Capítulo 1.( Monstros )

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Nunca me identifiquei com os outros garotos. Eles jogavam bola todos os finais de tarde e, isso não me era relevante. Poucas coisas do universo garotos me saltam os olhos. Meu pai insistia em me ver brincar com eles. Uma vez sentou-se na frente da nossa antiga casa, repousando sobre sua cadeira de balanço, com sua xícara de café gigantesca. Ele torcia para mim. Para que fizesse um gol. Torcia para que eu fizesse amigos. Torcia para que algo dentro de mim saísse mais " masculino ". Consegui fracassar absolutamente em tudo. Não via algo errado nisso. Em nada disso. Mas por alguma razão, meu pai via. E isso para ele era o suficiente.

Eu não era como os outros garotos. E meu pai sentia isso no fundo também. Por isso ele insistia tanto. Isso nunca me fez " Menos homem " do que eles.  Mas para minha família, eu era uma causa perdida. Uma causa perdida igual à muitas outras causas perdidas mundo afora.

Ele tentou por um longo tempo. Mas logo desistiu. E em fim, cá estou eu! Um menino modesto do interior.

Acordei com os raios entrando pela fresta da minha janela. Eu havia prometido à mim mesmo que iria concerta-lá, mas, nunca fiz. Tento levantar umas duas vezes do meu magnífico conforto. Porém, não obtenho sucesso algum. O dia lá fora emana energias preguiçosas. Um clima agradável para viver apenas debaixo dos lençóis. E talvez eu faça isso.

Me acomodo entre os cobertores, tentando ficar ao máximo quieto possível. Invisível aos seus olhos de gavião. Talvez me camuflando, minha mãe possa achar que já esteja a caminho do colégio.⎯ Porém, para minha infelicidade, dona Maria sabe o filho que tem. Veio cantando e dançando como sempre faz pelas manhãs. Segundo ela:  Uma casa sem música é uma casa sem vida. Posso ouvi-lá mexer algo dentro de sua Tupperware rosa gigante. Sinto cada passo dançante percorrer o corredor vindo em minha direção. Passos calorosos que pousam bem rente a minha cama. Um silêncio pairou. Talvez ela ache mesmo que não esteja em casa. Talvez, meu plano tenha funcionado. Certo?. Errado!. Sinto o vento gélido consumir meu corpo assim que ela arranca minhas cobertas.

Hugo: Ei!!!.⎯ Grito me encolhendo na cama.⎯ Eu poderia estar pelado aqui.⎯ Ponho minhas mãos sobre meu rosto.

⎯ Como se eu nunca tivesse dado banho em você né, criatura.⎯ Arremessou em mim o cobertor.⎯ Não pode se atrasar em seu primeiro dia de aula. Estou fazendo bolinhos de caco para o café.

" Bolinhos de Caco" Eu não sei o porquê deste nome. Não sei de onde eles vinham ou como foram inventados. O que eu sei é que minha mãe os faz  maravilhosamente bem!. São macios, fofos como panquecas, mas não são panquecas. São algo amais. São divinos.

Levanto-me desejando que o mundo entre em combustão e que o núcleo da terra exploda. Desejo que todas as coisinhas que orbitam o universo lá fora queimem. Talvez assim eu possa evitar minha ida ao colégio. Não sou fã de escolas, mas qual adolescente é!? Creio que nunca conheci alguém que amasse passar horas e horas estudando coisas que possivelmente nunca serão usadas na vida adulta. Terei bastante tempo para devagar sobre isso no banho. Amo banhos demorados e totalmente barulhentos. Sempre coloco alguma música para tocar. A da vez foi " Monstros " do Jão. Não me considero alguém melancólico, mas por alguma razão, essa tem se tornado uma música que conversa bastante comigo. Deixo a água me inundar por inteiro antes de sair.

⎯ Querido, gostaria que viesse para casa mais cedo.⎯ Está coando o café enquanto vê à reprise da novela no celular. Ela veste um de seus longos e floridos vestidos. Está linda. Queria dizer isso para ela, mas por algum motivo minha voz sempre trava. ⎯ Sua tia vai trazer algumas colegas e, vamos fazer uma pequena comemoração. Gostaria da sua ajuda.

Hugo: Mas, você me prometeu que iríamos terminar de assistir nossa série.⎯ Não éramos muito de conversar. Na verdade, eu não sou capaz de falar com as pessoas. Detesto. São sempre coisas banais na qual não me interessam nem um pouco. Gosto de ficar no meu canto. Mas uma vez ela sentou ao meu lado e assistimos metade da série. Às vezes ela intercalava uma pergunta sobre a série e sobre minha vida. Nunca falava mais do que o necessário. Não saio muito, então não tenho o que comentar sobre minha vida. Ela é tediosa.

Kauã & Hugo ( Romance Gay )Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora