Missão VII: Seguir em frente

89 8 1
                                    

Melanie não tinha muito o que fazer sem seu tablet para trabalhar.

Ela tinha trago a caneta, porém, pois poderia fazer algo no celular. E também tinha trago seu caderno de rascunhos. Poderia ficar escrevendo e inventando novos roteiros para as suas obras, porém ela infelizmente não estava com cabeça para aquilo - o que era bom por um lado, pois seus leitores sempre reclamavam quando ela levava as histórias para um lado mais sombrio, que era o que acontecia quando ela escrevia mesmo não estando num bom momento.

Então, sem muita escolha, ela caminhou silenciosamente pela casa, passando pelos quartos e ignorando os murmúrios vindos do quarto de Alexandra, que com certeza estava em ligação com Liam.

Ela sentiu falta de fazer aquilo. 

Abrindo a porta de trás facilmente puxando o trinco de dentro - pois aquela era uma casa brasileira típica dos anos sessenta e apenas a porta da frente fora trocada por uma nova, e que era igualmente elegante como aquela dos fundos -, ela saiu e se encolheu com o ventinho frio, puxando o robe pesado para se cobrir melhor.

Como era diferente... Como era diferente de estar em casa. Ali ela podia sair do quarto a hora que quisesse, andar pela casa e até ir no quintal sem ter medo de dar de cara com seu abusador. Ainda havia um pequeno receio sim, mas era tão pequeno que ela nem sequer dava atenção à ele. 

Será que será assim quando ela tiver a própria casa?

Ela saiu de cima dos chinelos e pisou descalça na grama curta, abaixando o olhar para ver os pés brancos se afundando no verde do quintal. 

Era daquilo que ela precisava. Paz, liberdade e um pouquinho do silêncio da natureza. Era pedir muito ter isso sempre?

Ela olhou em volta, vendo as pequenas florestas mais distantes. E por entre e atrás delas, algumas casinhas por entre as árvores. Ela sentiu que, se forçasse um pouco mais os olhos, poderia até mesmo ver uma família reunida na porta de casa conversando e rindo - pois os sons das risadas, com o silêncio daquela casa e com a ajuda do vento, foram soprados até ela. E isso a fez sorrir minimamente.

Mas seu pequeno sorriso se desfez quando ouviu um som vindo do mato. 

Com medo de ser alguma cobra ou qualquer outro bicho perigoso, ela pegou os chinelos e correu para dentro de casa, fechando a porta rapidamente ao mesmo tempo que tentava não fazer muito barulho.

Ok, ela queria um lugar como aquele para chamar de seu mas sem os bichos assustadores por perto.

Ela trancou a porta, calçou os chinelos e voltou para o quarto de hóspedes silenciosamente, indo direto para a cama macia que a esperava.

E para George, que naquele momento com certeza já tinha dito tudo o que queria dizer a ela.

Ela tinha dito demais. Tinha escrito muitas coisas para ele. E apesar de estar se sentindo mais leve depois daquilo, ainda havia uma parte sua inquieta, que não parava de pensar em coisas ruins, e que ainda tinha muito a dizer. 

Respirando fundo e tentando ignorar todo o restante do mundo a sua volta, ela abriu o chat e começou a ler as mensagens de George:

A_G: Então você descobriu

Foi naquela noite? Por que não me disse nada?

O tempo todo eu achei que você não sabia, e não achei uma boa ideia contar, pelo menos não agora que ainda estávamos nos conhecendo e nos aproximando. Sinto muito por ter sido um idiota

Mas é que eu fiquei com medo de te dizer e você, não sei, se fechar. Não querer mais falar comigo, ficar com receio de me encontrar outra vez. Havia muitas coisas em jogo que eu não queria arriscar, Melanie

A Voz do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora