10

468 89 13
                                    


#TrevosParaJuno


— O que você quer? Tô ocupado — disse a Daniel, tentando impor alguma distância entre nós. Eu era péssimo com isso. Costumava perdoar rápido demais. Mas assim que ouvi um gemido de dor escapar do outro lado da ligação, soube que algo de ruim tinha acontecido com ele.

Daniel começou a falar sem que eu conseguisse decifrar ao certo o que ele tentava dizer. A ligação falhava vez ou outra e a sua voz parecia embargada, saindo com dificuldade.

Em meio aos soluços e palavras emboladas, pude pescar "estrela", "arame" e "morrendo". E quanto mais eu tentava decifrar suas palavras, mais o meu coração batia rápido no peito, com a possibilidade do que podia ter acontecido.

— Dani? O que houve? O que? Fala devagar. — Jimin recolheu a mão que massageava a minha nuca e me observou em silêncio, mantendo-se ao meu lado. Olhei para o chão. — Você... Rio Sul... Eu tô na Urca... Mas... Tá... Não saí daí...

Desliguei a ligação, e levantei num pulo rápido, sentindo minhas pernas tremerem um pouco. Se fosse o que eu estava pensando...

— Jungkook, o que foi? — Jimin levantou também, me observando com atenção. — Ei...

— O Daniel, sabe, meu ex...

— Sim.

— Ele... eu não sei direito o que aconteceu, mas acho que pegaram ele perto do Shopping Rio Sul e acabaram com ele... ele não conseguia nem falar direito. Eu... — Corri até o sofá, recuperar a minha mochila e meus pertences, prendendo o cabelo para tentando ocupar as minhas mãos tremidas. — Eu preciso ir até lá...

O sangue corria quente em minhas veias e não era devido ao sol torrando lá fora.

Quando eu era criança, naquela época de inocência, eu vivia subindo em árvore para catar as frutas e brincar de pular nos galhos. Eu costumava ser bastante energético (as vezes até demais) e gostava de me sujar. Colecionava machucados, feliz da vida com o processo de estar marcando momentos no meu corpo: eu achava que um joelho vermelho e um braço quebrado me davam um ar de criança rebelde, coisa que eu nunca fui realmente, fosse pelos roxos que eu acumulava como galáxias no meu corpo.

Eu já tinha quebrado os dois braços, quase perdido um dedo do pé (não me pergunte como isso aconteceu), e ganhado uma cicatriz grande no joelho, por não usar nenhuma proteção quando eu ainda estava aprendendo a andar de patins.

Minha mãe costumava achar graça e me chamava de Tarzan, o que me caia bem porque naquela época eu já estava com o cabelo bem cumprido e estava começando a tomar bastante sol, de tanto alcançar o topo das arvores e passar tempo sentindo os raios banharem minha pele.

—Meu Tarzanzinho. — Ela dizia, sentada na varanda, tricotando algum chapéu ou blusa de verão e me observando brincar, sempre com o radio ligado na sala, bem alto, tocando alguma música de um Roberto Carlos coreano.

Todos aqueles machucados desapareceram com o tempo, sem deixar rastros no meu corpo. O que não desapareceu, no entanto, foram as cicatrizes que ganhei mais tarde, quando adolescente.

De repente, eu deixei de ser o Tarzan para me tornar algum animal de zoológico ou de circo, e assim, meus machucados que antes eram causados por uma rebeldia divertida tornaram-se frutos do ódio que eu recebia por apenas ser eu mesmo sem medo.

O primeiro machucado, fruto daquela violência sem sentido, foi um corte na bochecha, que um garoto fez com um pedaço de arame, e que deixou uma cicatriz na minha pele.

Carioca Trash • pjm + jjkWhere stories live. Discover now