Capítulo 35

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Narração Pov

Vinte anos atrás...

Lena Durand _ Temos que falar sobre isso... _ Diz a seguindo pelos corredores da escola, a loba a ignorou completamente e continuou sua busca olfativa pelo rastro da sua cria... _ Sei que isso veio de supetão, afinal é realmente raro esse tipo de coisa acontecer, tem shifters que levam vidas para encontrar seus companheiros, devo admitir que é até um pouco animador, recebemos uma enorme benção dos deuses! E por isso estou disposta a deixar as nossas diferenças de lado, as meninas merecem isso e creio que se você estiver de acordo, podemos ser pacíficas na frente delas, afinal não vai demorar muito para sermos uma família... _ Jenny parou abruptamente ao ouvir essa palavra, que praticamente rasgou seus tímpanos...

Jenny Lucero _ Família?! _ Repetiu incrédula e a ursa somente acenou amavelmente, fazendo Jenny ficar mais enojada com a ideia... _ Jamais seremos uma família Lena! Eu prefiro que rasguem meu estômago, a participar dessa ilusão que você está formando nessa cabecinha oca de urso polar!

Lena Durand _ Pare com isso Jenny, nós duas sabemos que você só me odeia, porque te ensinaram a me odiar! Sei que lobos e ursos polares têm um passado conturbado, mas eu nunca fiz mal a você ou a sua alcatéia! _ A mais nova corrigiu sua fala, ao ver a feição desgostosa da loba... _ Ou pelo menos não diretamente, você sabe que não tive escolha na decisão separativa do magistrado.

Jenny Lucero _ Não finja inocência Lena, você pode até não ter proposto a nova lei, mas sei muito bem, que não votou contra! Você sabe o que isso causou para a minha comunidade? Temos filhotes para alimentar Lena, você praticamente tirou comida de suas patinhas juvenis! _ A Lei da Servidão Indevida, a mais recente regra imposta pelo o Magistrado das Corujas, organização formada por supremos do país, de todas as espécies possíveis e liderados pelo clã mais antigo da região, as  Corujas do Extremo Ártico, a espécie shifter mais respeitada em todo Canadá. _ Cada vez mais, estamos perdendo ligação com nosso eu primário, ficando moles e respeitosos com seres inferiores, em outros tempos eu só não poderia usar meus feromônios para forçar meu companheiro, como todos  que eu quisesse, mas hoje é tudo tão politizado!

Lena Durand _ Não é correto usar seus feromônios dessa forma, impor suas vontades a espécies mais fracas e obrigá-las a trabalhar para você, eles são indivíduos que merecem a mesma chance que nós dominantes! E sabemos, o quão agoniante é ver como eles ficam sobre o nosso controle, parece que eles perdem suas almas, são só bonecas movidas a pilha, que por mais que estejam se  movendo tudo que resta ali é uma casca vazia e sem vida e você sabe o quanto isso pode ser prejudicial a longo prazo! Se quer que os texugos voltem a te servir, faça que nem eu fiz com os coiotes, sindicalize eles! Claro, eles terão que preencher muita papelada e..._ A loba rosna farta das palavras libertinas da matriarca ursa e tomada por sua fera interior avança em Lena a prensando contra a parede do corredor, o impacto foi forte o suficiente para desnortear a ursa polar...

Jenny Lucero _ Sabe o que mais me indigna em você? É a sua capacidade de ser tão hipócrita, não há muito tempo aquela coiote que cuida incansavelmente das suas crias, era a bonequinha tomada ainda filhote só para cuidar de você! Com quantos anos ela foi tomada da mãe? Sei que ela não tinha nem a idade das suas gêmeas e ainda hoje, mesmo depois de você votar a favor de uma lei "que liberta ela" ela continua cuidando não só de você como de suas crias! A única  diferença é que agora você paga um "salário digno" a ela!_ Lena poderia simplesmente se afastar da loba e suas cruéis verdades, mas se manteve ali, não por qualquer sentimento inútil de culpa. Oh não, Lena não sentia culpa por isso, pois sabia que anos de servidão a sua família tornou Nina e todas as outras coiotes que trabalham para a família, não só dependentes, como incapazes de sobreviver por conta própria, elas não serão capaz de ir embora, não encontraram o amor e nunca procriaram! Eram bonequinhas submissas aos seus donos e isso era tudo que iriam ser até o fim de seus dias, tal destino cruel a ursa não desejava nem a Jenny, que é um ser tão questionável... _ Você é patética, Lena! Depois que acharmos as crianças, vou tirar minha menina dessa escola, nunca permitirei que ela tenha uma ursa polar como companheira, um esquilo seria melhor que isso! _ Se afasta indo em direção a saída, já a ursa ficou ali por mais alguns segundos, tentando se recuperar das falas da loba, mas logo voltou a seguir a mesma...

Lena Durand _ Não é você que decide isso, os sinais apontam que os deuses uniram suas almas, elas já estão apegadas emocionante uma a outra se você obrigar uma separação, as duas morrerão de tristeza! _ Jenny parou em frente a saída e brevemente refletiu sobre a mera possibilidade de sua única herdeira falecer, ela tinha tantos planos para sua cria e a mesma sabia que seu companheiro não teria forças para gerar outra criança, sua mente vagou pelos caminhos que poderia seguir, para sair dessa enrascada e como um estalo ela se lembrou de algo que refutou a teoria  da ursa...

Jenny Lucero _ Maya nunca se transformou, portanto não tem contato com sua loba interior, sei que é bem tardio, porém é o que comprova minha teoria de que ela não sente o mesmo por sua filha! _ Jenny saiu pelos portões da instituição de ensino decidida a encontrar sua menina, mas tudo que ela sentia era o rastro de ursos polares... _ Se afaste de mim, para poder me concentrar, tudo que sinto é cheiro de urso polar!

Lena Durand _ Espere um pouco! _ A ursa foi até o carro em que a sua governanta geralmente levava as crianças e pegou a primeira coisa que identificou ser de Delfini, logo voltando até a loba. _ Isso é da minha caçula, se elas fugiram juntas, poderemos encontrá-las pelo rastro de Delfini! _ A matriarca Lucero nada disse, só tomou o cachecol das mãos da mais velha e o fugou, em seguida de olhos fechados tentou se concentrar em encontrar o rastro da filhote, apesar de ter muitos aromas misturados, Jenny achou o rastro da ursinha e sem dizer a Lena, a mesma só se transformou em sua forma animal, se tornando uma gigantesca loba de pelagem cinzenta e olhos dourados. Aquilo foi um gesto não verbal para a Durand fazer o mesmo, o que não demorou muito para ela entrar na sua forma animal, Lena era o dobro do tamanho de Jenny, o que irritava a loba, porém a mesma deixou isso de lado e correu na direção que o rastro levava...

...

Conforme seguia a loba pela floresta, a matriarca ursa polar reconheceu o caminho, ele daria no lago em que Delfini se transformou pela primeira vez, internamente Lena não parava de sorrir, sua garotinha sapeca era muito inteligente! De alguma forma ela sabia que aquele lago tinha propriedades um tanto quanto mágicas, chegava a ser adorável o esforço da sua cria para fazer sua companheira sentir o mesmo por ela, a imagem fofa que veio em sua mente a agradou, mas a mesma sabia que Jenny não sentiria o mesmo, então ao chegarem no lago e verem os uniformes das meninas no chão e nada delas, suas suspeitas foram confirmadas. Lena olhou para a loba, que cheirava as vestes espalhadas no chão, não demorou muito para a mesma perceber que parte das vestimentas ali eram de Maya e como uma mãe em busca de seu filhote, Jenny ruivo, chamando por sua cria...

Por não estar tão longe dali ela ouviu o chamado de sua mãe, a lobinha nem sequer pensou que poderia estar em apuros, ela estava imersa demais em sua euforia, então desesperada para mostrar a sua progenitora que finalmente conseguiu se transformar ela correu em direção ao seu chamado, mas não antes de chamar sua nova amiga pra ir junto com ela. Maya pulou em Delfini e mordiscou sua orelha, mostrando que era a sua vez de pegar ela e tão imersa na brincadeira quanto a lobinha, a ursinha a perseguiu de volta pro lago...

Já perto o suficiente para ver sua mãe, Maya correu em sua direção esperando ver felicidade e orgulho, afinal ela finalmente conseguiu se transformar e era tudo que sua mãe mais queria, mas ao invés de ser recebida por carícias babentas, Jenny lhe deu uma patada que a jogou longe.  Ao ver a cena, Delfini correu desesperadamente até sua companheira e ao notar que a mesma está desacordada no chão, lambeu seu focinho incessantemente em meio ao seu choro, em uma tentativa falha de acordá-la, a loba ia acabar de vez com a vida da sua maior decepção, no entanto foi brutalmente impedida por Lena que avançou em seu pescoço, não para matá-la, mas para afastá-la das filhotes, Jenny estava cega por seu ódio, ela tinha que acabar com a vida do estorvo que ela criou e decidida a fazer isso entrou em uma luta com Lena, mesmo que nunca pudesse ganhar sozinha...

Continua...

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