Acidente

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03/05/2013 - Londres, estação ferroviária, 12:40 pm.

Mais um dia útil naquela merda de plataforma esperando o último metrô da noite, eu estava cansada e com o corpo dolorido, a bolsa de ombro contribuía para meu torcicolo do lado direito, a faculdade de direito não ajudava também...tinha que levar e trazer livros grossos, então o peso era inevitável.
A luz da plataforma piscou, um pouco incomodada, olhei ao redor, e só tinha eu ali, uma única alma viva, o silêncio estava começando a assustar e um arrepio passou por minha espinha, andei até a linha amarela no chão e estiquei a cabeça para fora dali, afim de ver se meu transporte já estava chegando, não vi nada.
- Você parece cansada. - dei um pulo para o lado ao ouvir a voz, ao observar a pessoa, pude notar um homem de meia idade.

- O senhor surgiu de onde?! Me assustou para caramba...- coloquei a mão no peito sentindo o coração acelerado. O homem riu nasal e colocou as mãos para trás, tinha algo de errado com ele. 

- Está chegando. - disse, pude ouvir o barulho dos trilhos.

- Ainda bem. - respondi repetindo o ato de mais cedo, ultrapassando a linha amarela e esticando a cabeça além . Ato falho.

Muito falho.

Ao mesmo tempo que o farol do metrô iluminava meu rosto, a mão do homem empurrava minhas costas e eu tomava consciência do que estava acontecendo. Ele havia me empurrado. E o metrô estava a poucos cinco metros de mim, ao cair minha cabeça doeu e consegui ouvir até mesmo o som de algum osso quebrar...e depois, pura escuridão.

E depois, um nada, um frio de estremecer e só.



03/05/1813 - Inglaterra, 08:21 AM

Propriedade  Relish.

Soltei um grito ao sentar na cama em um automático, aquilo tinha sido um sonho, graças a Deus. Esfreguei meus olhos ainda embaçados e suspirei aliviada, deitei a cabeça no travesseiro novamente, e encarei o teto.
Teto? Aliás, cadê o teto? A única coisa que estou vendo é um mosquiteiro rosa claro.
Sentei novamente e observei o quarto, branco, com uma janela gigantesca do lado esquerdo, em frente a cama, uma penteadeira de madeira e o chão era de tábuas.
Jesus Cristo onde eu estou?
Andei até a janela... carruagens? Cadê o asfalto das ruas? Era tudo calçado de pedras, e as pessoas ali usavam roupas formais e elefantes, como se fosse no estilo antigo.

- Que bom que acordou, querida! - me virei rapidamente para a porta, uma mulher que era igual a minha mãe apareceu ali.

- Que roupa é essa?

- Nossa...- ela parou subitamente e alisou o vestido lilás que usava, seu cabelo estava preso de forma bonita e pelo visto ela estava sem as unhas postiças...- Não gostou? Pedi para a apresentação de hoje.

- Apresentação?

- Se esqueceu, Stella? - ela sorriu tombando a cabeça para o lado. - Hoje  será a apresentação das debutantes a rainha, e se tudo correr bem, você tem muitas chances de se tornar o diamante da temporada!

- Diamante?

- Vai ficar repetindo cada palavra minha? O que deu em você? Bateu com a cabeça? - ela tocou meus ombros e deslizou as mãos até às minhas. - Está nervosa não está?

- Sim...- concordei, minha cabeça estava a mil, aquela mulher era minha mãe ao mesmo tempo que não era, e esse lugar com certeza não era minha casa, e muito menos o meu tempo, então é assim? Eu morro esmagada por um trem e vou parar em sei lá que ano? Debutante? Rainha?
Isso só pode ser um pesadelo, ou até mesmo o inferno.

- Coloque um robe e vá tomar seu desjejum, não demore, as amas irão te arrumar. - ela beijou minha bochecha e andou com graciosidade até a porta, me deixando sozinha novamente.

Feitos um para o outro - Antony BridgertonWhere stories live. Discover now