O Flautista de Hamelin

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Há muito tempo atrás, no interior da Alemanha, existia uma próspera e tranquila cidade chamada Hamelin. Contudo, houve um dia em que a paz local foi abalada por uma severa infestação de ratos.

Ninguém sabia dizer o que estava causando aquilo, só o que se sabia era que ratos de todos os tipos e tamanhos eram vistos correndo de um lado para o outro em qualquer lugar na cidade. Na padaria e na feira, eles subiam nas estantes e invadiam as dispensas atrás de comida. Nas lojas, eles derrubavam produtos das prateleiras e causavam uma grande bagunça. Nas casas, eles comiam tudo o que fosse comestível e ainda vagavam pelos quartos das pessoas sem deixar elas dormirem em paz.

Apavoradas, as pessoas que ali viviam tentaram de tudo para dar um fim ao problema: Uns armaram ratoeiras em todo o canto da cidade, mas haviam dez roedores para cada armadilha. Os que tinham cães ou gatos em casa os soltaram para que estes caçassem os pequenos invasores, mas os ratos eram tantos que a maioria dos cães e gatos nem teve coragem de enfrentá-los.

Sem saberem mais o que fazer, os habitantes de Hamelin protestavam em frente à prefeitura, cobrando o prefeito por alguma solução. Este, por sua vez, estava tão desnorteado quanto o próprio povo. À beira das lágrimas, ele foi até o centro da praça central da cidade e clamou para todos ouvirem:
- Eu, prefeito de Hamelin, declaro que aquele que conseguir livrar nossa linda cidade desta maldita infestação será recompensado com dez sacos de ouro!

Depois daquele anúncio, o falatório foi geral. Muitos queriam pôr as mãos naquela riqueza, mas não tinham ideia de como eliminar todos aqueles ratos.

Horas depois, o prefeito se encontrava sentado em seu gabinete tentando pensar em alguma saída para o problema quando ouviu batidas na porta. Prontamente, foi atender.

Quem estava lá era um jovem rapaz que usava roupas simples e trazia consigo uma flauta de madeira.
- Quem é você, filho? - indagou o prefeito ao vê-lo.
- Boa tarde, senhor prefeito, sou apenas um humilde flautista. E estou bastante interessado na oferta que o senhor fez hoje mais cedo.
- Ora, está dizendo que sabe como nos tirar dessa situação?! - questionou o prefeito, de olhos brilhando.
- Claro que sei! - respondeu o rapaz, sorrindo. - E queria pedir sua autorização para pôr meu plano em prática.

O prefeito aceitou, feliz da vida. E lá se foi o jovem com sua flauta até a rua. Lá chegando, subiu em cima de um banco e começou a tocar uma linda melodia com sua flauta.

Aos ouvidos dos humanos, aquela parecia apenas uma bonita sinfonia, porém nos ratos, aquilo surtiu um efeito inacreditável: Cada roedor na cidade, ao escutar o som da flauta, parou imediatamente o que estava fazendo e correu até perto do rapaz, como que querendo escutar melhor sua música. Ratos hipnotizados saíam de canos, telhados e janelas só para contemplar a música mágica. Mesmo aqueles que estivessem degustando um pedaço de queijo ou fruta instantaneamente se esqueciam da comida e iam junto com os outros.

Assim que todos os ratos pareciam estar por perto, o flautista começou a se afastar da praça central e ir em direção à entrada da cidade. Nisso, todos os animais hipnotizados iam seguindo-o até lá. Após cruzar o portão principal da cidade, o rapaz guiou os ratos até um rio caudaloso que corria perto de Hamelin.

O flautista então entrou de pé na água do rio, fazendo os roedores mergulharem na água e serem levados pela correnteza. Em alguns minutos, todos os ratos haviam se afogado.

Quando perceberam que estavam finalmente livres da infestação, o povo de Hamelin não se aguentou de alegria. Pessoas vinham correndo de todo canto abraçar o flautista e agradecê-lo de joelhos.

Pouco depois, o flautista foi até a prefeitura comentar com o prefeito sobre seu sucesso. Ao ficar sabendo daquilo, o prefeito ficou maravilhado:
- Nossa cidade será eternamente grata a você, meu rapaz! - ele disse, emocionado, enquanto apertava a mão do flautista com as duas mãos.
- Senhor prefeito... - começou o rapaz, sorrindo de leve. - Foi um prazer ajudá-los mas... e quanto aos dez sacos de ouro?

Ao ouvir aquilo, as feições do prefeito derreteram na mesma hora. De cara amarrada, ele tentou mudar de assunto mas o jovem o deteve, dizendo:
- Senhor prefeito, o senhor fez uma promessa! Onde já se viu um prefeito não cumprir com sua promessa?!

O homem suspirou e o respondeu, encarando-o com um olhar mau-humorado:
- Só o que posso lhe oferecer como recompensa são dez moedas de ouro, meu jovem.
- Dez moedas?! - questionou o outro, incrédulo. - Mas o senhor havia prometido dez sacos!
- Escute aqui, meu rapaz: Eu não posso ceder dez sacos de ouro a alguém por ter tocado uma flauta! Se dez moedas não lhe interessam, então que não receba dinheiro algum!
- Sabe de uma coisa?! - irrompeu o flautista, furioso. - Eu jamais deveria ter ajudado esta cidade! O senhor não passa de um corrupto sovina! É uma pena que as crianças daqui irão crescer recebendo influência de gente como você!

Nesse momento, os guardas do prefeito notaram o atrito entre os dois e resolveram intervir. Nisso, agarraram o rapaz e o arrastaram até a rua. Em seguida, ainda ameaçaram prendê-lo caso ele voltasse a importunar o prefeito e bateram a porta.
- Isso não vai ficar assim! - bradou o flautista, enfurecido, antes de ir embora batendo os pés.

Naquela noite, quando todos em Hamelin já haviam ido dormir e não se ouvia um único som na rua a não ser o vento soprando, o flautista apareceu por ali novamente. Uma feição vingativa estava estampada em seu rosto.

Foi então que ele começou a tocar sua flauta mágica com maestria novamente. Dessa vez, porém, os adultos da cidade não puderam escutar nada da música. Já as crianças, foram afetadas pelo som de forma sobrenatural, semelhante ao que ocorrera com os ratos. Dezenas de meninos e meninas se levantavam de suas camas sem fazer um único ruído e caminhavam em direção ao flautista, encantadas pelo som. Nenhuma delas pronunciava uma palavra sequer. Seria difícil dizer se sequer estavam acordadas. Mas todas seguiam o homem sem pestanejar, rumo à saída da cidade.

Mais e mais, o flautista foi conduzindo suas crianças, noite adentro, para longe de Hamelin...

Na manhã seguinte, quando todos começavam a se levantar para irem trabalhar, os pais e avós de toda Hamelin deram pela ausência de suas queridas crianças. Ao ficar sabendo do paradeiro da garotada, o prefeito logo se deu conta do que havia acontecido e, cheio de remorso, sentou-se em sua cadeira e se pôs a chorar desconsoladamente.

Conforme os dias se passaram, a cidade toda mergulhou num triste silêncio e uma atmosfera de desesperança pairou sobre Hamelin. Afinal, sem crianças por ali, quem haveria de cuidar da cidade no futuro?

Até hoje, na cidade de Hamelin, por mais que se procure em todo canto, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.

                                     FIM

Contos de FadasWhere stories live. Discover now