28. Traga o vinho, eu levarei as recordações.

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Eu sei que o paraíso existe, eu vou até lá quando você me toca, querido. A religião está nos seus lábios, o altar é o meu quadril.

Posso dizer que meus pés marcavam o piso rústico do salão de entrada da mansão Vitale em modo automático. Para a minha tristeza, meus tênis estavam encharcados pela água do lago, e agora deixavam vestígios do acontecimento anterior. Eu temia desagradar o dono, levar uma bronca ou passar vergonha. No entanto, do lago até aqui, Dândi veio me acalmando. Eu sabia quem residia aqui, realmente sabia, contudo, a ficha não queria cair de que eu, finalmente, conheceria Olavo Mancini Vitale, o príncipe vampiro e tio de Daniel.

Oh, é definitivamente novo para mim todas essas sensações que eu sinto em estar envolto nessa nuvem que foi a minha vida passada e a que é agora. E para bagunçar ainda mais a minha cabeça, tinha a imortalidade de Dândi.

Por Deus, não havia um dia em que eu não me espantasse com isso. Céus, que mundo é esse?

— Chéri, você deveria acalmar um pouco mais seus pensamentos, se assim conseguir. Preocupo-me com isso, por vezes eu me questiono se eles não te sufocam. — Na ponta entre a saída do salão e a entrada para a sala, Dândi murmura.

Sua mão está na maçaneta da extensa e pesada porta marrom, seus sapatos – também encharcados, estão em sua palma esquerda. Ele quase me convenceu a fazer o mesmo, no entanto, eu sou agoniado em ficar descalço. Preferi enfrentar uma possível gafe em nome de não ter TOC.

— Vem cá, Daniel, você realmente lê mentes? — Indago, cruzando meus braços.

Um sorriso ladino é atirado em minha direção, eu o sinto como um tiro de espingarda, então Dândi larga a maçaneta da porta e pede minha mão, eu a estendo, ele a segura e me leva para distante de onde estávamos. De volta ao salão de entrada, encaro as estátuas, além de quadros e pinturas excêntricas. A mansão beira a um castelo, posso imaginar que Olavo desejou manter suas origens, o que é muito bonito e significativo.

— Sim, eu leio, sempre li. É inevitável e um pouco fora de meu controle, exige muito esforço para que eu não leia, por isso, desde que nós nos reencontramos eu venho pedindo para que você tome cuidado com seus pensamentos. — Explica. Entreabro minha boca, puxando o ar.

Jesus de ré para Salomé.

Minha Nossa Senhora.

Imagine tudo o que esse homem descobriu sobre mim apenas lendo minha cabeça agitada? A realidade simplesmente estapeia o meu rosto, não me dando oportunidade alguma para uma crença no contrário. Eu não saberia medir o nível de vergonha que estou sentindo, mas aposto as minhas fichas que a vermelhidão em minha face expõe o que sinto em descobrir que ele soube de absolutamente tudo o que eu devaneava. Ele sempre soube.

— Oh...

Socorro, meu Deus.

— Não fique com vergonha. — Ele dedilha meu queixo. — E não peça por socorro a Deus, per favore, não saia de moda.

— Dândi! — Sento um tapa em seu braço. — Não fale assim de Deus.

Prestes a me refutar, o vampiro é interrompido quando a porta pela qual passaríamos é aberta, revelando a figura de uma mulher jovem. Semicerro meus olhos, tentando identificá-la, pois não me é estranha.

— O que aconteceu aqui? — Questiona, analisando nosso estado.

Aperto meus lábios, envergonhado. Não posso nem mesmo culpar Dândi quando fui eu a nos jogar contra o lago.

— Tomamos um banho, nada demais. — Dân retruca. — Charlotte, este é Park Jimin. Jimin, esta é Charlotte Bianchi, líder da Rock Máfia aqui na Itália.

ROCK MÁFIAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora