Capítulo 8.( Meninos & Meninas )

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Alguns pesadelos estavam se tornando mais recorrentes do que o desejado. Nunca mais havia tido eles. Desde que o vovô foi internado, eles aconteceram, mas em um momento parou e nunca mais voltaram. Mas, depois do beijo do Kauã, eles voltaram. Em um deles, estávamos perdidos em meio a um matagal enorme, totalmente esverdeado. Um verde esmeralda intenso. Sobre nossas cabeças o céu era fúria. Era cinza e escura e triste. Chovia forte e os raios clareiam toda cena. Observei ele no meio do matagal. Eu gritei, gritei e gritei. Mas ao mesmo tempo, minha voz se negava a sair. Quanto mais eu gritava, mais o Kauã se afundava entre a imensidão. Até o ponto em que só via seus dedos sumirem lentamente em meio a vegetação. " HUGO!!"
Aquilo o puxou para dentro e o levou de mim. Acordei abruptamente. O suor havia tomado conta da minha cama por completo. Meu peito sobe e desce tão rápido que por um momento achei que estava morrendo. Merda! Odeio pesadelos! Odeio vocês. Puxo minhas cobertas, visto meu short e caminho lentamente até o corredor. O barulho pesado do tic-tac do relógio marca sete horas em ponto. " Já acordado?".". Me assustou ao berrar no fim do corredor "  Teve um pesadelo?"  completa. Solto ar pelo nariz e sigo em sua direção.

Hugo: Ando tendo alguns. Odeio eles. ⎯  À porta de trás da cozinha está aberta, e posso ver nosso jardim. Amo tomar café admirando ele. A mesa estava posta com tudo que tínhamos direito em um café da manhã: Ovos fritos, bolo "Formigueiro", café e suco, pães e uma boa música de rádio. Puxo uma das cadeiras e quando termino de bocejar, digo  ⎯ Acho que só faltou um vinho. ⎯ Seus olhos cerrados me corta como faca. Deixo um sorriso escapar.

⎯ Não tem graça⎯ Diz sentando ao meu lado. Pego uma porção de ovos e as coloco dentro do pão. Logo em seguida me sirvo de uma enorme xícara de café. Ela observa tudo com um livro em mãos. Tento forçar a gracinha mais uma vez.

Hugo: Ué, isso é claramente francês! Tomar um vinho no café da manhã. Sophistiqué et excentrique. ⎯ Dou um gole no café.

⎯ Acontece que você nasceu no interior do Brasil, Hugo. Nada de francês nisso. ⎯ Seus cortes matinais são sempre certeiros.

Hugo: Sem graça... ⎯ Ela me lança uma piscadinha. ⎯ Então, o que a senhora está lendo?⎯ Minha voz saí abafada devido a quantidade de pães dentro da minha boca.

⎯ "A Hora da Estrela", de Clarice. Gosto muito da forma como ela explora alguns aspectos da vida, do ser...do amor.

Não fazia ideia que minha mãe gostava de Clarice. Mas para ser sincero, nem eu sabia que gostava de ler poemas até ler um. Mantive os olhos centrados nela, esperando que entenda o que estou querendo dizer. Quero que leia para mim. " Quer que eu leia?" Digo que sim com a cabeça. Ela pigarreou antes de começar:
para vermos o azul, olhamos para o céu. A terra é azul para quem olha do céu. Azul será uma cor em si ou uma questão de distância? Ou uma questão de grande nostalgia?

O intocável é sempre azul.

Enquanto sua voz doce ecoa pela sala de jantar e nos corredores da casa, me imagino deitado sobre um gramado bem longe daqui com Kauã em meus braços. Estamos de óculos escuros, Regatas, shorts jeans rasgados e all star. Em um momento, ele apoiaria sua cabeça sobre minha mochila e eu apoiaria à minha cabeça em seu peito. Poderia sentir sua respiração, seu peito subindo e descendo, seus dedos entre meu cabelo e os raios de sol em nossa pele. Tudo isso enquanto observamos o céu e sua  imensidão azul. Porque o intocável é sempre azul;
Às duas e meia da tarde, me pego parado na frente da casa dos Marinos segurando um brigadeiro de panela que minha mãe havia feito. Pensei em diversas coisas antes de subir os degraus. Não pensei em coisas legais, óbvio. Minha cabeça nunca pensa no melhor. E como se ela fosse uma máquina de pensamentos ruins. Às vezes, só às vezes, queria poder parar meus pensamentos. Tentar fugir disso tudo. Mas sempre que penso sobre eles, mais pensamentos surgem. É uma tentativa frustrada.
Limpo minha garganta, meus lábios estão secos e nem mesmo minha saliva pode deixá-los úmidos. Arrumo meu cabelo, elevo minha mão para porta e antes mesmo de bater ela se abre para mim. Meus olhos estão arregalados de susto e o sorriso do Sr. Marino é imenso. Ele diz:

Kauã & Hugo ( Romance Gay )Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang