Capítulo 37

2.1K 214 13
                                    

Narração Pov

Vinte anos atrás...

Vestida com sua camisola escondida por seu hobby de seda azul ardósia, Lena já havia se banhado, expulsando qualquer resquício de sangue do seu corpo e após levar cerca de 6 pontos  em sua orelha esquerda, que acordo com seu marido, agora estava semelhante a orelha de uma elfa, que nem aquelas dos livros de seus filhotes, tal afirmação tirou um sorriso bobo da ursa, seu marido tinha o bendito costume de ser adorável e junto a ele, Lena estava a observar o médico fazer alguns exames básicos na lobinha, que ainda estava desacordada. O olhar da ursa era hábil e implacável, o que deixou a enfermeira que acompanhava o médico nervosa, a leoparda estava dando seu máximo para não demonstrar seu nervosismo, já o doutor Arctique, um membro antigo do bando estava indiferente ao olhares intensos de sua suprema, afinal é igual ao da suprema anterior, ele já esperava isso da ursa...

Doutor Arctique_ Não identifiquei nenhuma fratura ou lesão grave, talvez o que tenha causado o desmaio tenha sido o choque do impacto, mas só saberemos amanhã, por volta das oito leve ela ao meu consultório, vou ligar pro hospital ainda hoje e reservar a sala de ressonância, para isso, ela não pode ingerir nada pela manhã, no mínimo quatro horas de jejum e nada de comidas processadas com alto teor de gordura, antes disso! Mas agora precisamos que ela acorde e volte a sua forma humana... _ A enfermeira lhe entrega uma seringa e o mesmo injeta o conteúdo na lobinha, que após alguns minutos acorda e por causa do medicamento é obrigada a voltar para sua forma humana, sendo invadida por uma terrível dor de cabeça. Nua, com dor, assustada e com medo, ela se encontrou no meio de estranhos e que apesar de terem feições amigáveis, ela se sentiu desamparada no meio deles...

Bom, até seus ouvidos a guiarem na direção da ursinha, que fugiu pela a janela do corredor do primeiro andar e com um vestido verde pastel e uma de suas mantas favoritas junto, que ela escolheu cuidadosamente para Maya, ela correu atrapalhadamente pelo quintal, fazendo barulho o suficiente para todos da residência ouvir, o que fez a governanta perseguir a menina espalhafatosa. O que foi algo em vão, pois a pequena Durand era mais rápida que a velha ursa de quarenta e sete anos, a possibilitando de desviar até mesmo da sua mãe, que se conteve para não rir da situação, ela não queria apoiar o comportamento baderneiro de sua filhote, mas não pôde deixar de ficar orgulhosa da atitude protetora da mais nova. Ao ficar frente a frente com sua amiga, Delfini, primeiramente a ajudou a vestir o vestido que ela separou, em seguida a cobrindo com a manta estampada com arco-íris e finalmente a abraçou, trazendo um tipo de conforto que Maya estava precisando, o cheiro da ursa adocicou todo aquele momento, que a loba considerou horrorizante!

Afinal sua situação não era a das melhores, ela sentia dores terríveis, até há alguns segundos atrás, estava nua na frente de estranhos e não tinha um lar para voltar, mas ali nos braços de Delfini ela se sentiu segura e esse sentimento era algo que ela ainda não entendia, tudo que ela sabia, é que gostava da companhia de sua nova amiga, era bom estar perto dela. Aqueles que viram a doce cena, sorriram com a fofura, era tão raro encontrar seu companheiro na infância que nem mesmo o shifter mais velho dali, tinha presenciado antes esse tipo de acontecimento, a amizade das duas era algo precioso de ver, afinal era isso que elas eram aos doze anos de idade, amigas que não conseguiam se separar, as pequenas eram jovens demais para entender a magnitude do que sentiam uma pela outra...

Dias atuais...

Olhando fixamente para o teto de seu quarto, Delfini voltou a sentir o peso do seu vazio, depois de dez anos sem ter sequer alguma notícia do paradeiro da loba, Maya estava de volta a Winnipeg, mas ao invés de trazer a alegria que roubou da ursa, trouxe com ela a presença do vazio e oh, como aquilo doía, era sufocante para Delfini existir. A mente dela estava nebulosa e seu corpo paralisado, tudo que ela podia fazer naquele momento era sentir tudo sem ter como fugir, não que ela não tenha tentado antes, mas a ursa não era egoísta o suficiente pra isso, ou ao menos, não mais. Delfini nunca mais foi a mesma depois que a loba foi embora, mesmo que elas não tenham feito o ritual correto para a rejeição acontecer, no entanto na época que a loba foi embora ela já eram ligadas pela marca e o súbito distanciamento foi matando aos poucos, a ursa interior dela. Porém tal acontecimento não afetou só o casal de companheiras, como também a gêmea mais velha!

Na época, Diana estava se preparando para viajar pelo mundo em busca da alma que foi destinada a sua, mas conforme Delfini afundava mais na depressão, mais ela adiou sua viagem, até o ponto de que dias viraram semanas, semanas viraram meses e meses viraram anos e quando sua mãe se aposentou, dando seu título de suprema à Dominic e abrindo espaço para ela se tornar um membro do Magistrado das Corujas, ela percebeu que encontrar o companheiro era algo superestimado. Alguns que nem seus pais tinham sorte ficarem juntos para sempre, mas outros como Delfini e talvez como ela, tinham muito a perder.

Nem Dustin ou Dominic, que estavam ocupados demais brigando entre si e muito menos Daniel que na época era só uma criança, nenhum deles viu o que Diana viu! A ursa viu de perto o que o abandono pode fazer com um shifter, ela viu sua irmã ficar puro osso porque não tinha mais vontade de comer, ela acompanhou cada ida ao terapeuta, obrigou sua gêmea a tomar todos os remédios receitados, deu quantos banhos gelados fossem precisos para que Delfini se mantivesse no mínimo de pé. No dia que a ursa mais nova tentou tirar a própria vida pela primeira vez, foi o dia em que algo em Diana morreu, uma parte de seu coração apodreceu e lá nada mais é capaz de crescer!

Continua...

LisabelOnde histórias criam vida. Descubra agora