Capítulo 5.( Manhã De Um Sábado)

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É uma manhã de sábado. Pardais entoam melodias em cima da minha janela e o mundo do outro lado parece quente e seco. Não sei que horas são. Meu alarme nunca toca aos sábados. Minha cabeça está pesada, como se tivesse passado a noite inteira em claro. Suspeito que esse seja um dos feitos da bebida.
"Kauã " sussurrou baixinho. Minha mão buscou seu corpo mas já não estava ali. Apertei as cobertas bagunçadas, iluminadas pela luz forte que emana através da janela. " Por que você se foi assim? " Bato minha cabeça contra os algodões do meu travesseiro. Não faço ideia de que horas da noite ele saiu. O efeito da bebida não me permitiu sentir seu corpo se mover para longe de mim. Eu o teria segurado se sentisse.

Quando a lucidez veio, abaixo minha cabeça para baixo da cama. Me lembro que havíamos jogado o lixo para lá, mas não há mais nada. Apenas minhas próprias bagunças. Montanhas de meias, shorts, um chinelo sem seu par e uma folha de papel. Enfio minha mão e o alcanço. " Palhaço! " Digo virando para o lado certo. E lá está mais uma das surpresas de Kauã Marino. Sua letra impecável. Ele escreveu:

"Desculpa por sair tão abruptamente, adoraria ficar para conhecer seus pais. Mas confesso que fiquei meio receoso. Não queria causar uma má impressão para eles. Fora que precisaríamos explicar como um garoto foi parar no seu quarto no meio da noite. O que seria uma ótima forma de se assumir, mas enfim. Tomei à iniciativa de arrumar à bagunça e jogar o lixo fora. Não estarei em casa nesse fim de semana :( Vou lhe dar uma folga desse bebinho sem noção :) Espero que tenha gostado da noite passada! Porque gostei de compartilhar ela ao seu lado. Um beijo, Huguinho S2.".

Minhas bochechas estão quentes. Me sinto um idiota por ficar feliz com um bilhete. Kauã é diferente de todos que já conheci. Gosto da forma que sempre tenta me fazer ficar bem. Como me envolve em suas coisas e em seu universo;
Penso também que esse bilhete é uma forma de sinalizar que está tudo certo com ele e de tudo que falamos na noite passada. Deve ser sua forma de passar o pano pelo que foi dito. E principalmente pela forma que ficou após beber. Meu peito dói em lembrar suas bochechas molhadas e seus olhos vermelhos.

Abro a gaveta da minha cômoda, puxo os papéis soltos e coloco o bilhete sobre uma foto minha bebê. Há várias coisas nessa gaveta. Coisas que são realmente importantes para mim. Jamais poderia deixar esse bilhete fora dela. Jamais.

As manhãs de sábado possuem um tom sereno. São mais calmas. Então, após um banho quente, o que fora uma tentativa de tirar o peso da bebida do meu corpo. Visto um calção de verão,  coloco meu pingente e desço para ficar de bobeira no jardim. Atravesso a sala indo em direção aos fundos. Não faz tanto sol e minha mãe me fazia companhia. " Dormiu bem?"  Está vestida com um longo vestido e o avental sobreposto por ele. Está linda. " Não sabe o quanto " Pensei em conta-lá. Falar sobre a noite anterior e tudo que aconteceu no meu quarto. Mas não teria como. Minha mãe surtaria com tantas coisas proibidas que fizemos. Ela me mataria. Respiro fundo e sinalizo que sim com a cabeça quando me perguntou se posso regar as plantas.

Minha casa tem dois andares. O que particularmente eu adoro! Gosto de observar as pessoas do lado de fora. De como seguem e vivem suas vidas. Às vezes elas parecem bonequinhos de The sims. E eu me imagino controlando cada ação.
  Também temos uma varanda e um enorme jardim atrás, com uma grama verde vibrante que sintila ao ser iluminada pela luz do sol. Nos dias quentes, quando molhamos, fico descalço sentindo o cheiro e a textura da lama em baixo dos meus pés. Às vezes me deito sobre ela. Às vezes leio meus livros, sentindo o pinicar da grama. Mas não dou à mínima. Quando o sol está indo embora o muro alto de pedra cheio de musgo contempla sombras, onde passo o resto do dia deitado. Apenas sentindo e ouvindo.

Todos os sábados, meus pais fazem churrasco. Virou uma tradição familiar. Sempre aos sábados e sempre com as mesmas pessoas. Meu pai costuma beber com os amigos do trabalho. Ambos velhos e barulhentos. Acho que os únicos dias em que troco palavras com meu pai são aos sábados. Ele costuma falar de como tem um filho gentil e educado. Se orgulha disso. Se glorifica das minhas notas e de como sou um ótimo filho. Seus amigos dizem à mesma coisa. Às vezes perguntam se tenho namorada, porque segundo eles: Garotos da sua idade já precisam afogar o ganso. Mal sabem eles que gansos nadam e não se afogam. Meu pai costuma cortar essas perguntas dizendo: Ele ainda é muito jovem. Tem que focar nos estudos. Sei exatamente o que ele pensa quando essas perguntas surgem. Mas prefiro me fazer de burro, pegando meu prato e indo de volta para o quarto.

Kauã & Hugo ( Romance Gay )Where stories live. Discover now