Capítulo 15.( Kill Bill )

37 8 0
                                    

Na terceira semana na fazenda- Passamos mais tempo do que esperado e isso está me deixando louco! Quero voltar para cidade e beijar meu homem-havia voltado do rio, estou pingando dos pés a cabeça, cruzo a sala onde meu pai tira um cochilo, passo pela cozinha onde minha mãe e a governanta discutem receitas e elas me olham como quem diz " Você não tem roupas?"  Passo todas as manhãs e tardes no rio, então sempre saio de short ou de cueca. Óbvio que não vou usar muitas roupas.
Lá em cima, meu banho foi longo e todo atrapalhado pelos gritos de mainha me chamando. Desço alguns minutos depois- Agora com roupa- E ela me faz o seguinte pedido: Preciso que pegue esse balde e vá até o curral. Precisamos de leite e eu não vou acordar seu pai. Pode fazer isso por mim?" Pensei em dizer Não, saiu quase no automático, mas disse: Claro! Vai ser como tirar doce de bebê. Uma mentira óbvia! Ela sorriu e me disse: Deixei uma roupa melhor pra você pendurada na cerca. Faça bom proveito!
Só pode ser brincadeira. Assento tudo e sigo meu caminho com o balde em mãos.

Ordenhar. Uma ação que só conhecia através de séries e filmes, onde o protagonista se dedicava a essa tarefa, geralmente com uma resolução positiva. Mas pressinto que não será o meu caso. Desde que pus os pés aqui, não havia visitado o estábulo ou o curral. Prefiro passar horas desenhando as paisagens ou contemplando a queda d'água direto da cachoeira às margens do rio. No entanto, nem tudo são flores, e elas precisavam de leite para as receitas. Poderiam ter comprado no mercado! Disse para mim mesmo e uma voz em minha cabeça veio como resposta: Estamos em uma fazenda, idiota! Temos vacas aqui. Não tem motivos para usar algo industrializado.

Ignoro esse pensamento e sigo em frente. E lá estava eu, parado, com uma bota um tanto brega, a única que servia, com estampas de vacas. Uso uma calça jeans rasgada e uma blusa branca estampada com a capa do álbum 'Pirata' do Jão. Por um momento, me sinto uma pobre camponesa. Ao adentrar o curral, deparo-me com os animais em seus espaços. Assim que coloco o balde no chão, os patos começam a alçar voo de um lado para o outro, grunhindo como se eu fosse um predador fatal. Tento manter a calma e me abaixo, a última coisa que desejo é ser atacado por um pato voador.  Aguardo até que se acostumem com minha presença para iniciar meu trabalho. Sabendo que não será nada grandioso.

À medida que a tranquilidade se estabelece, encaminho-me na direção delas, e todas as vacas voltam sua atenção para mim. Sinto como se fosse o Doutor Dolittle, e todas as vaquinhas estivessem pensando "Não acredito que esse cara vai colocar as mãos nas nossas tetas". Bem, vaquinhas, eu também reconheço que não sou digno desse ato.  A situação era peculiar, e, por um momento, minha vontade de tomar leite desapareceu. É como quando descobrimos como alguns alimentos industrializados são produzidos; simplesmente, não conseguimos mais ingeri-los. Ajoelho-me lentamente e começo com delicadeza, fazendo movimentos de sobe e desce com as mãos. Elas não manifestam nenhuma reação aparente. Fico pensando o quão invasivo esse processo pode ser. Alguém com as mãos nas suas te... enfim, prefiro não pensar muito nisso.

Ao concluir, uma das vacas puxa minha bota com tanta força que caio tão rapidamente ao chão que nem tenho tempo de processar o que acabou de acontecer. É como se o universo bovino conspirasse contra minha dignidade.

Hugo: Cara....⎯ Ela estava mastigando minha bota de vaca e foi ai que eu percebi.⎯  Acho que eu deveria ter escolhido uma bota melhor né, menina!.⎯  'muuuuuuu' Ela me " responde". Assenti como se fosse um " Pois é, bocó". Levanto e tiro o que um dia foi uma bota da boca dela. Ela me permite acariciar sua cabeça e por um momento me senti um bom fazendeiro. Acho que levar a rasteira de uma vaca me fez ficar um pouco mais ligado no que estou fazendo.

Entrei na cozinha e minha mãe estava trocando o disco na vitrola. " Quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida " Cazuza preenchia totalmente o espaço. Lembro-me como se fosse ontem, ela fazendo isso na casa da vovó. Eu era pequeno, mas tenho uma memória boa diante desses momentos. Era lindo vê-las terem seu momento mãe e filha. Ambas dançavam e brincavam.
Minha mãe era jovial em gosto musical. E, também adoro o cheiro que a cozinha exala diante dos outros cômodos da casa. Pego uma maçã na cesta de frutas, subo para o quarto trocando de roupa- Ficando apenas de cueca- E volto para aproveitar o final do dia no rio. A natureza me abraça tão bem aqui que me sinto parte dela de alguma forma. Algumas noites atrás achei um conto no qual gostei muito, ele fala sobre Aquiles e Pátroclo. Existem várias interpretações de como as relações pessoais deles eram, porque muitos acreditam que eles eram apenas amigos e outros que eram amantes. Não sei ao certo qual é a minha interpretação, mas achei essa uma das coisas mais interessantes que li aqui. Obviamente minha mente fluiu entre toda essa narrativa e em alguns momentos me peguei pensando e me colocando no lugar de alguns personagens. Imaginei Kauã como Aquiles, aquele guerreiro forte e que sempre é lembrado por todos. E me coloquei no lugar de Pátroclo, que nem sempre é tão lembrado, mas mesmo assim tem seu papel. Me vejo como ele muito pela perspectiva que a autora trouxe: Ele é um menino não muito inteligente mas também não burro, nem muito forte mas também não é fraco e a única coisa boa que ele possue é saúde. Sou totalmente Pátroclo! Encontra ponto, tenho o meu Kauã que diverge de todas as minhas características. Ele é meu Aquiles e eu sou o seu Pátroclo! Seja para sermos apenas fiéis amigos de batalha ou amantes entregues. Serei apenas dele.

Kauã & Hugo ( Romance Gay )Where stories live. Discover now