A borboleta e seu casulo

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Melanie Mendes

Se Melanie tivesse que descrever o que ela estava sentindo naquele exato momento, ela diria que era algo como a dor de arrancar uma faca de uma ferida. Não de perfurar, mas o ato de arrancar o que perfurava e fazia doer. Algo que fazia sofrer há muito tempo.

Era uma boa descrição, ela achava. Era como o personagem da história que ela leu uma vez que tinha uma bala alojada no abdômen. Ela não entendia muito de medicina, mas se permaneceu lá então era porque tinha que permanecer, não é?

E ela tinha se acostumado com aquela faca em si. Doeu muito quando a acometeu, mas com o tempo ela se acostumou com a dor. Aprendeu a lidar com ela - porque ou ela aprendia a lidar com isso, ou tentava arrancar com seu jeito amador e terminava morta.

Melanie se encolheu mais entre as cobertas, sentindo seu corpo quente e suando.

Ela não fazia ideia de como encararia os outros. Não fazia ideia do que faria. Tudo que ela queria fazer era se esconder e lamentar. Lamentar e lamentar. Mas lamentar por quê? - Ela nem sequer sabia. E isso a revoltava.

"A sua máscara finalmente caiu, filhinha." - ela quase pode ouvir a voz da mãe na própria mente, dando um daqueles sorrisos que ela não sabia se era puramente genuíno ou cheio de maldade. 

George já tinha ido vê-la e ela já tinha chorado tudo que tinha para chorar. Ainda assim, aparentemente ainda restava muitas lágrimas.

O que ela faria quando chegasse em casa? O que faria quando a avó soubesse? Como lidaria com o olhar de cobrança que receberia dela (por ter falado com os outros e com ela não?). 

O que faria quando saísse daquele quarto, daquela cama? 

Ela ouviu passos se aproximando no corredor.

Como um raio, ela se livrou das cobertas e saiu correndo para se trancar no banheiro, como a perfeita covarde que era.

Aquele era o único quarto da casa que tinha banheiro. Porque era o quarto principal. Porque era o quarto onde os pais de George costumavam dormir. Onde o pai dele, que ele tanto amava e respeitava, dormia. 

Quando a porta do quarto se abriu, Melanie fechou os olhos fortemente e deu passos para trás. Até esbarrar num dos armários pequenos que tinha ali e deixar cair as embalagens no chão.

- Melanie?

Era Alexandra.

Melanie balançou a cabeça e ergueu o olhar para cima, observando o céu pela janelinha pequena em cima do box. E implorou mentalmente:

"Sogrinho, sei que não nos conhecemos, mas será que o senhor pode me livrar dessa situação por pelo menos mais um tempinho?".

- Melanie? Está tudo bem? - Ali deu duas batidinhas na porta e continuou com uma voz tímida - Olha... Eu e os outros vamos fazer as malas para irmos embora... Vamos deixar a casa arrumadinha antes de sairmos, tá? Não precisa se preocupar...

A boca de Mel tremeu. Eles já iam embora, tão cedo assim?

- P-por quê? - ela se viu perguntando num sussurro. Era o seu máximo no momento, mas pelo menos não era nada.

- ... Oi? - Alexandra pareceu se aproximar mais da porta. Parecia que, embora quisesse vê-la, ela não iria tentar abrir e invadir, como seu padrasto odioso costumava fazer. 

A Voz do AmorWhere stories live. Discover now