Morrendo de amores

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Para Melanie, contar a história da sua vida para os profissionais fora mais fácil do que contar para a avó. Muito mais. - Eles pelo menos estavam mais preparados. Sua avó, apesar de não aprovar algumas atitudes de Ricardo, com certeza nunca imaginou que seu genro seria capaz de cometer tamanha crueldade contra sua neta.

Por isso Melanie tinha medo de contar. E se ela não acreditasse? Pior, e se ela acreditasse e ainda jogasse a culpa nela como sua mãe costumava fazer?

"Eu joguei meu copo de água numa menina porque ela estava fazendo bullying com um colega meu e eu não gostei." - ela escreveu e mostrou para a avó, meio agitada batucando os dedos na capa do caderno.

- Bem, eles não me disseram isso quando ligaram mas explica muita coisa. - a avó lhe deu um olhar solidário e Melanie percebeu que havia um pouco de orgulho ali em meia toda aquela seriedade que a intimidava. - ...Mas não precisava brigar daquele jeito, minha filha... Você chegou aqui vermelha igual a um tomate. E se tivesse se machucado mais gravemente, hein? - ela continuou falando.

Melanie fingiu que estava ouvindo e escreveu outra vez:

"Preciso te contar uma coisa importante. A senhora vai acreditar em mim?"

Mel escreveu com as mãos já trêmulas de nervosismo, e sua avó leu em silêncio, franzindo as sobrancelhas.

- É claro, querida. O que é?

Os momentos a seguir foram difíceis. Melanie mal sequer conseguiu achar as palavras necessárias no seu vocabulário limitado para contar a história para a avó desde o começo. Mas ela se esforçou. Aquele seria um momento importante e decisivo para o que viria dali pra frente.

No final, com o coração na mão e totalmente sem jeito enquanto encarava a avó - que não tinha dito nada até agora - de soslaio, Melanie escreveu:

"Desculpa por despejar tudo isso na senhora tão de repente. Mas eu preciso de alguém do meu lado nesse momento para ser minha responsável enquanto sou menor de idade. Minha mãe não pode ser porque ela com certeza negaria tudo caso fôssemos ao tribunal.

Por favor, vovó, acredite em mim e fique do meu lado."

A avó leu e assentiu em silêncio antes de desviar o olhar com uma dureza incomum que lembrava um pouco a mãe de Melanie quando estava com raiva.

- Vovó vai com você resolver as coisas. - Ela disse de repente, com o mesmo tom carinhoso de sempre mas com a voz meio rouca - É claro que eu vou.

Depois disso, ela saiu meio aérea deixando Melanie sozinha na sala, ainda com o coração na mão.

Ela olhou para o seu irmãozinho deitado no sofá-cama do outro lado da sala com o celular em frente ao rosto e ele olhou de volta, como se já soubesse que estava sendo encarado.

Para despistar qualquer sinal de preocupação no olhar inocente dele, Melanie se forçou a dar um sorriso que com certeza saíra mais triste do que esperava, mas Samuel felizmente tomara aquilo como um "está tudo bem" típico da irmã, pois logo voltou a assistir seu vídeo no celular.

Mais tarde naquele dia, quando Melanie saiu do banho e foi para a área de serviço cuidar das suas roupas ainda meio tensa por tudo que tinha acontecido mais cedo, sua avó apareceu do seu lado de repente, em silêncio.

E a abraçou.

Melanie olhou para os lados meio sem jeito, meio surpresa. Mas correspondeu o abraço segundos depois, descansando o rosto no ombro frágil da senhorinha.

- Oh, querida... - ela sussurrou, e Melanie percebeu que estava chorando - Todo esse tempo... Queria que tivesse me contado antes... Eu devia ter percebido antes... Ah... - ela chorou.

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