Capítulo 14.( Minha Mãe )

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Um dia antes de Kauã retornar à cidade, precisei fazer uma viagem com meus pais. Minha mãe não estava bem, e meu pai estava visivelmente preocupado. A perda do vovô a afetou profundamente, mesmo que fosse algo inevitável. Em uma tarde de domingo, dirigimos até uma fazenda, propriedade de amigos de meu pai, localizada longe da cidade. Minha última lembrança de lá era um antigo balanço segurado por uma corda. No trajeto, paramos em uma conveniência, típica das beiras de estrada, próxima a um posto de gasolina. Enquanto meu pai abastecia, minha mãe me convidou para comprar alguns itens para abastecer a geladeira.

Ao entrarmos, o atendente prontamente ofereceu ajuda. Era alto, de pele clara e seus cabelos tinham um tom loiro tingido. Por um instante, sua imagem me lembrou o meu Kauã, não apenas por sua beleza, mas também por sua educação. Dirigi-me a uma pilha de livros, dispostos perto da máquina de café, e antes mesmo de me abaixar, ele se aproximou e disse:

⎯ Não estão à venda.⎯ Disse ele, apoiando-se na parede com o cotovelo.⎯ Sinto muito, são as regras da casa.

Hugo: Desculpa, desculpa mesmo. Eu só queria dar uma olhada naquele.⎯ Aponto para um livro da Agatha Christie e dou uns dois passos para trás dos livros. Ele sorriu e pegou o livro.

⎯ Você lembrou de alguém? Ou só gosta do gênero?⎯ Ele pergunta de um jeito descontraído.⎯ E que...quase todo mundo que entra aqui, diz que lembrou de alguém vendo essa montanha de livros. Aí elas ficam tristes quando as digo que não podem levá-los.

Hugo: Ahhh sim, sim... eu meio que lembrei de alguém sim. E que eu lembrei do meu....⎯ Travo outra vez. Parece que todas as vezes em que tento falar essa palavra: "Namorado", vem uma mão e sufoca minha garganta. Então eu escuto, não de mim, mas dele.

⎯ Namorado?⎯ Ele diz de um jeito natural. Na boca dele era leve e fácil. Como? Como ele consegue?⎯ Seu namorado gosta de algo meio investigação de crimes?.

Tento me recuperar do transe que essa situação me deixou e, logo que consigo voltar em mim, o respondo.

Hugo: Eee...sim, ele gosta!⎯ Acho que é notório a minha tremedeira. E também porque ele me ofereceu um pouco de água quando percebeu.

⎯ Desculpa parecer um pouco inconveniente. Mas não me parece que você ficou confortável em contar isso.⎯ Eu abaixo minha cabeça.⎯ Vou voltar para o caixa. Fique à vontade.⎯ Ele diz indo com o livro em mãos.

Fico observando ele ir e, de um jeito involuntário, vou até ele.

Hugo: E meio que...⎯ Ele para de mexer no computador e me olha.⎯ Meio que ainda é muito cedo e, não faço ideia do motivo de estar contando isso para você, mas... eu ainda não sou assumido.⎯ Eu não sei explicar. Parecia que eu havia tirado um navio cargueiro que estava em cima de mim há anos. Ele apenas sorriu.

⎯ Eu lhe entendo! Para a gente, coisas simples são passos enormes. Mas isso não significa que você não possa falar e ter orgulho de ter um namorado.⎯ Ele me entrega o livro.⎯ O meu ex também gostava de Agatha Christie. Ele gostava de muitas coisas para ser mais exato... e principalmente gostava da vida. Olha, carinha da mãe legal.⎯ Diz se referindo a mim.⎯ Eu não faço ideia de para onde está indo, mas à estrada é longa... e o poder de dividi-la com alguém, é a coisa mais linda. Não precisa assumir nada se não estiver confortável com isso.

Ele mudou de assunto quando minha mãe chegou atrás de mim com as coisas. Fiquei ali, parado, olhando para fora do estabelecimento enquanto minha mãe e ele falavam de várias coisas. Quando saímos, dei uma última olhada para a conveniência, e ele deu um tchauzinho para mim. Retribuo. Não acreditava no acaso das coisas, mas, de uns tempos para cá, passei a acreditar.

Kauã & Hugo ( Romance Gay )Where stories live. Discover now