Epílogo

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Seis anos depois.

- Melanie, eu já falei pra você tirar esse homem de perto de mim, Melanie! Eu vou cometer um crime, Melanie. - a voz da mãe dela tremeu de raiva.

- É você que tem que sair de perto de mim, sua maluca! Olha só o que você fez comigo. Olha, olha aqui. 

- Você mereceu!

- Mereci?! Você me atacou! Você que me atacou, sua monstra! - o pai dela disse irritado - E para de incomodar a Melanie. A menina tem as coisas dela pra cuidar e você fica ligando pra reclamar! Aprende a resolver suas coisas sozinha!

- Ah, cala a boca, seu mendigo! Se não fosse por nós você ainda estaria na rua comendo resto de restaurante!

- E você estaria se entupindo de drogas naquele fim do mundo! Ah, qual dos dois era pior, hein? HEIN? - ele pareceu chegar mais perto - Prefiro comer resto de comida do que trabalhar e gastar o dinheiro todo com pó!

Melanie coçou a testa com uma careta diante daquilo.

- Cala a boca! Você cala a sua boca!

- Ai, chega vocês dois! Que saco! - Melanie disse, cansada de ouvi-los - Poupe os vizinhos dos seus escândalos! 

- É o que esse velho no meu pé faz o dia todo, Melanie! Ele tira minha paciência até não sobrar mais nada. A culpa é dele!

- Eu não entendo. - ela balançou a cabeça - Cada um tem seu quarto na casa, o próprio sofá e até a própria geladeira. E ainda assim vocês ficam... Se matando desse jeito! Quando um não quer, dois não brigam! Já ouviram essa frase?

- ... Ele vem no meu quarto me incomodar, Melanie. Fica me pedindo comida, me falando pra arrumar a bagunça que ELE faz! Eu tenho cara de empregada por acaso? Tenho?? - ela pareceu perguntar pra ele.

- Não. Carlos, você precisa aprender a fazer as coisas sozinho. Não é porque você está morando com uma mulher que ela tem que ser sua empregada. Se você fez algo, você mesmo tem que consertar... E tem que cozinhar para si mesmo. Entendeu?

- Ele come da comida que eu faço e ainda reclama dizendo que tá ruim, Melanie. - a mãe explanou e então suspirou - Eu não aguento mais, minha filha. O que eu fiz para merecer isso...

Melanie apertou os lábios e encarou o teto pedindo paciência.

- Vocês vão ter que se virar e se aturarem mais um pouco até conseguirem se estabelecer direito. E quando eu chegar aí na semana que vem, vou querer ver tudo no lugar intacto, entenderam? Principalmente os pratos transparentes! Nada de quebrar na cabeça um do outro!

Ia fazer dois anos desde que ela teve a ideia maluca de colocar os dois pra morar juntos. Apesar de saber o quão estressante seria, ela não tinha visto outra alternativa melhor do que aquela.

 Depois de se mudar para outra cidade, sua mãe, ao viver sozinha, começara a ter hábitos ruins e, ao se afundar naquela vida de dívidas, depressão e saúde debilitada devido às drogas e a ansiedade, ela resolveu entrar em contato com Melanie para pedir ajuda, dizendo que, se caso ela não pudesse fazer nada, então ela resolveria aquilo tirando a própria vida.

Elas ainda estavam na luta contra todos aqueles problemas desde então. Com o tempo, sua mãe foi melhorando lentamente. Estava frequentando a terapias em grupo e consultas médicas. A iniciativa de se livrar das drogas tinha vindo dela mesma, o que surpreendeu Melanie por um bom tempo - e ela fez de tudo para apoiá-la. 

Enquanto ela estava se estabelecendo na casa que elas tinham alugado para ela morar, Melanie estava tentando dar um jeito no pai dela desde aquele dia em que o achara na rua. Eles tinham criado uma relação de respeito mútuo - embora o pai dela a olhasse como se a venerasse as vezes e até chorava de arrependimento pelo passado - e aos poucos ela foi convencendo ele a se cuidar mais, até que o oferecera um lugar para ficar após conversar com sua mãe e chegarem a um acordo.

A Voz do AmorWhere stories live. Discover now