O alfaiate valente

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Há muito tempo atrás, em um pacato vilarejo, vivia um jovem alfaiate que morava sozinho em sua cabana. Ele passava seus dias costurando roupas para o povo dali.

Certa vez, depois de trabalhar, o alfaiate sentiu seu estômago roncar e foi até a dispensa. Pegou um pote de geleia fresca e um punhado de pão e começou a passar a geleia no pão, sem economizar. Foi aí que ele começou a escutar alguns irritantes zunidos que vinham de todo lado. Quando olhou novamente para sua comida, viu que várias moscas haviam pousado na geleia. Enojado, ele pegou um pano de prato e o agitou com força na direção dos insetos, exclamando:
- Xô, pragas! Até perdi o apetite!

Ao se acalmar, percebeu que não havia sobrado uma única mosca. Surpreso com sua própria agilidade, ele resolveu contar as moscas mortas na mesa:
- Uma...duas...três... puxa vida! Matei sete num só golpe! - ele constatou, sorrindo. - Isso merece alguma celebração!

Entusiasmado, ele se esqueceu do pão e voltou correndo até sua oficina. Lá, produziu um elegante cinturão de couro com a seguinte frase bordada: Eu matei sete num só golpe. Mais orgulhoso do que nunca, ele trajou o cinturão, pegou uma fatia de queijo para comer depois, pegou seu canário de estimação e o acomodou no bolso da calça e saiu caminhando pela estrada, ansioso para ver como as pessoas reagiriam ao saber da sua façanha. Porém, estava tão imerso nos próprios pensamentos que começou a se afastar do povoado e nem percebeu.

Mais à frente na estrada, descansando sob a sombra de uma frondosa árvore, estava um enorme gigante. Ao ver o alfaiate se aproximando, logo notou a escritura em seu cinturão e pensou que aquela frase falava de sete homens, e não moscas. Então começou a rir, debochando:
- É mesmo verdade isso que está escrito no seu cinturão, rapaz? - ele perguntou, em tom desafiador, com sua voz de trovão.

Ao ouvir aquela voz tão grave e ao ver aquela figura imensa à sua frente, o pobre alfaiate levou um susto tão grande que pulou alto. Depois de se recompor, ele respondeu, tentando demonstrar bravura e orgulho:
- É a mais pura verdade, amigo! E se quer um conselho: Não brinque comigo!

Intrigado com a ousadia do homem, o gigante respondeu, agora com raiva na voz:
- Está achando que alguém minúsculo como você me dá algum medo?! Eu devoro sujeitinhos atrevidos como você no café da manhã! E estou começando a achar que você vai ser o próximo!
- Pois o senhor só vai me devorar se me vencer em um desafio! Quero ver qual de nós dois tem mais força! Pegue algo no chão e tente esmagar!
- Sem problema algum! - respondeu o monstro, agarrando uma rocha maior que o próprio alfaiate e a esmigalhando em dezenas de pedregulhos.
- Que ridículo! - desdenhou o herói, rindo. - Francamente, não achei que você fosse precisar de duas mãos para esmagar uma simples pedra! Veja o que eu faço com esta aqui!

Dito isso, tirou a fatia de queijo do bolso e a espremeu com uma mão só, fazendo gordura escorrer entre seus dedos.
- Está vendo, amigo? - alfinetou o rapaz, sorrindo. - Você apenas despedaçou a sua, e com as duas mãos. Mas eu, forte que sou, usei apenas uma mão e até fiz água escorrer da minha pedra!

Embasbacado, o gigante não notou o truque e começou a se sentir um pouco intimidado pelo alfaiate. Então retrucou:
- Certo, o senhor é bem forte, eu admito! Mas tenho um desafio também! Quero ver qual de nós dois consegue arremessar mais longe uma pedra!

Dito isso, o monstro pegou uma pedra do chão e a atirou na direção do horizonte. A pedra caiu a alguns quilômetros de distância.
- Ora, não imaginei que alguém grande como você fosse tão fraco! - desdenhou o oponente, rindo. - Vou te mostrar como se arremessa uma pedra!

Dito isso, tirou seu canário do bolso e o soltou. O passarinho saiu voando livremente e sumiu no horizonte. Impressionado, o gigante novamente caiu no truque. Mas ainda estava com muita vontade de comer o alfaiate, então sugeriu:
- O senhor tem mesmo uma força descomunal para alguém do seu tamanho...mas tenho um último desafio! O que acha de carregarmos juntos uma árvore por aí? Quem se cansar primeiro perde!
- Sem problema algum! - retrucou o jovem, tentando esbanjar confiança. - Escolha uma árvore, amigo!
- Eu escolho esta nogueira aqui! - determinou o gigante, arrancando-a do chão. - Venha carregá-la comigo!
- Certo, segure-a pelas raízes enquanto eu vou segurando a copa! - respondeu o alfaiate, com um sorriso maroto no rosto.

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