Capítulo 45

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Narração Pov

Edmundo permanece imerso na cena, seus olhos absorvendo a imagem gélida da floresta enquanto o vento lhe traz todos os detalhes que poderia procurar. Cada ráfaga sussurra segredos da natureza, permitindo que Edmundo mapeie o caminho do miserável alce, que luta com todo o seu ser para permanecer vivo. Seus sentidos, em sintonia com o ambiente, transformam a simples observação em uma experiência sensorial rica, revelando nuances invisíveis aos seus olhos desatentos e saber que o pobre Edgar Lewis está tão miserável quanto poderia, sem morrer, era prazeroso para o urso pardo.

A indiferença sádica de Edmundo não passa despercebida pelos que o cercam; caso não estivessem já habituados, seus olhares seriam de puro horror diante de suas ações questionáveis. Contudo, uma atmosfera de temor silencia toma qualquer expressão de desagrado, pois ninguém ousa confrontar suas decisões duvidosas. Edmundo é uma potência, o peso de sua postura impõe um silêncio temeroso, um respeito distorcido por uma presença que desafia até mesmo as mais íntimas objeções.

Edmundo _ Bem... _ Disse cortando o silêncio... _ Melhor irmos, ainda temos muito que fazer! _ Seus passos pesados, ecoaram em direção aos bancos traseiros do carro. Antes que pudesse proferir mais uma palavra, seus homens ágeis já assumiam suas posições estratégicas. Em meros segundos, os veículos se ajustaram, realizando uma manobra de meia volta que os afastou rapidamente do território de Dominic, ainda não era o momento de rever seu velho amigo. Indo em direção ao posto de gasolina da Maya, por um momento podia se ver um sorriso mínimo em seus lábios, que antes não expressavam sequer um resquício de alegria, a ideia sagas do sentimento nostálgico que surge dentro de si, é algo tão agridoce que chega ser engraçado para o mesmo.

Há um pouco mais de onze anos, a Matriarca Durand expulsou Edmundo e os poucos ursos pardos russos sobreviventes da região. Apesar de serem representantes de uma antiga aliança entre ursos, a permanência deles no Canadá era resultado de tal acordo político. O pai de Edmundo, Nicolau Godunov, um dos maiores opositores às leis contra o uso indevido da dominância, uniu-se a outros bandos na tentativa de derrubar o Magistrado das Corujas e as famílias que apoiavam as leis. Isso desencadeou uma breve guerra por território, resultando na morte de Nicolau e deixando Edmundo carregando os pecados do passado.

Desde então, a sombra da derrota lamentável de seu pai e a ascenção do Magistrado das Corujas pairam sobre Edmundo como um fardo inescapável. O acordo político que garantia a presença do clã de ursos pardos russos, no Canadá tornou-se um vínculo fraturado pela rebeldia de Nicolau, que buscava resistir às leis restritivas, feitas para proteger aqueles que o mesmo oprimia. Edmundo, agora, enfrenta não apenas as marcas deixada pela a hostilidade da Matriarca Durand, que na época descontou sua raiva no rapaz que nem estava envolvido nas tramóias de seu genitor, ele rememora as palavras de Lena antes de incendiar a casa onde cresceu, visando eliminar qualquer vestígio da presença dos ursos pardos naquela região.

"Não leve pro lado pessoal, garoto... _ Disse desgostosa olhando em direção ao jovem, ainda de pijama e com sua irmã caçula em seus braços, o urso não tira o foco das chamas que são embaçadas pela as lágrimas em seus olhos... _ Seu pai sabia as regras! Você e sua irmã, mais o que sobrou do bando de seu pai serão deportados pela manhã... _ Suspirou em desanimo... _ Lhe desejo uma boa vida garoto, cuide bem de sua irmã, ela só tem você!"

O eco da decisão radical ressoa em sua memória, trazendo a breve visão das chamas que consumiam não apenas as estruturas físicas, mas também as lembranças afetivas entrelaçadas com aquele lugar que, agora, não passava de um cruel testemunho do passado apagado pelas chamas. Por trás da fachada serena que ele transmite, reside uma ira tão devastadora quanto as chamas que um dia lhe trouxeram tanta dor, estar de volta, reavivando memórias dolorosas, faz suas cicatrizes coçarem de agonia.

Cada lembrança serve como um lembrete incessante, mas há alguns meses atrás, a surpresa do Supremo urso pardo atingiu seu ápice ao descobrir o primogênito de Lena invadindo uma de suas fazendas para libertar "funcionários". Para ele, esse inesperado ato de rebeldia parece uma espécie de compensação divina, uma resposta às injustiças do passado que ecoa como um rugido dos deuses, rugido esse que ele não ignorou...

Edmundo Pov

O veículo para, e ao abrir os olhos, percebo a matilha de lobos ao nosso redor antes mesmo de estacionarmos no posto. Maya assume uma postura defensiva, e eu, entediado, reviro os olhos diante de sua tentativa patética de parecer uma alfa. Fico me perguntando a quem ela pensa que está enganando. Todos sabem que ela se força a ser a suprema, tão patética!

_ Vou descer. _ Digo enquanto coloco meu cachecol. _ Comunique aos demais pelo rádio que aguardem minhas ordens, não há necessidade de todos descerem por enquanto. Vamos observar as próximas jogadas da lobinha! _ Deixo o carro sem cerimônias, não permitindo que meu subordinado fale algo. Evito ouvir os outros, as vozes das pessoas são desgastantes, sempre que ouço alguém falar um zumbido incomodo se junta ao que é dito, a ponto de fazer-me desejar arrancar a língua de todos, mas se fosse calar todos que falam ao meu redor não sobraria nenhum peão para o meu tabuleiro...

Maya _ Vá embora! _ Rosna ameaçando avançar... _  Eu paguei a dívida da minha família, me deixe em paz!

_ De fato, você pagou o que sua mãe me devia... _ Digo entediado, sua patética demonstração de força não passa de um recurso barato para esconder o quão apavorada ela está... _ E você realmente fez merecer sua liberdade, quanto tempo levou mesmo? Hum?! _ Me aproximo mostrando que suas ameças não me assustam... _ Dez longos e benéficos anos como minha mercenária! E quem diria que depois de todo esse tempo você teria amago o suficiente para voltar, sei que lobos gostam de voltar para seus velhos campos onde marcaram território, mas isso é muita cara de pau de sua parte! Não foi nessas redondezas que você trocou o amor da sua existência, por sua  narcisista mãe que a abandonou, quando ainda era uma filhotinha?

Maya _ Você sabe que não fiz por ela! _ Avança pra cima de mim, me fazendo  desviar sem muita dificuldade de seu ataque, tão previsível... _ Você estava torturando meu pai, ele perdeu o bebê por sua causa!

_ Eu te fiz um favor! _ A loba avança novamente, querendo no mínimo me ferir com aquilo que ela chama de garras, mas tudo parece mais divertido do que ameaçador, com sua defensiva mediana não há do que realmente revidar... _ Aquela criança o mataria ao nascer e era somente mais um fruto das expectativas de uma lunática! Eu também fiz um favor a aquele bebê, você é a prova viva de que sua mãe não deveria criar uma criança!

Maya _ Você é a última pessoa no mundo que pode julgar quem pode ou não criar filhotes! Eu tenho pena da sua irm... _ Sua fala ousada é interrompida por minha mão esquerda, que sem dó segura fortemente sua garganta, o que faz a alcatéia de Maya avançar...

_ Venham! Avancem! _ Murmuro calmamente, olhando diretamente para as duas dúzia de lobos, faço o sinal com minha mão livre e meus homens saem dos carros, não demorando nem um minuto para assumirem a suas formas animal... _ Sempre tive um fascínio pela matemática envolvida nas batalhas entre espécies, de quantos ursos pardos dominantes precisa para erradicar uma alcatéia de lobos? _ Pergunto fixando meu olhar em Maya, que só consegue soltar chiados por sua garganta que ainda está firmemente obstruída... _ Se quiserem ajudar nesse meu pequeno experimento científico, avancem e descobriremos, temos voluntários?! _ Nenhum deles se movem... _ Que pena Maya, você tem muitos covardes aqui, realmente é uma questão que tenho curiosidade... _ Suas garras atacam meu braço em uma tentativa falha de respirar... _ Não se preocupe, não vou deixar você morrer, não hoje! Mas escute bem! Não ouse sequer fazer outra menção a Alexandra! Fui claro?! _ Maya assente com dificuldade, satisfeito com sua submissão a solto...

Continua...

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