Capítulo 23

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  Capítulo 23 

Ser humano, é ser lembrado constantemente que você vai morrer, que a terra será o destino da sua viagem, e a melhor maneira que a humanidade escolheu para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder, que todo seu esforço se tornará nada, e que você está nú, e não tem verdadeiramente coisa alguma, é seguindo seu coração e suas emoções… Ao invés de se desassociar de tudo, eles se agarram com tanta força ao seu tempo com vida, que fará que de certa forma, tenha valido a pena.

Em algum ponto o vampiro perde essa "habilidade", perde a emoção de coisas novas, a felicidade de criar, destruir ou simplesmente viver… Ser um vampiro é como viver em depressão, tudo parece cinza e sem graça, e às vezes sem sentido. Vampiros se lançando ao sol sem nenhum tipo de proteção não era algo raro. 

Enquanto vampiros sentiam menos, humanos sentiam demais.

E por mais que eu almejava ser uma vampira por completo, eu não tinha essa dádiva, eu sentia como se eu fosse explodir em uma bagunça completa de emoções, não bastava a confusão que o lobisomem fazia a minha cabeça, bagunçando meus planos… Agora existia mais uma incógnita a minha vida, a criança.

Uma semana se passou desde que Caído  havia chegado a mansão e também em minha vida. Ele era claramente um garotinho recluso e tímido, mas vacilante e atento a qualquer mínimo sinal de hostilidade. Principalmente quando vinha do Alfa, mesmo um olhar atravessado e um franzir de sobrancelhas do loiro era o suficiente para que a criança ficasse em alerta. Eu não sabia se aquela desconfiança e o medo que a criança exalava vinha pelo que ele tinha sofrido nas mãos dos caçadores, ou se era algo a mais que eu estava perdendo. Porque, ao mesmo tempo em que ele se eriçava como um gatinho assustado na frente de um cachorro, ele me olhava com olhos quase de adoração. Algo que me assustava e ao mesmo tempo que me deixava fascinada com essa interação sem… "Malícia".

Uma das questões que me aproximava ainda mais da criança, era que eu não sabia muito sobre o mundo, assim como ele. Enquanto eu dormia por séculos, ele mal podia ver a luz do sol… O que deixava que qualquer assunto entre nós fosse cada vez mais divertido. Ao menos, no começo, até os pesadelos e alucinações começarem.

 Mas, por mais que meu interesse pela criança aumentava sem parar, episódios estranhos apareciam do nada, principalmente quando eu ficava muito tempo com ele. Bizarro.

 Quando Caído apresentava esses comportamentos de transe hipnótico, seus olhos ficavam vidrados e sem foco, como se ele estivesse perdido a visão, com um olhar leitoso e distante. Como se estivesse assumido o espírito de um velho caquético as portas da própria morte. Mas não foi somente uma vez, episódios após episódios, o garoto entrava em transe, era estranho e desconfortável, mas como não durava mais do que segundos ou no máximo minutos, eu não quis informar o alfa, ele já estava paranóico com Caído, e isso só o deixaria ainda mais desconfiado do menino.

Uma das melhores descobertas que eu tinha descobrido sobre a mansão, era a biblioteca, e era onde eu e a criança pasavamos o tempo…

Conversando se o tal país chamado Austrália era real ou não, ou quem era o verdadeiro criador do avião. 

Quando o garoto simplesmente parou, sentando em uma das poltronas de frente para mim, com um cobertor xadrez confortável sobre os joelhos, seus olhos me encarando como se estivesse possuído.

 - Caído… Sussurrei, tentando chamar a atenção do garoto, dessa vez, o transe já estava durando muito tempo. - Você está me assustando… Você está bem… - Hesitei antes de sair da minha própria poltrona e me agachar na frente da criança, não perdendo o seus olhos agora "assustadores" seguindo cada movimento meu.

A Noiva Do Rei  (O Filho Do Alfa)Where stories live. Discover now