|Muzan

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Palavras: 949.

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"Indiferença"


Os passos lentos e preguiçosos são abafados por sangue das pessoas mortas no chão. O que deveria ser um vilarejo movimentado e com um falatório incessante agora está vazio e coberto por uma violência assustadora.

A mulher caminha por entre os corpos sem ligar muito para o que aconteceu, ela segura a cesta em suas mãos e a enche com comidas e frutas que foram abandonadas pelos moradores mortos. Um cantorolar baixo é emitido por ela que começa a sentir-se enjoada pelo fedor de ferro, enruga o nariz e se agacha para segurar uma maçã que está mais vermelha do que deveria.

Um sopro gelado nessa noite iluminada apenas pela luz da lua e o clamor dos mortos colide com o corpo da garota, ela sente o seu corpo inteiro se arrepiar debaixo da roupa maltrapilha. A sensação de estar sendo observada é contínua e ela tem certeza que o Oni que fez a festa de debute na vila deve a estar cercando.

[S/n] não liga se a criatura vier até ela e matá-la, ele até faria um favor se fizesse tal ação. Levantando-se, a sua costa se encontra com algo sólido e o odor forte de sangue volta com mais força, porém, ela se mantém intacta e volta à sua caminhada despreocupada.

—Que humana insolente você é.— a criatura fala bem próximo a humana, curioso com a reação nada sensível dela.

E ela prossegue sem responder, continua colhendo até encher toda a cesta e iniciar uma nova trilha até a floresta. O demônio a segue ao longe, sempre fascinado com a sua indiferença. Próximo a uma cabana pequena e aos pedaços, a humana para e se volta para o "bicho".

—Vai me matar agora?— pergunta ela, com os braços rígidos por estar segurando algo pesado.

Muzan nada responde, a sua sede por sangue se foi há meia hora atrás e a pessoa a sua frente não serviria nem para um lanche. Mas a pergunta o deixa mais curioso do que estava, ele aproxima-se dela e a encara nos olhos a espera de uma reação, seja medo, raiva, dor.

Nada.

Ela sempre não sente nada em relação a ele.

A mulher apenas o encara de volta com a sua face mórbida e magra, olhando mais de perto, ele pode observar as bolsas escuras ao redor dos olhos e o rosto tão fino por conta da magreza.

—Você é deplorável.

—É ofensivo ouvir isso de você.— ela sussurra e encolhe os ombros, se volta para a sua "casa" e a adentra com ele ainda a acompanhando.

Muzan sabe que está desperdiçando seu tempo com essa mulher estranha, na verdade, o fato de ela viver afastada de qualquer vila deve significar que é vista como amaldiçoada e que não é bem-vinda em qualquer lugar. Entretanto, a sua intuição parece gritar para fazê-la falar mais, para que a faça obedecê-lo até a sua última gota.

—Se não vai me matar, pode ir embora da minha casa.

[S/n] indica a porta para o oni que parece não querer ir embora tão cedo quando se senta no sofá com a sua pose ereta. Muzan ergue a mão em direção a ela que o obedece, largando o recipiente em seus braços em cima de uma mesa aos pedaços e se senta no colo dele como uma criada obediente.

—Posso te transformar em mim, com o meu sangue.

—Não.

—Sempre acolho aqueles que vejo que tem utilidade e você tem potencial para isso, aceite enquanto estou tendo compaixão por esse seu ser miserável.— diz Muzan confiante de que a sua proposta seria aceita.

—Não vejo utilidade em ser imortal e viver me escondendo do sol, senhor Muzan.— ela responde.

Muzan estala a língua em surpresa por essa mulher saber o seu nome, durante todas as noites em que a visitava ela nunca tinha o pronunciado até agora.

—A sua indiferença seria útil para mim e você não precisaria morar nesse lugar horrível.

O Oni desata aquele vestido em trapos e se depara com o corpo pequeno e franzino, os seios tão pequenos e murchos, a cintura tão fina que ele tem a sensação de que ela poderia quebrar a cada passo. A sua mão com as unhas longas traça uma linha por entre os bicos pontudos, a pele seca se arrepia com o contato e ele rir em como o seu corpo reage ao dela de forma patética.

Não precisa muito para que ele fique duro, entrar nela é sempre acolhedor, ela o recebe muito bem e geme baixinho em seu ouvido. Ele tenta entender as emoções que sente e como seria algo mais próximo dos humanos, mas se sente ocupado demais preenchendo o buraco molhado que rodeia o seu pau, que o aperta e que o deixa louco.

As mãos longas e finas da mulher se apoiam no ombro nu do Oni, ela sobe e desce a procura do próprio prazer até chegar ao seu limite. O corpo magro e suado é agarrado com força por Muzan, ele morde o ombro descoberto dela quando se derrama e seus cabelos se esparramam pelos seios pequenos.

Ainda conectados, o Oni perfura o peito da mulher com a sua própria mão e arranca o coração dela, uma morte que combina para esse ser tão opaco e amaldiçoado.

Ela não teve tempo nem de gritar, apenas a face chocada restou no lugar da indiferença, uma face que ele realmente gostava, mas que estava começando a invandir demais os seus pensamentos. O corpo morto é deitado no chão frio e Muzan vai embora com a única coisa dela que pertencia a ele.

Ou que talvez um dia tenha pertencido.

Imagine AnimesWhere stories live. Discover now