12✔

5.3K 503 37
                                    

— Eu mudei? — Penso em voz alta ao observar cada curva do meu corpo seminu no reflexo do espelho e, felizmente, sem aquela bota ortopédica horrorosa

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

— Eu mudei? — Penso em voz alta ao observar cada curva do meu corpo seminu no reflexo do espelho e, felizmente, sem aquela bota ortopédica horrorosa. 

Dizem que depois que você começa sua vida sexual seu corpo se transforma, como se ele amadurecesse. Mas ou isso não passa de uma mentira ou eu sou a bendita exceção. Agarro meus seios pequenos e tenho absoluta certeza que tudo está como sempre foi. Nem sequer um centímetro a mais.

...

— O que está rolando entre você e o Levi Fitzroy? — Sou surpreendida por uma barreira humana, Alicia, ao descer o último degrau da escada. 

Algo do tipo tinha que chegar aos ouvidos dela!

— Nada — minto. 

Ao menos acho que é uma mentira, na verdade, não sei o que está rolando entre a gente. É tarde demais para dizer que somos amigos, e cedo demais para dizer que somos amantes. Então… o que nós somos?

— Está mentindo, conte logo a verdade!

— Se tivesse algo rolando, você seria a última pessoa para quem eu contaria — Ela ri.

— Você nem sequer tem alguém para contar — Reviro os olhos.

— Minha vida amorosa não é da sua conta — Passo por ela indo em direção a saída.

— Então a estranha tem uma vida amorosa? E por acaso Levi faz parte dela? — Ela fica em meu encalço, insistindo em perguntar sobre isso. 

— Já disse que não tem nada rolando entre a gente!

Ao conseguir chegar ao lado de fora, entro rapidamente no carro e dou a partida, ignorando as batidas no vidro de Alicia.

...

No intervalo das aulas, o lanche servido é sanduíche natural com suco de laranja. Eu saboreio a refeição devagar, sentindo o sabor de cada ingrediente do sanduíche separadamente. 

Como sempre, me sentei em uma mesa distante das pessoas, perto da lixeira. Assim não sou incomodada e nem um incômodo para os outros. Mas sentar sozinha e não ter ninguém para conversar faz os meus pensamentos inquietantes virem à tona.

Pensei que depois que ajudei Levi na noite em que estivemos juntos, ele não iria sumir de novo sem me dar notícias. Mas eu pensei erroneamente, e agora estou ansiosa imaginando o que deve ter acontecido com ele dessa vez. Será que ele ficou com vergonha como eu? Sou interrompida de meus devaneios ao sentir um líquido gelado escorrer por toda extensão do meu cabelo, molhando minhas roupas junto.

— Ah! Mil desculpas! Pensei que fosse a lixeira — Olho enraivecida para a garota sarcástica com um copo vazio na mão, enquanto suas amigas riem da situação.

— Aceito suas desculpas — Sorrio, fazendo elas pararem de rir com minha fala. — Mas isso não quer dizer… — digo enquanto me levanto. —  … que não vou fazer nada! — Com rapidez, dou um belo tapa em sua face.

O barulho é tão alto que todos do refeitório param de comer para olhar o que está acontecendo. E com a raiva tendo sido expulsa do meu corpo através do tapa, me dou conta do que acabei de fazer, e percebo que me meti numa encrenca. Merda!

— Sua vadia! — A garota tenta vir para cima de mim após se recuperar, mas é impedida pelo supervisor da escola que aparece de repente.

— As duas, para direção agora!!

...

— A culpa foi dela, se não ficasse me olhando daquele jeito nada teria acontecido — A garota tenta argumentar enquanto estamos sentadas de frente para a diretora que nos interroga em sua sala.

— A versão da Carrie, de que foi você quem começou derramando suco nela, parece claramente verdadeira ao vermos que ela está encharcada — explica a diretora, compreendendo o meu lado da história.

Me perco em pensamentos enquanto as duas discutem sobre qual é a verdade. Talvez, se eu fosse uma vampira como Levi, eu poderia simplesmente esperar todas as pessoas dos meus problemas morrerem, sem precisar lidar com consequências fúteis como essa quando eu decido reagir. 

— Vou chamar seus responsáveis — A palavra "responsáveis" me faz voltar a triste realidade, e começo a suar frio. 

Não tenho medo daqueles dois, mas da punição que normalmente recebo quando me meto em encrencas: ser obrigada a ficar em casa e conviver com eles, sendo que a distância deles é a única que me mantém em sanidade.

...

— Você não pensa antes de agir!  — Meu pai continua com seu sermão dentro do meu carro depois de ter dispensado seu motorista.

Penso em jogar o veículo para fora da pista e acabar com essas merdas de uma vez por todas, mas ele sequer me dá tempo suficiente para pensar na manobra já que continua: 

— De todas as pessoas, por que tinha que bater na filha de um parceiro de negócios meu? Você tem merda na cabeça, Carrie Manson?

Como eu daria tudo para tirar esse sobrenome do meu registro. A única hora que ele parece soar bem é quando sai da boca de Levi.

— Eu sei o que fiz, não precisa jogar na minha cara que eu estraguei seus negócios — retruco, sem tirar os olhos da estrada. 

— Você é igualzinha à sua mãe — diz, com desgosto, me deixando enraivecida.

— E o que você sabe dela? Você a abandonou quando estava grávida e nem teve a decência de ir ver sua filha recém-nascida no hospital! Só depois que ela morreu que você resolveu dar as caras! — Ele suspira.

— Há dez anos eu tenho gastado tudo o que tenho para compensar isso e me redimir com vocês, ainda não é o suficiente?!

— A única coisa que eu queria é a que você nunca me deu, Mark! — Chamo-o pelo seu nome, como sempre fiz, já que ele não é realmente um pai para mim. 

— Então me diga o que é, eu prometo que te darei qualquer coisa — Eu rio.

— É amor o que eu quero, e você nunca vai conseguir me dar isso — Meus olhos ficam marejados.

— Carrie…

Estaciono o carro a tempo de conseguir sair do veículo e não precisar ouvir o resto de sua fala. Entro na casa indo direto para o meu quarto e tranco a porta, caindo ao chão pela fraqueza repentina e sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Queria que Levi estivesse aqui. Ele é o único que conseguiria me acalmar e me ajudar a parar de pensar nessas coisas tristes. Seja com suas provocações que me arrancam sorrisos ou com suas carícias que deixam minha mente em branco, só de ele estar ao meu lado já seria reconfortante. Mas eu estou aqui… sozinha, como sempre.

Da Cor Do SangueWhere stories live. Discover now