João e Maria

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Há muito tempo atrás, em uma humilde cabana enfurnada no bosque, vivia um lenhador, sua esposa e seus dois filhos: Um menino chamado João e uma menina chamada Maria.

O homem trabalhava duro todos os dias, mas raramente conseguia garantir comida suficiente para sua família. Normalmente, os quatro comiam apenas pão duro e bebiam água, isso quando tinham o que comer.

Uma noite, sua esposa o chamou para conversar a sós no quarto e lhe disse, com um semblante desesperado:
- Querido, não aguento mais passar tanta fome todo santo dia! E tenho certeza que você mesmo também não! Somos pobres demais para criar duas crianças, mal temos conseguido comida para nós dois!
- E o que sugere que eu faça? - indagou ele em resposta.
- Não é óbvio? Leve os dois até a floresta e deixe-os lá! Aposto que alguma família mais endinheirada os achará em pouco tempo e cuidará deles!

De início, o lenhador achou aquela ideia absurda e relutou fortemente em obedecer a mulher. Mas ela tanto se descabelou e suplicou que ele não viu outra alternativa.

No dia seguinte, chamou os dois e lhes disse:
- Meus filhos, vão se vestir pois hoje vou precisar da ajuda de vocês no trabalho! Vocês dois vão me ajudar a carregar lenha da floresta para cá, entenderam bem?

Os dois assentiram e foram trocar de roupa. Antes de ir, João foi até a despensa e pegou um pedaço do pouco pão que tinham. Ele costumava largar migalhas pelo chão quando iam andar pelo bosque, para saber o caminho de volta caso se perdessem. E naquele dia não foi diferente.

Ao cair da tarde, os três pararam em uma clareira no coração da mata. O homem se virou para eles e, segurando-se para não chorar, os disse:
- Minhas crianças, não saiam daqui enquanto eu não voltar. Vou cortar madeira no mato e depois vocês me ajudam a carregar tudo na volta.

Antes que um dos dois pudesse protestar ou perguntar algo, o lenhador havia se embrenhado entre as árvores e sumido. Ao invés de fazer o que disse, ele apenas voltou para casa, às lágrimas, conforme sua esposa o pedira.

Os irmãos permaneceram ali, sozinhos, esperando a volta do pai. Mas escureceu e nem sinal do homem.
- João, estou com frio... e com fome também! - Maria choramingou.
- Fique calma, maninha. Papai deve voltar em breve.
- Mas já está anoitecendo! - a menina protestou. - Não é seguro ficarmos sozinhos aqui nesse bosque!
- Não se preocupe. - disse João. - Vamos apenas seguir a trilha de migalhas que fiz na vinda para cá. Estaremos em casa logo, logo.

Os dois começaram a seguir a trilha feita por ele, com certa dificuldade por causa da escuridão da noite. Até que viraram um curva e se depararam com uma dúzia ou mais de pássaros que ciscavam as migalhas. Os irmãos afugentaram as aves depressa, mas tarde demais. A trilha estava desfeita. Maria começou a chorar e João se pôs a insultar os pássaros, furioso.

Desamparados, os dois não tiveram opção a não ser saírem andando sem rumo pela floresta, à procura do pai. Meia hora depois, quando as crianças já não aguentavam mais de tanta fome, frio e cansaço, viram uma luzinha fraca que brilhava entre as árvores.

- Veja, João! - Maria exclamou, apontando para lá, esperançosa. - Deve ter alguém morando ali! Por que não vamos até lá pedir ajuda?
- Boa ideia, maninha. Quem sabe o dono da casa possa até nos dar um pouco de comida.

Os dois foram até lá e chegaram a uma casinha enfurnada entre as árvores. Quando iam bater à porta, notaram algo muito incomum na casa:
- Maria! Você está vendo o que estou vendo? - perguntou o garoto. - Essa casa... essa casa é feita de doces!

E era verdade. As paredes eram de chocolate, o telhado era de suspiro e a porta era de caramelo. Os dois não resistiram e começaram a comer pedaços da casa, famintos como estavam. Nem perceberam quando uma senhora bem idosa saiu da casa e ficou observando-os em silêncio.

Contos de FadasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora