Capítulo 53

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Narração Pov

O crepúsculo tingia o céu quando Delfini estacionou sua moto de neve diante do posto de gasolina de Maya. Ao remover o capacete, a ursa inspirou profundamente, sendo envolvida pelo inconfundível aroma de sorvete de caramelo que sempre permeava o ar quando estava perto de sua companheira. O cheiro familiar desencadeou memórias afetivas, fazendo-a sorrir ao relembrar de momentos compartilhados sob as diversas faces do céu, mas essa nostalgia gostosa foi substituída pela saudade e então o ressentimento...

Maya _ Nini... _ Sussurra ao sentir o cheirinho inesquecível de torta de maçã, ao rastrear a fonte do inconfundível aroma, Delfini adentra pela porta de vidro a batendo com força e deparando-se com a silhueta de Maya. A loba se virou, expressando surpresa e emoção ao reencontrar a ursa que tanto ama, ela quer correr até Delfini, implorar seu perdão, no entanto a loba se conteve. Agora a poucos metros de distância, a ursa polar observou atentamente Maya, percebendo a diferença marcante em sua aparência. Os olhos da loba, embora casandos, brilhavam com uma mistura de tristeza e emoções contidas. O cabelo colorido, as cicatrizes nos braços expostos pela blusa sem mangas e a expressão mais madura revelavam uma transformação profunda. Fantasmas do passado flutuavam na memória, mesclando o presente com uma versão anterior de Maya, mas, no final, isso apenas alimentava o desgosto que crescia dentro de Delfini. O reencontro, ao invés de trazer alegria ou alívio, trouxe consigo uma dolorosa confrontação com as mudanças inevitáveis que o tempo impõe. _ Nini, você veio me ver! _ Sua fala cheia de emoção faz um contraste com a feição apática de Delfini, que comprimiu os lábios ao ouvir tal apelido novamente, fazia tão tempo... _ Então Diana finalmente deixou você vim me ver, pensei que ela ia te trancar em uma torre, ela parece aquelas vilãs de filmes infantis...

Delfini _ Não ofenda minha irmã, ao menos ela nunca me abandonou. _ Cuspiu tais palavras com tamanha antipatia, que Maya ficou paralisada ao ouvi-las, a mesma analisou sua amada e notou sua imagem apática e sem vivacidade...

Maya _ Nini, eu... _ Delfini bateu na porta de entrada, a força foi tamanha que o vidro estourou com o impacto, aquilo não foi obra da própria Delfini e sim de sua alma animal que luta para sair do limbo que está, Haika está furiosa ao ponto de nem perceber que está se reconectando com Delfini da maneira mais impura possível, pelo ódio, a revolta e a traição...

Delfini _ Não me chame assim! _ Indaga ríspida... _ Só uma pessoa me chama assim e não é a loba que vejo na minha frente!

Maya _ Nini... _ Em passos rápidos e pesados, Delfini se aproxima de Maya e segura sua face com força, a mesma ficou surpresa, a ursa nunca havia sido agressiva com ela, mas agora exala um ar de dominância tão forte que chega a ser amedrontador de se presenciar. _ Eu ainda sou a mesma, Nini! Lembra? Maya Maravilha? _ Diz mansa, com os olhos marejados e um aperto no coração...

Delfini _ Não você não é a minha Maya Maravilha, ela nunca seria tão desleal ao ponto de trair aqueles que a acolheram quando ninguém mais a quis! Minha Maya Maravilha, nunca deixaria meu irmão mais velho nas mãos de um psicótico obcecado por vingança, eu me recuso a crer que você é ela! _ A ursa joga a carta de Edmundo no chão e solta a loba, que pega e ler brevemente a mensagem cruel do russo... _ E se essa sempre foi sua verdadeira faceta, eu me pergunto o que eu fiz para merecer tal castigo, sou tão azarada ao ponto de ter uma companheira ingrata, falsa e mau caráter?

Maya _ Não fale assim Nini! Como você pode ver na carta, eu... _ Delfini interrompe bruscamente Maya, derrubando uma estante inteira com um estrondo ensurdecedor que faz Maya pular de susto. Produtos de conveniência e objetos se espalham pelo chão, criando um caos. O som ecoa pelo ambiente, enquanto Delfini, com expressão séria, encara Maya com olhos determinados, deixando um clima tenso no ar.

Delfini _ Você tinha todos os recursos da minha família para pedir ajuda! Pela a Deusa! Você tinha a mim Maya! _ Gritando furiosamente, Delfini derruba mais uma estante, sua linguagem corporal agressiva assusta a loba, agora perplexa, testemunha sua companheira em um estado jamais visto. A expressão de Delfini é uma mistura de raiva e frustração, enquanto objetos se dispersam, enchendo o espaço com uma atmosfera tensa. _Você deveria ter me contado, a gente ia dar um jeito! Eu ia dar um jeito!

Maya _ Eu só não podia ter envolver nisso... _ Sussurra envergonhada.

Delfini _ Quantas vezes eu falei que estava lá para você? Quantas vezes demonstrei isso? E você tem a pachorra de me dizer que não podia me envolver? Que porra, Maya! É o seu pai! É claro que eu ia ajudar a salvar ele! Ele te deu a luz! E sei que ele só não foi te ver, porque a doida da sua mãe o impedia! Sabe qual foi meu erro? _ Delfini agarra o pulso de Maya... _ Não ter te marcado depois que completamos dezoito anos, esse foi o meu maior erro! Meu erro foi ter sido permissiva e não ter te colocado no seu lugar, eu sou a dominante no nosso relacionamento e você pertence a mim! Essa merda de companheiro predestinado é tão fudido, que eu nem consigo me ligar a Haika! E pelo que ouvi da minha irmã, você ainda está ligada a Dahlin!

Maya _ Vai por mim, preferia não estar, nos últimos anos ela me torturou com seu julgamento, falando dos meus erros o tempo inteiro... _ Sua tentativa infantil de se expressar não trouxe conforto para Delfini, seu ser ainda está imerso pelo o sufoco que sente... _ Olha Delfini, não foi sua culpa, é minha, eu era jovem e estúpida, eu deveria ter falado com você antes de fugir no meio da noite e deixar só uma mensagem de SMS para dizer adeus, foi de tamanha covardia da minha parte, eu só não tive coragem de te encarar...

Delfini _ Sim, porque você é uma ingrata, mas infelizmente você é a minha ingrata e dessa vez eu vou fazer o que deveria ter feito no dia que te vi sair escondido no meio da noite... _ Maya a olha surpresa... _ Sim,  eu estava acordada quando você foi embora! _ Com uma brutalidade proposital e impiedosa, Delfini arranca Maya do estabelecimento semi destruído. Do lado de fora, a alcatéia de Maya reage com rosnados ameaçadores em direção a Delfini. Ignorando as tensões ao seu redor, a ursa solta um urro alto e poderoso que ecoa do seu âmago, onde Haika, a força primal que habita nela, se manifesta. A intensidade do rugido corta o ar noturno, marcando a presença dominante de Delfini diante da alcatéia, enquanto Maya, ainda aturdida, observa o desdobrar dos eventos apreensiva... _ Essa é a minha companheira! _ Grita com sua voz dominante... _ Não me importa o que façam ou para onde vão, mas Maya vem comigo e vocês, lobos, estão proibidos de pisar no território da minha família, espalhem a notícia! Qualquer lobo que entrar no território Durand não sairá com vida!  _ Apesar do ultimato claro e imponente de Delfini, a alcatéia de Maya permanece em posição de ataque. Diante da iminência de um conflito sangrento, Maya se liberta do aperto possessivo que Delfini exercia em seu pulso. Com gestos inseguros, ela tenta, em vão, apaziguar a tensão crescente, seus olhos refletindo a urgência de evitar um derramamento de sangue entre as duas facções.

Maya _  Escutem! _ Com lágrimas nos olhos e voz trêmula, Maya suplica. _ Por favor, vão. Não iniciem uma guerra por mim. Não é apenas eu que me libertei das garras de Edmundo; vocês também merecem ser livres da minha família. Minha mãe não foi uma boa líder, e sinto que não sou melhor. Vão para longe e elejam outro alfa. No fim, eu sou apenas uma ômega que se viu obrigada a crescer e assumir muitas responsabilidades.

O apelo de Maya paira no ar, buscando um eco de compreensão na alcatéia. Delfini, com sua expressão ainda carregada de antipatia, encara a situação com indiferença, mas a atmosfera intensa da noite não passa despercebida pelos lobos sob o comando de Maya, que hesitam diante da decisão que pode alterar o curso de suas vidas. A tensão aumenta, ecoando pela floresta, quando um lobo mais velho da alcatéia, com pelagem grisalha e olhos sábios, aproxima-se do casal.

Sua postura é firme, mas sua expressão carrega uma serenidade que destoa do ambiente hostil. Com um aceno solene de cabeça, ele corre em direção à floresta próxima. Não há necessidade de palavras, mas todos ali compreendem seu posicionamento como novo alfa. Os lobos, ainda rosnando em revolta, começam a se dispersar, seguindo a liderança do ancião em direção ao sul, escolhendo o caminho da liberdade em vez do confronto.

Maya, aliviada, volta seu olhar para Delfini, cuja expressão continua apática. Sem dar espaço para mais discussões, Delfini agarra rudemente o pulso de Maya, forçando-a a subir na moto de neve. Com movimentos precisos, a ursa coloca o capacete na parceira e liga o veículo, dirigindo-se para o norte, além do território da família Durand. Seu objetivo é encontrar uma xamã que realizará a cerimônia de união, mesmo que Maya ou sua família se oponham. Delfini está determinada a se casar com sua companheira a qualquer custo, assim ela poderia recuperar algo tão precioso para si...

Continua...

LisabelWhere stories live. Discover now