Capítulo 2.( A Rua )

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Os acasos acontecem, de fato. Casos ligeiramente raros de serem presenciados. E se esse for um desses. Não estou só observando como vivenciando. E não se pode deixar algo assim passar. Meus olhos encontraram os dele e um arrepio percorreu minha espinha descendo até meu cóccix. Foi estranho. Um sentimento inebriante que jamais havia sentido. Meus olhos cravados nos dele, gritando medo e susto. Os dele, verdes como um matagal, brilham em encanto. Como se tivesse caído em cima de um baú de tesouros. Não sei o motivo, mas percorri seu rosto por completo, analisando cada detalhe: Lábios carnudos e vermelhos, nariz pontiagudo e um sorriso assanhado de canto. Que diabos é esse menino?

Kauã: O-oi..⎯  Disse sem mover um músculo. Ainda posso sentir sua respiração quente se misturar com a minha. Poderia dizer que em alguns momentos ouvi seu coração bater forte. Quase querendo escapar do peito.

Hugo: O-oi...⎯ Saiu em unisom. Posso sentir a saliva descer seca na minha garganta. Só voltei ao meu estado mental concreto ao sentir o skate batendo em meu ombro. Ele havia voado contra a parede. Pigarro e digo⎯ Gostaria que saísse de cima de mim!.⎯ Seus olhos tentam me decifrar. Percorrendo todo meu rosto. Ele bufou e disse

Kauã: Bom, eu tentaria sair, se você não estivesse agarrado à mim.⎯  Olhei para minhas mãos. Fortes e cravadas no couro da jaqueta. Queria sair mas não conseguia. Minhas mãos estavam enrijecidas. Duras como pedra em um completo desconhecido.

Kauã: Ok..⎯ Bufou ao me encara..⎯ Suponho que terei que levantar nós dois.⎯  Retrucou sorrindo. Com um simples puxão, ele nos levantou. Não sou o cara mais musculoso e robusto do mundo. Na verdade, sou bem magrelo. Não me surpreendeu sua agilidade em me levantar com tanta facilidade. Me senti uma folha de papel.⎯  Muito prazer, menino das mãos fortes!.⎯ Sua voz soa firme agora. Um ar de camaradagem. Os tapinhas nas minhas costas me fazem lembrar que já estávamos em pé e, eu ainda não havia largado.

Hugo: Ugh...⎯ O largo finalmente. Sinto as pontas dos dedos formigando.⎯ Muito prazer,⎯ Faço uma pausa e me abaixo segurando seu skate em mãos.⎯ Menino distraído do skate!.⎯ Abre um sorriso solto. Ao seu lado direito, meu óculos repousava sobre o asfalto. Ele fez o mesmo que eu. Se abaixou e o segurou com toda delicadeza.

Kauã: Acho uma troca justa.⎯  Limpa as lentes na camisa⎯  Meu skate por seu óculos.

Hugo: Não sei se deveria devolvê-lo.⎯ Caralho, que merda foi essa? Eu não deveria ter falado assim. Quem eu penso que sou? Tentando soar engraçado. Nunca fiz isso⎯  Vai que você faz outra vítima.⎯ Merda, Hugo! que caralhos você tá fazendo?  As palavras estão escorregando pela minha boca. Ele sorriu novamente. E seu sorriso é lindo. Chamativo. Cativante. Algo que o meu jamais seria.

Kauã: Prometo que não irei atingir mais ninguém, menino de mãos fortes.⎯  Ele faz uma pose que me lembrou muito aquelas que os personagens de Atack on Titan fazem.⎯  Father, son and house of Gucci.⎯  Diz fazendo o gesto da cruz no corpo.

Hugo: Ahh não, você está prometendo em nome de um filme péssimo desse.⎯  Retruco rindo.

Kauã: Qual é, pelo menos à Lady Gaga mandou muito na atuação.

Estamos rindo novamente. Me pergunto como isso é possível? Como posso me sentir tão confortável com alguém que nem sequer sei o nome ainda. Ainda não havíamos saído da frente do estacionamento. A rua é barulhenta, as motos berram e o som das coisas parecem abafados. Meu corpo está leve. Tão estranhamente leve. Nunca havia me sentido assim antes.

Kauã: Acho que não posso chamá-lo de "menino de mãos fortes" para sempre, não é!?.⎯ Leva sua mão até a cabeça e a coça. Observo cada detalhe dele. Os sapatos desbotados com cadarços soltos, calças rasgadas e blusa de legião urbana. Me pergunto como ter um estilo assim. Parece ser tão legal ser descolado. O vejo pigarrear para que eu voltasse minha atenção. Então o respondo.

Kauã & Hugo ( Romance Gay )Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon