1. Across The Ocean

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Londres chamando do topo do relógio
Depois de tudo isso, não vai sorrir para mim?
London Calling, The Clash

Após quase onze horas de voo dentro dessa lata de sardinha com asas, finalmente pude avistar a cinzenta e fria Londres, que conhecia somente de ouvir falar

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Após quase onze horas de voo dentro dessa lata de sardinha com asas, finalmente pude avistar a cinzenta e fria Londres, que conhecia somente de ouvir falar. Me remexi na poltrona observando a cidade em meio as nuvens, não fazia ideia de que horas seriam, sabia somente que era dia, pelo sol que brilhava lá fora.

Dormi por horas, quase o trajeto todo. O pavor de voar insiste em me acompanhar, não se importando com os anos que vivi viajando constantemente de um lugar para outro. O calmante que tomei para essa viagem seguir dentro do meu controle, me permitiu boas horas de sono, minha noção de quanto tempo já estava dentro desse avião, só existia por ter pesquisado quantas horas duraria um voo direto de Los Angeles à Londres.

Ansiava pelo momento em que estaria com os pés fincados em terra firme novamente, me recorreu o fato de que sobrevoei o oceano atlântico e meu estomago revirou em resposta, meu peito palpitou desesperado pelo medo cair nas aguas azuis e profundas, e nunca mais encontrarem meu corpo para ter uma despedida digna.

Você já passou por lá, não precisa surtar com medo do avião cair no oceano.

A voz de minha racionalidade me lembrou. Antes que pudesse contestá-la, a voz do piloto ressoou por todo local dizendo:

"Senhores e senhoras, aqui quem fala é o comandante. Dentre de poucos minutos, estaremos pousando no Aeroporto Heathrow de Londres. O clima é ameno, a temperatura é de oito graus célsius. A previsão é céu parcialmente nublado e com neve por todo o final de semana. Aproveitem a estadia e obrigada por escolher a nossa companhia aérea."

Ameno???

Gritou dentro da minha cabeça. Oito graus poderia ser qualquer coisa, mas ameno não era uma delas. Os dias em Los Angeles em geral, eram ensolarados, uma batalha será travada entre mim e o clima da capital da Inglaterra. Algo lá fora chamou minha atenção, me fazendo esquecer meu descontentamento com o frio que teria de enfrentar, o vislumbre tomou meus olhos assim que o Big Ben entrou em meu campo de visão. Naquele exato momento, e fatídico, cai em mim e o choque foi inevitável, a realidade vinha à tona, minha vida estava a alguns pés de distância, de mudar totalmente, quase que da noite para o dia.

Os minutos que se seguiram foram aterrorizantes, o pouso sempre me deixava ansiosa e com muito medo do avião ir de bico na pista, mas quando meus pés tocaram o asfalto e a brisa fria de Londres cortou meu rosto, me encolhi dentro do sobretudo caramelo de linha na tentativa de conter o frio que me acertou em cheio, uma explosão de emoções aconteceu, eu estava bem, estava em solo europeu, estava prestes a conhecer meus novos colegas de trabalho e me aventurar em um universo que eu particularmente sou fascinada.

Atravessei o saguão com minha mala de mão empunhada, nela estava o meu maior e mais importante pertence, minha câmera fotográfica, não a mantenho longe nunca, em hipótese alguma, o mundo através de uma lente me parece muito bonito, e poder guardar momentos congelados no tempo é a ideia perfeita de lembrança vívida. Próxima da esteira, procurei pelo restante das minhas bagagens, eram quatro no total e dentro delas estavam tudo de essencial em minha vida, mudar de país com somente quatro bagagens e uma mala de mão, me fazia relembrar quando me mudei de Nova York para Los Angeles, totalmente sozinha e desamparada, com apenas dezoito anos, para correr atrás dos meus sonhos, e eu consegui, alcancei meu propósito e trabalhei por cinco anos fotografando backstages e eventos por toda Hollywood, pela revista Variety e graças ao meu bom trabalho, que fez com que meu nome fosse reconhecido nesse meio, apesar da pouca idade, fui agraciada por um contrato com a Rolling Stone e uma estadia em Londres com todos os custos pago por eles. Aos vinte e três anos, eu alcancei mais uma conquista, acredito que já vivi todas as emoções possíveis e que agora não posso mais esperar que algo mais extraordinário que isso me aconteça.

First Impressions - Ewan MitchellWhere stories live. Discover now