O lenhador e o leão

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Um lenhador voltava para casa depois de trabalhar por um longo dia quando passou em frente a uma jaula de ferro onde estava preso um enorme leão. Ao vê-lo, a fera suplicou:
- Ei, amigo! Eu imploro! Tire-me daqui! Uns caçadores me prenderam aqui e vão voltar a qualquer hora para cortarem minha pele! Tire-me daqui!
- E como vou saber se você não vai me devorar? - questionou o homem, desconfiado.
- Ora, mas o senhor realmente acha que eu, o rei da selva, cometeria a injustiça de comer meu próprio salvador? Eu jamais faria isso!

Convencido e com pena do leão, o lenhador sacou seu machado e golpeou o cadeado da jaula, abrindo-a. Assim que se viu livre, porém, a fera saltou sobre ele e arreganhou os dentes, lambendo os beiços. Em pânico, o homem começou a gritar, caído no chão:
- Ei, você prometeu que não me faria mal! Eu te salvei! Seja grato!
- Que grato que nada! - rosnou o animal em resposta. - O bicho homem não merece a gratidão de ninguém!
- Mas como assim?! Isso não é justo!
- É muito justo!

Os dois discutiram por tanto tempo que o leão acabou cedendo e propôs:
- Está bem, seu covarde. Vamos pedir a opinião de cinco animais e nada mais que isso. Se um deles achar que você tem razão, você pode ir embora.

O lenhador agradeceu a generosidade e foram andando juntos pela floresta, atrás dos animais. Logo encontraram um velho cavalo e lhe explicaram o caso. Com sua voz grossa e imponente, ele contou:
- Desde filhote, ajudei meu dono servindo-lhe de montaria e carregando seus pertences. Mas agora que estou velho e não tenho mais serventia para ele, ele não quer mais perder tempo me alimentando e cuidando de mim. Agora estou aqui, perdido no meio do mato e faminto. O bicho homem não merece a gratidão de ninguém!

O leão deu uma gargalhada maldosa e seguiram caminho atrás dos outros quatro animais. Logo encontraram uma perdiz ciscando minhocas e lhe explicaram o caso. Com sua voz aguda, ela contou:
- Nunca em minha vida atrapalhei nenhum homem. Nunca roubei grãos de nenhum silo, nem quando mais estava faminta. Mas quando eles me veem, soltam seus cães atrás de mim ou até tentam me acertar com tiros de escopeta! Isso quando não roubam meus ovos para comer! O bicho homem não merece a gratidão de ninguém!

O leão deu uma gargalhada maldosa e seguiram atrás dos outros três animais. Logo encontraram uma rã na margem de um riacho e lhe explicaram o caso. Ela contou:
- Sou uma criatura muito tranquila. Não faço mal a ninguém e fico aqui em meu riacho, apenas comendo moscas, que o bicho homem tanto detesta. Mesmo assim, eles estão sempre atrás de mim, querendo cortar minhas perninhas para cozinhar! O bicho homem não merece a gratidão de ninguém!

O leão deu uma gargalhada maldosa e seguiram atrás dos outros dois animais. Logo encontraram um grande boi pastando e lhe explicaram o caso. Com sua voz grossa e imponente, ele contou:
- Sempre ajudei o fazendeiro, puxando o ancinho para ele e carregando palha e lenha. Minha esposa sempre forneceu leite a ele de bom grado. E mesmo assim, ele quis me matar para comer minha carne. Tive que fugir da fazenda para me salvar e agora estou aqui, longe de minha esposa. O bicho homem não merece a gratidão de ninguém!

- Viu só, seu pateta? Se prepare para ser meu almoço! - rosnou o leão, voltando-se para o lenhador, que suava frio.
- Ei, espere! - defendeu-se o homem. - Havíamos combinado cinco animais! Só falamos com quatro até agora!

O leão, confiante de que o próximo animal teria a mesma opinião que os outros, aceitou continuar na busca. Logo, encontraram uma raposa passeando pela mata e lhe explicaram o caso. Ela se pôs a pensar consigo mesma e perguntou, com sua voz discreta:
- Como é a história? O leão tirou o lenhador de uma jaula?
- Foi o contrário! - explicou o homem, temeroso pela resposta dela. - Eu estava voltando para casa e o vi preso numa jaula!
- Jaula? - indagou ela, olhando para os lados. - Não estou vendo nenhuma jaula!
- É porque a jaula está lá atrás! - irrompeu o leão, impaciente.
- Lá atrás? Então porque não vamos lá conversar? - sugeriu ela, calmamente.

Os dois não entenderam a ideia da raposa mas aceitaram e a levaram até lá. Chegando lá, a raposa disse:
- Ah, agora estou vendo! Quem era mesmo que estava na jaula?
- Era eu, droga! - respondeu o leão, perdendo a paciência. - Esse patife estava passando aqui em frente quando eu pedi a ajuda dele!
- E o que o senhor fazia aqui? - perguntou ela ao lenhador.
- Eu estava voltando para minha casa! Acho que já lhe expliquei isso! - ele respondeu, temendo que o leão ficasse nervoso.
- Ah, me perdoem! Sou muito distraída! - a raposa comentou, sorrindo. - Mas se o leão estava na jaula e queria sair, porque não a abriu?
- Você é burra ou o quê?! - esbravejou o leão. - A jaula estava trancada! Veja!

Dito isso, o leão marchou para dentro da jaula e bateu a portinhola atrás de si, zangado.
- Entendeu agora?! - ele perguntou.
- Mas a jaula não está trancada! Não estou entendendo!

Antes que o leão perdesse o controle, o homem se voluntariou para trancar a jaula, a fim de que ela entendesse melhor.
Quando se deram conta, a fera estava novamente trancafiada na jaula. Imediatamente, a raposa virou-se para o lenhador e lhe disse, sorridente:
- Prontinho, meu caro. Agora este valentão não vai mais importunar ninguém!

Enquanto o leão urrava de ódio na jaula e jurava se vingar, o homem, feliz da vida, levava a raposa até sua casa para recompensá-la com uma galinha.

FIM

Contos de FadasWhere stories live. Discover now