Da Cor Do Sangue

Capítulo 16

"Eu odeio você,
Tanto quanto o fogo odeia a água
Tanto quanto o gelo odeia o calor

Ou odiava,
Até ouvir você dizer
Meu nome de uma forma diferente
Como se ficasse seguro na sua boca

Podia amar outra pessoa
Mas juro que não sei como gostar
De alguém que não seja você."

Esse é meu poema sobre alguém que gosta, que a professora de literatura deu como trabalho. É claro, quem eu gosto não poderia ser ninguém menos que Levi Fitzroy. Poderia fazer um pela minha mãe ou pelo Peter, mas hoje quem eu amo mais é Levi. Mesmo depois de ter me rejeitado e me olhado como se eu fosse um parasita nojento, ainda não consigo parar de pensar naquele imbecil. Talvez foi para isso que ele nasceu: fazer da minha vida um inferno, pior do que já era. Fecho o caderno onde estava a olhar o poema e o guardo na minha mochila. Peter tem me esperado todos esses últimos três dias para irmos juntos para casa, pelo menos com ele eu posso contar. São oito da manhã e eu já estou cansada, não aguento mais ter que lidar com esse coquetel de emoções. Volto a mim quando alguém fecha a porta do meu armário da escola com força, fazendo o som da batida se sobrepor ao da falação dos adolescentes.

- Bom dia. - A voz de Jade faz minha espinha gelar ao imaginar o que ela fez da última vez que nos encontramos. Admito que já estava até achando estranho ela me proporcionar paz esses dias. - Vejo que aprendeu a lição.

- Lição? - Pergunto, confusa.

- Isso mesmo, quase matar você parece que já foi suficiente para ficar longe de Levi. - Ela sorri de lado.

- Se é tão obcecada por ele, como pôde o machucar? Quem ama cuida, não é? - Pergunto-a, um pouco incerta sobre seu tipo de amor por ele.

- Ele mereceu o que teve. Se você nunca tivesse nos visto, tudo seria diferente. Eu não precisaria chegar nesse ponto. - Ela também me viu naquele fatídico dia?

- Então está dizendo que a culpa de tudo isso é minha? Você quem é uma psicopata que acha que todo mundo tem que viver como você deseja, que temos que nos adequar a sua forma de vida. Será que você não enxerga que a porra do mundo inteiro não tá nem aí para oque você acha? E ainda tem a audácia de vir cobrar satisfação.

- Olha aqui su...

- E tem mais! Você é gostosa para caralho, inteligente ao ponto de tirar nota máxima em todas as matérias e quer ficar se preocupando com quem não te quer, com quem não está nem aí para você!? Já se olhou no espelho por acaso? Porque se eu fosse você iria me valorizar muito, mas muito mesmo. - Tento recuperar o fôlego depois de literalmente dar um conselho para mim mesma com essas palavras. Jade tira o sorrisinho do rosto, baixa o olhar e eu aproveito para escapar dali. Hoje ela me pegou num mal dia.

...

Fiquei surpresa com a reação da Jade, antes toda segura de si mesma e depois baixando o olhar como se tivesse levado uma bronca de seus pais, sendo que normalmente ela iria rebater e me ameaçar como sempre. O que será que deu nela? Quando chego perto do meu carro no estacionamento da escola sou surpreendida por Levi, que está recostado na lateral do veículo, e com a cara fechada. Só pode estar de brincadeira! Coloco uma mão na cintura e digo:

- O que você quer? - Tento soar zangada.

- Foi só eu me afastar de você para se engraçar com qualquer um?

Ele está falando sobre o Peter?

- Como é!? - O desafio. Ele se aproxima e agarra os cabelos da minha nuca, fazendo minha cabeça inclinar para trás para que eu possa ver sua raiva nitidamente. Eu não recuo para não demonstrar medo, agora sou como uma presa nas mãos do predador. - Me solta! - Ordeno e agarro seu braço que me segura, cravando as unhas nele para tentar me desvencilhar.

- Não sabia que você era tão fácil.

- E eu não sabia que você era tão baixo.

- Eu sou baixo? Você quem dá para o primeiro que te fornece uma migalha de atenção. - Meu coração dói, e luto contra as lágrimas que enchem meu olhos. Por que ele está fazendo isso?

- Você não tem conhecimento nenhum para falar isso. E o que tem entre a gente não te diz respeito! - Tento permanecer invicta.

- Onde está aquela que disse me amar?

- Eu estava louca de te amar! - Seu aperto enfraquece, me dando a oportunidade de me afastar dele. - Vai se foder, babaca! - Sinalizo o dedo do meio para ele, entro no carro e dou a partida. Por sorte, Peter não veio hoje, se não a conclusão disso iria ser pior. Quando paro no sinal vermelho, me dou a brecha para chorar, sinto que tudo de ruim está saindo pelos meus olhos agora.