A traição das imagens

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"Não posso acreditar num Deus que quer ser louvado o tempo todo."
_ Nietzsche


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No livro de Levítico, diz que quando um homem se deita como mulher e fizer sexo, ambos morrerão.

Jimin respirou profundamente, como se todos os pensamentos fossem desaparecer. Não, não desapareceram.

Caminhou trôpego até o altar, tomou e bebeu do corpo de Cristo, imaginando como seria se descobrissem sua imoralidade. Será que ainda o tratariam da mesma maneira se soubessem que havia se deitado com um homem? 

Tsc. É claro que não.

Talvez devesse deixar a atuação, mas os olhares das coroinhas estavam sobre ele e na sua beleza, algo que agradava à mãe, de maneira que ele conseguiria manter a falsa peça por mais tempo.

Talvez logo tomaria coragem.

Sorriu fraco ao voltar para o banco de madeira, o sorriso de uma das meninas estava direcionado a ele.

— Sua mãe pediu para que me sentasse perto de você. – A moça soltou uma risadinha e as bochechas coraram.

A partir daí, as coisas pareceram mais fáceis. Por um momento, Jimin esqueceu que havia saído de seu caminho sagrado, olhava para a garota e pensava se era possível sentir algum prazer com ela.

Novamente, as lembranças o assaltavam.

Atenciosa demais, a loira falava sobre os pais e a carreira que queria seguir depois do ensino médio, dizendo também que adoraria que ele aceitasse o convite dos pais para um almoço de domingo.

Jimin nunca fora apresentado à família de ninguém, somente a do melhor amigo Taehyung, e a breve história de que o garoto gostava de homens fez com que a mãe não o deixasse ir vê-lo mais.

Houve uma vez em que Jimin fez um trabalho na casa de um colega de classe, quando a mãe descobriu que eles estavam sozinhos, o fez ir embora sem o dever pronto.

— Então, você vai? – a garota perguntou, e os olhares famintos da mãe se ampliaram num brilho moldado para satisfação.

— Bem... – estava inquieto, a insatisfação de que não serviria para moça e o que havia feito horas antes o julgava como um criminoso, talvez ele fosse. — Sim, eu vou.

Jimin quis se enforcar ali mesmo.

Os olhos grandes da mais velha se esticaram minimamente, um sorriso repuxou os lábios cobertos por um batom leve de cor cereja.

— Obrigada, Jimin-ssi. – Ela se curvou, o vestido marcando os seios grandes, embora o decote fosse pequeno.
                                   . . .

— Você estava evitando a Rosé. Não faça isso, Jimin. Ela daria uma ótima esposa. — Ouviu de sua mãe enquanto ambos, já em casa, se preparavam para a próxima refeição.

— Não estou procurando esposas, mamãe. — Respondeu de imediato.

A mulher deixou que a faca caísse de sua mão, levantando o cenho para encarar o loirinho sentado à mesa. Jimin tirou a resposta da ponta da língua, sem se importar mais com o castigo que viria.

Quem sabe quantos livros da Bíblia teria de ler?

— O que disse?! — Jimin imaginou o momento em que isso aconteceria. — Deus se agradará muito de um matrimônio como esse, Jimin, Rosé cresceu na igreja igual a você e...

— Eu não vou me casar, mamãe! — repetiu, o coração tamborilando na garganta. — Tenho planos pro meu futuro e não me vejo amarrado em um casamento forçado.

— E que planos são esses? Vagar por aí como aquele vagabundo? — A ouviu falar com todo o preconceito que poderia estar empregado na voz.

— Taehyung não é nenhum vagabundo, se é o que pensa, ele tem emprego, vive bem e...

— É A MERDA DE UM GAY! — vociferou enfurecida.

O grito foi como um açoite. O tempo passou em câmera lenta aos olhos de mãe e filho.

— Ele não respeita Deus e seus mandamentos! – A mulher tremia, os legumes foram deixados num canto.

Na garganta de Jimin cresceu um nó, no peito um peso que fazia a respiração ficar pesada, o repúdio aumentando sucessivamente. Ele levantou da mesa, caminhando até a escada.

Ele também era gay. As palavras da mulher lhe atingiram profundamente como um punhal.

— Eu não posso acreditar num Deus que repudia pessoas por amar, mãe. — Falou uma última vez sem demonstrar nada em sua voz.

No cair da noite, Jimin saiu de casa com sua alma perdida, fingindo procurar uma saída.

Ele achou.

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Se eu correr, não será suficiente
Você continua na minha cabeça, preso para sempre.

Colors | JikookWhere stories live. Discover now