Os três ursos

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Há muito tempo atrás, em um povoado próximo a uma densa floresta, vivia uma garotinha de cabelos enrolados e louros, que por esse motivo era chamada por todos de Cachinhos Dourados.

Cachinhos era uma menina muito curiosa e travessa e adorava se aventurar fora dos limites do povoado. Seus pais sempre a alertavam sobre os perigos que existiam nas florestas e estradas, ainda mais para uma criança como ela, porém ela nunca os dava ouvidos.

Certa vez, enquanto seu pai estava fora cortando lenha e sua mãe estava ocupada cuidando da casa, Cachinhos se cansou de brincar apenas no quintal da casa e resolveu ir explorar o bosque próximo. Ela andou e andou para dentro dele sem se preocupar com o que poderia haver lá.

Enquanto isso, em uma choupana enfurnada naquele mesmo bosque, vivia uma família composta por três ursos: Papai Urso, Mamãe Urso e Ursinho, o filhote do casal. Naquela tarde, a mãe da família preparou um belo ensopado de aveia e mel e o serviu em três tigelas, para cada urso. Porém, quando se sentaram para provar a iguaria, acabaram queimando a língua.
- Minha Nossa! - exclamou o pai, com sua voz grave e imponente. - Essa comida está muito quente!
- O que acham então de darmos um passeio pela floresta enquanto o ensopado esfria? - sugeriu sua esposa, olhando para os dois.

Pai e filho aceitaram, principalmente Ursinho, que adorava andar pelo bosque, cheirar as flores e correr atrás de coelhos e esquilos.

Assim sendo, os três se levantaram e saíram juntos de casa, animados em respirarem o ar puro das matas.

Pouco tempo depois, enquanto os três ainda estavam fora, Cachinhos Dourados acabou chegando até a soleira da casa, depois de saltitar alegremente e sem rumo pela floresta.
- Puxa, que casa bonita! - pensou ela. - Quem será que vive aí?

Curiosa como sempre, a menina bateu à porta. Como não havia ninguém em casa, ninguém a atendeu. Sem se dar conta de que não deveria fazer isso, a garota abriu a porta de leve e entrou, animada para conhecer a choupana por dentro e admirar a mobília.

Foi aí que ela sentiu o apetitoso aroma do ensopado.
- Puxa, o cheiro desse mingau está ótimo! Será que os moradores iriam se importar se eu tomasse um pouco dele?

Sem nem pensar muito nisso, a ingênua menina foi até a maior tigela e tomou uma colherada, porém o caldo estava fervendo. De língua queimada, foi experimentar o caldo da tigela média, que estava muito gelado. Depois, provou o caldo da menor tigela que estava ali, e achou tão saboroso que tomou tudo.

Em seguida, foi até a sala de estar e viu três poltronas ali.
- Qual será que é mais confortável? - pensou ela.

Então, ela se sentou na maior delas, que era muito grande para o seu tamanho. Tentou a do meio, que era muito dura. Por fim, sentou-se na menor cadeira, que rachou e quebrou com seu peso.

Envergonhada, Cachinhos resolveu ir conhecer outros cômodos da casa e subiu as escadas até o segundo andar, onde ficava o dormitório dos três ursos. Lá, viu três camas.
- Que camas grandes! Será que são confortáveis? - ela se perguntou.

Sem pensar nas consequências, ela se deitou na maior cama, que achou muito dura. Depois se deitou na cama do meio, que estava muito fria. Então resolveu experimentar a menor cama e a achou tão confortável que pegou no sono e dormiu ali mesmo.

Algumas horas se passaram, a família de ursos finalmente retornou do passeio. Ao chegarem, foram logo almoçar e notaram algo estranho:
- Ei, alguém tomou do meu ensopado! - urrou o Papai Urso, zangado.
- Alguém também tomou do meu! - queixou-se a Mamãe Urso, intrigada.
- E alguém tomou tudo que tinha na minha tigelinha! - choramingou o filhote.

Confusos, os três foram até a sala ver se havia alguém na casa. Lá, também notaram algo estranho:
- Ora, alguém se sentou na minha poltrona! - urrou o pai.
- Alguém também se sentou na minha! - queixou-se a mãe.
- Puxa, vida! A minha está até quebrada! - choramingou o Ursinho, tristonho.

- Céus, será que alguém entrou aqui enquanto estávamos fora? - indagou a Mamãe Urso, preocupada.
- Se o intruso ainda estiver aqui, sem dúvida está no segundo andar! - concluiu o marido.

Os três então subiram as escadas, atentos à qualquer ruído. Ao entrarem no dormitório, logo notaram que suas camas também estavam diferentes:
- Alguém teve a ousadia de se deitar na minha cama! - rosnou o Papai Urso, com raiva.
- Alguém bagunçou meus lençóis! - queixou-se a Mamãe Urso, zangada.

Ao verificar sua cama, Ursinho teve uma surpresa:
- Papai! Mamãe! - chamou ele, assustado. - Tem alguém dormindo na minha cama agora mesmo!

Papai Urso se adiantou e puxou as cobertas de supetão. Mas os três ficaram surpresos ao verem que se tratava apenas de uma garotinha. Cachinhos, por sua vez, acordou na mesma hora e ficou pálida de medo ao ver aqueles três ursos olhando para ela.

- Quem é você e o que está fazendo na nossa casa?! - perguntou o urso, confuso.

Em pânico, a menina simplesmente começou a berrar de pavor e levantou-se da cama, às pressas. Sem ter para onde fugir, saltou pela janela do quarto e saiu correndo pelo mato, até sumir de vista. Os três ursos se entreolharam, sem entenderem nada.

Depois daquele dia, Cachinhos Dourados nunca mais saiu do povoado sozinha e passou a dar mais ouvidos aos conselhos de seus pais.

                                  FIM

Contos de FadasWhere stories live. Discover now