! Preciso fazer algo!

Ele silenciosamente começou a vasculhar as gavetas do criado-mudo e achou uma tesoura bem afiada. Corajosamente, ele se pôs a abrir a barriga da fera, tomando cuidado para não acorda-la.

Pouco depois, lá estavam Chapeuzinho e sua avó, ambas assustadas e desorientadas. As duas abraçaram-se e agradeceram profundamente ao caçador, que teve uma ideia:
- Vamos lá fora pegar quantas pedras conseguirmos! Alguém precisa dar uma lição nesse lobo cruel!

Foi isso que fizeram. Os três coletaram dúzias de pedras e as levaram para dentro. Lá, colocaram todas dentro da barriga do vilão. Em seguida, a avó usou uma agulha e fio para recosturar a pança do lobo e, após isso, os três foram embora dali ás pressas.

Horas depois, o vilão despertou, soltou um longo bocejo e, quando foi se levantar, não teve força o bastante.
- Caramba, aquelas duas estão pesando mesmo no meu estômago! Acho que preciso de um pouco de água!

Dito isso, foi até o quintal, onde havia um poço. Ao tentar se debruçar para beber água fresca, não conteve seu próprio peso e acabou caindo para dentro de lá e morreu afogado.

Depois daquele dia, a menina aprendeu a importância de não conversar com desconhecidos. A avó não tardou a se curar e todos viveram felizes para sempre.

                            FIM

Contos de FadasWhere stories live. Discover now