Como uma carta sincera nas mensagens

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É claro que ela tinha ido para a casa de Alexandra. E é claro que ela não iria ficar lá por muito tempo.

Quando Melanie saíra de casa naquele dia, logo antes do almoço, ela percebera duas coisas:

A primeira era que ela não tinha pra onde ir. Ninguém da sua família a acolheria pois, além de brigarem com ela por ter fugido de casa como uma criancinha com raiva, ainda fariam com que ela fosse obrigada a voltar.

E a segunda, era que ela não iria sobreviver por muito tempo se não fosse pra algum lugar seguro. Não com o tipo de olhar que ela atraía das pessoas, principalmente das más intencionadas.

E com isso, de forma assustadoramente automática, ela pegara o ônibus e fora para a casa da sua amiga. Mas não sem antes de mandar uma mensagem para Pucca, seu... Hum... Seu amigo/braço direito que a ajudava sempre em questões profissionais.

Quando ela desceu do ônibus no bairro de Alexandra, a ficha dela finalmente tinha caído.

Caramba, ela tinha mesmo juntado uns trapos e saído de casa assim, sem mais nem menos?! Tudo por causa de uma discussão com a mãe?!

Ela suspirou e começou a andar, fechando o casaco cinza no corpo fortemente para se proteger do vento frio.

Não foi por causa de uma discussão com a mãe. Aquela mulher já não era mais a mesma há muito tempo. E o que ela tinha visto nos olhos dela... Melanie nunca a perdoaria por aquilo.

Ela não queria pensar naquilo, mas sua mãe estava... Era como se estivesse pior a cada dia. E agora descobrira que estava se envolvendo com drogas! Era só o que faltava!

E Ricardo... Era questão de tempo até ele tomar o controle naquela casa, já que sua mãe já não se mostrava tão capaz em alguns momentos. E o que seria do seu irmãozinho se ambos os pais fossem sem caráter e a irmã fosse uma inútil?

Quando chegou em frente a casa de Ali, ela piscou para afastar as lágrimas. Ela tinha aprendido com o tempo que chorar não adiantava nada.

Mas mesmo assim, mesmo sabendo disso, quando Ali abriu a porta e seu olhar surpreso passou para um de preocupação e questionamentos, Melanie não aguentou segurar o biquinho e as lágrimas por mais tempo.

- Ah, Mel... O que foi que aconteceu com você? - ela perguntou com uma voz triste enquanto a ajudava com a mochila pesada.

- Ali, Hope e eu queremos que... - Jenny surgiu na sala falando de forma animada, porém parou quando viu a situação.

- Depois a gente conversa, Jenny. Não é uma emergência, né? - Ali disse levando a mochila dela para um dos sofás da sala.

- ... Não...

- Então, agora a gente tem que ajudar a Mel a se acalmar. Vem, Mel. Senta aqui, vou fazer um chá de camomila pra você, ok?

Melanie assentiu e se sentou no sofá meio trêmula. E corou quando percebeu que Jenny a encarava.

Ela mordeu os lábios e tirou o celular do bolso e, vendo que Pucca ainda não tinha respondido sua mensagem, ela abriu a mochila e tirou de lá o seu caderninho de rascunhos e a sua caneta, começando a narrar a sua situação sem muitos detalhes para Alexandra poder saber.

Ela disse que não se dava, aliás, nunca se deu bem com o padrasto. Disse que a mãe raramente ficava ao lado dela diante de algumas situações sérias. Contou sobre seu irmãozinho e sobre não serem filhos do mesmo pai. Contou sobre não estar se dando bem com nenhum deles ultimamente, principalmente sua mãe. E então contou o que acontecera, obviamente ocultando o fato de que sua mãe estava como estava por influência de algum entorpecente que a deixara agitada logo de manhã cedo.

A Voz do AmorWhere stories live. Discover now