A Dança da vida

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"Quando falamos em amor muita coisa fica
obscura, confusa, secreta."

-Rosane Marega

🎨

Foram exatos três dias juntos.

Jeon embarcou ao meio-dia de uma terça-feira tempestuosa, não se despediu do loirinho, ele deixou apenas um bilhete com poucas palavras escritas.

" Voltarei em dois anos.
Jungkook"

Jimin amassou o pedaço de papel contra o peito, que subia e descia pelos soluços do choro agoniante. Ele sempre soube que aquele dia chegaria, mas não imaginou que seria dessa maneira. Ele deixou o hotel carregando o peso do mundo em suas costas e a vergonha tomou conta de seu rosto.

Todos pareciam ter conhecimento do que havia acontecido e ele não era o único a ter entrado na suíte do pintor.

Apesar de não assumir, Jimin sentiu a dor e sabia que aquilo não iria parar de doer de um dia para o outro. Não, talvez aquilo doesse até um futuro que ele não sabia quando, porque sentir dor é como sentir amor. Aparentemente, a vida parece ser injusta, requer um autocontrole que ele teria que aprender.

Seja como for, ele ainda não estava preparado para uma queda tão brusca.
No meio da situação em que estava, Jimin sentiu o rosto esquentar por inteiro porque tinha alguém o olhando do outro lado da rua, por sorte já estava longe suficiente da hotelaria.

Ousou levantar a cabeça e encarar de volta, respirando fundo mesmo que o corpo inteiro tremesse, sentindo um formigamento no pé da barriga.

— Jiminie. — A ânsia deixou que o medo tomasse seu lugar. Jimin tentou sorrir para o colega de classe, mas o que conseguiu foi uma carranca confusa, ainda assim o garoto parecia estar brilhando. — O que você está fazendo por aqui?

Jeon Junghyun era uma mistura de playboy de Doramas e universitário rebelde. O garoto suspirou, quase aliviado, por ter se safado de uma pergunta mais constrangedora.

— Vim ver um amigo, mas acho que ele não vai aparecer. — As palavras saíram forçadas, cheias de raiva e algo a mais que ele não saberia dizer. — E você?

– Eu moro a dois quarteirões. — explicou, o corpo grande parecia estar tenso debaixo das roupas pesadas. — Vim despedir do meu irmão.

— Você tem irmão? — Jimin nunca soube nada sobre o garoto rico, sequer ousava se aproximar e também não entendia o motivo por estar em uma universidade pouco conhecida.

— Tenho um hyung.

— Hmmm... Legal... — respondeu sem nenhuma empolgação. — Como ele se chama?

— O nome dele é Jungko... — o telefone de Jimin toca antes que o outro terminasse de dizer — Pode atender Jiminie.

Quando Jimin encerrou a ligação dois minutos depois, começou a caminhar ao lado do colega, falando sobre assuntos em comum, principalmente sobre viajar pelo mundo. Junghyun alcançou o seu ombro em frente a uma sorveteria, traiçoeiramente os aproximando um pouco mais. O loiro se encolheu pelo susto porque jamais se imaginou assim com o moreno.

Consequentemente, esqueceram de terminar a conversa anterior.

— Você topa tomar um sorvete antes de ir para casa? — Os olhos grandes fecharam-se em duas linhas, os cílios escuros batiam um contra o outro como se dançassem no mesmo ritmo.

— Eu não sei se eu deveria.
— Ah, vamos, Jiminie. Você não vai perder nada mesmo.

A sensação horrível tomou conta do corpo, Jimin já havia perdido, mesmo que inconscientemente.

🎨

Hoje, ele está mais calado que de costume.

Parecia estar preso em uma bolha flutuante que quase tocava o céu. Quando o mais alto se atreveu a aproximar, soltou o ar contido nos pulmões, Jimin sentiu o hálito quente alcançar seu rosto, notou as pupilas se dilatando no negrume dos olhos e aquilo o fez lembrar de quem ele deve esquecer.

Há dois dias que Jeon se foi, estava na hora de seguir sua própria vida, afinal, ele conseguiu o que queria. Era para ser algo simples, mas ali estava ele, vendo a imagem do pintor nos olhos de Junghyun.

O loiro não foi capaz de se afastar, ele imaginou Jeon ali e desejou que fosse, desejou ser erguido sobre a mesa e que fosse consumido inteiro até acabar com o que lhe restava de moral.

— Jiminie...

Assustou-se de seus devaneios, mas deixou que o outro o tocasse a bochecha em um ato claro de afeto. Inconscientemente, ou nem tanto, ele levou a mão pequena até a coxa de Junghyun, sentindo o corpo maior reagir ao simples toque, tão sensível. Maldito seja Jeon K. por poluí-lo de maneira tão insana.

— Você quer almoçar comigo? — A pergunta sai abafada, a voz de Junghyun é grossa e áspera. Jimin imaginou como seriam seus sussurros em um momento íntimo.

— Por que eu, Junghyun? Tem tantas pessoas que dariam a alma para poder estar com você, o que você vê em mim?

— Ainda não deixei óbvio? Desde o oitavo ano, Jimin, desde que passei pela entrada dessa escola, a única coisa em que eu tenho pensado é em como eu chegaria perto de você.

Jimin sentiu a pele ficar vermelha, ele respirou pesado como se o ar estivesse escasso, aquilo não parecia certo, mas também não parecia errado. A única vez que esteve com alguém foi com o pintor, nada além de sexo e sua mente profana gostou daquilo, entretanto, o garoto a sua frente parecia estar lhe oferecendo passeios de mãos dadas, almoçar juntos, tomar sorvete nos fins de tarde, coisas demais para quem sequer tinha coragem de dizer a verdade a mãe.

Ele não deixava dúvidas sobre nada, nem mesmo as pequenas coisas. Junghyun era convicto de certezas, mas Jeon K. apareceu primeiro e Jimin estremecia quando as lembranças o assaltavam durante a noite.

Ainda sentia seu corpo gritar por aquele homem que talvez só veria quando fosse mais velho, talvez, a dúvida era crescente dentro do próprio corpo.

Ele se apaixonou pela manhã da segunda-feira, quando foi recebido com beijos fervorosos e chocolates antes que pudesse entrar na suíte, se apaixonou pela maneira que o Jeon tocou seu corpo diferente das outras vezes, o coração chegou acelerar quando foi beijado dos pés à cabeça e a forma que o pintor jurou nunca o esquecer. Jungkook estava impregnado em seu corpo e em sua memória.

Assustado com tantas coisas que sentia pelo pintor, Jimin tomou uma decisão.

— Quero. Eu quero almoçar com você.

Não pensou muito, não percebeu que estava perdendo-se em decisões precipitadas.

A sensação da sua pele está presa na minha cabeça.

Colors | JikookWhere stories live. Discover now