O plano (secreto)

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O som do zíper da mochila foi uma sentença diante de todo o silêncio do quarto.

Era a tarde de terça. E ela já havia matado dois dias de aulas, então chegara a hora de voltar para a casa.

Ela tinha que se preparar para o pior.

- Ei... - Pucca colocou a mão no ombro dela quando a encontrou na sacada, olhando para o mar já com a mochila nas costas e os fones nos ouvidos - Vai dar tudo certo.

Mel olhou para ele e assentiu lentamente, dando um sorriso triste. E então foi puxada para um abraço.

- Quando chegar em casa, me mande uma mensagem. Se eles fizerem algo... - ele pigarreou - Se acontecer alguma coisa, você sabe onde me encontrar. Podemos fugir de novo.

Melanie deu uma risadinha baixinha, e corou quando percebeu que foi audível.

Pucca, porém, não disse nada. Apenas a abraçou por mais um tempo, fazendo Mel se tranquilizar e se perder naquela demonstração de carinho - que ela ficaria um bom tempo sem assim que chegasse em casa.

Mel entreabriu os lábios, desejando com todas as forças do mundo que pudesse dizer pelo menos um "obrigada", e apesar de o ar ter saído da sua boca, nenhuma palavra foi formada pelos seus lábios.

Ela era mesmo um caso perdido.

- Calma... - Pucca passou a mão pelas costas dela e então se afastou um pouco, ajeitando os seus fios negros atrás da orelha e secando as lágrimas dela com as costas das mãos morenas e calejadas - Não fica assim. Os últimos dias foram ótimos, não foram? Nós vamos fazer isso de novo algum dia. Não precisa ficar triste.

O problema era que Melanie achava que não iriam fazer aquilo outra vez nem tão cedo.

Dentro do táxi, indo para casa, ela decidiu esconder o seu caderninho dentro das roupas largas que usava, embaixo da blusa e do moletom grande, preso na borda da calça. Se estiver em casa, sua mãe com certeza irá vasculhar tudo em busca de alguma coisa para incriminá-la. Ela tinha acabado de descobrir sobre George, e logo em seguida Melanie fugira de casa, o que quer que estivesse se passando na mente da mãe dela, com toda a certeza do mundo, estava longe de ser algo bom.

- Tchau... - Pucca disse quando ela saiu do carro e fechou a porta, a alguns quarteirões de distância de casa - Qualquer coisa me manda uma mensagem. Ou... Você sabe onde me encontrar, não sabe?

Melanie assentiu e deu um tchauzinho para ele quando o carro partiu em outra direção.

Ela, então, se virou; respirou fundo e se pôs a caminhar em direção a sua casa.

Que ela ao menos sobrevivesse para escrever aquela história.

~~

Quando ela chegou, porém, a casa estava vazia.

Ela tinha esquecido de pensar na possibilidade de não haver ninguém em casa.

Ela tentou passar pela porta mas estava trancada, então, olhando para os lados para ver se tinha alguém passando ou vigiando-a, ela abriu a janela do quarto dela ficando na pontinha dos pés e escalou de forma tosca, antes de tudo jogando a mochila através da janela.

Ela soltou um choramingo de dor quando caiu com tudo no chão após ter conseguido entrar.

Seu quarto parecia o mesmo: escuro, silencioso e gelado, apesar do sol da tarde que batia na parede ao lado.

Se antes aquele era um lugar acolhedor, o refúgio dela, agora parecia apenas uma espécie de prisão. Uma jaula para ela se esconder e se proteger, depois de ter ficado num lugar onde pode ver todas aquelas luzes da cidade e o mar e sentir a brisa, sentir o pingo de liberdade que a vida podia proporcionar só com aquele momento.

A Voz do AmorWhere stories live. Discover now