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Domingo

A fumaça partia pelo ar escurecendo o céu azul, ao que ouvia-se o crepitar suave da carne sobre a grelha.

Era domingo, e domingo era dia de churrasco, sempre que meu pai folgava. Era uma das regras mais importantes de nossa casa, que seguíamos fielmente fizesse sol ou fizesse chuva. Felizmente naquele dia o sol estava torrando como era o ideal para aquela prática e nós tínhamos enchido a piscina redonda de plástico no jardim (jardim é uma palavra simpática para chamar a varanda detrás de nossa casa, onde nada cresce se não capim e um pé de acerola solitário).

Meu pai cuidava da carne, enquanto eu zelava por uma vibe impecável, e Taehyung preparava o pão de alho (uma das mais extraordinárias invenções já feitas). Tio e tia Kim vinham do supermercado com mais guarnições, e a prima de Taehyung, Hanni, que tinha chegado de São Paulo e ficaria um tempo em sua casa, pois os pais estavam passando por um divórcio, tinha saído comprar gelo.

Coloquei minha playlist "churras numa nice" no aleatório e começou a tocar Que Dure Para Sempre de Negritude Junior. E caramba, a letra bateu tão forte em mim que foi como se a música fosse um tipo de profecia muito tangível. Parecia compreender tudo o que eu sentia e tudo o que eu desejava.

Que seja eterno enquanto dure esse amor

Que dure para sempre

Que venha abençoado por Deus

Que seja diferente

Que tenha alegria

Que ponha fogo em mim

Quem é que não quer um amor assim?

A cada verso minha mente trazia a imagem de Jimin, ainda que eu lutasse contra.

Jimin dos encontros acidentais.

Jimin dos sorrisos doces dados como presentes.

Jimin da pele dourada e dos cabelos de anjo.

Dos apelidos inesperados.

Das mãos pequenas.

Do semblante tão gentil quanto avassalador.

Das unhas pintadas, das regatas, dos convites, ações, falas que remexiam tudo dentro de mim.

Da guitarra elétrica e do olhar aceso feito chama.

Jimin que me causava vontade de dizer algo, vergonha e nervosismo, e me levava a beira, puxando as palavras para fora de mim, porque só se vive uma vez e é preciso viver como quem está prestes a morrer.

Jimin, Jimin, Jimin... o cara em quem eu pensava quando tocava alguma letra que falava de amor.

Não, não, não, não...! Porque Jungkook?

Troquei a música, ouvindo meu pai resmungar que esse era um dos meus piores hábitos, e soltei um riso nasalado, sem, no entanto, remediar ao erro.

— Ô de casa! — Gritaram do portão. Era a voz da tia Kim. Fui rápido em correr para a frente da casa, afastando os pensamentos anteriores de minha mente, e encontrando os pais de Taehyung com sacolas cheias do supermercado, suados pelo sol de meio dia. Deixei o portão aberto para Hanni e ajudei-os a carregar as compras até a cozinha, guardando os refrigerantes e as cervejas no congelador.

Tio Kim se jogou na rede, soltando um suspiro cansado.

— Tava uma fila danada no supermercado, Manoel! — disse ao meu pai, que colocou um pedaço de carne cortada num prato e estendeu em sua direção.

Carioca Trash • pjm + jjkDonde viven las historias. Descúbrelo ahora