Da Cor Do Sangue

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Não sei dizer se o trabalho acelerado do meu coração e pulmões começou pelo susto que levei ao ser notada pelo olhar daquele suposto vampiro, ou se simplesmente foi pela adrenalina que senti ao correr de lá como se aquele ser sobrenatural estivesse atrás de mim. 

Só sei que aqueles olhos, tão vermelhos quanto o sangue, que se fixaram em mim por longos segundos, com certeza eram de um predador. Isso foi provado para mim pelo modo como meu corpo reagiu ao seu olhar, ficando imóvel, como se aqueles olhos fossem feitos para submeter sua presa — que nesse caso seria eu.

Foi quando entrei no meu quarto e desabei de joelhos no chão que tudo se acalmou. Mas os calafrios ainda percorrem todo meu corpo cada vez que me lembro daqueles olhos escarlates que pareciam tão lindamente perigosos. Lindamente perigosos? Balanço minha cabeça na tentativa de conter esse pensamento. Era um vampiro, Carrie Manson, um vampiro!

Pensei que estava com medo, que toda vulnerabilidade que senti era porque estava apavorada. Mas… parece mais que eu estava encantada com a beleza daquele ser. Uma beleza tão instigante.

Quando paro de pensar sobre o vampiro, sinto que esqueci algo importante, como se faltasse alguma coisa em minhas mãos. Logo me lembro que soltei algo que segurava quando assustei e, claro, era a folha do resumo!

Aparentemente, o motivo que me fez ir até lá e acabar presenciando tudo aquilo também pode ser a minha ruína. Meu nome estava escrito naquela folha e, de algum modo, eu a deixei lá. Droga!

…

A música "Bring Me To Life" do Evanescence como meu despertador, interrompe meu pesadelo ou… será que foi um sonho? Não sei dizer ao certo agora se sonhar com aquele vampiro que, sinceramente, parecia muito lindo pode ser considerado um pesadelo.

Tateio a mesa de cabeceira para achar meu celular e desligar o alarme.

...

Por minha mente estar ocupada e cansada demais pensando nos acontecimentos da noite anterior, involuntariamente eu apenas escolhi a mesma roupa que usei ontem para escola: uma blusa de tricô longa esverdeada, meia-calça preta com short da mesma cor e botas escuras.

— Bom dia, Carrie — Meu pai me cumprimenta quando apareço na cozinha. Ele está com seu clássico terno de trabalho e corte de cabelo social, com seus olhos âmbar vidrados no celular enquanto espera a cafeteira fazer seu trabalho.

— Bom dia — digo por educação como ele. 

As manhãs são sempre as mesmas quando encontro com ele. Acho que "bom dia" e "boa noite" são as únicas frases que ele consegue dizer para mim. 

Sua casa é o seu trabalho e para "compensar" sua ausência, ele compra de tudo para Alice, Alicia e eu. Em parte, ele também faz isso porque se sente culpado por três coisas: primeiro por ter traído Alice, sua esposa, com minha mãe — que não sabia que era a amante —, segundo por querer esconder seu passado de Alicia, fruto de seu casamento, e terceiro por nunca ter sido presente na minha vida antes da minha mãe falecer.