14- Resistindo.

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S/N P.O.V

Eu encarei o meu reflexo no espelho e suspirei frustrada, analisando a minha própria imagem.

O meu estado está simplesmente deplorável. Físico, emocional, não sei dizer qual é o pior, ambos foram terrivelmente abatidos.

O último caso recente que nós pegamos - já solucionado - se tratava de um assassinato, que tentou ser camuflado através de uma overdose pesada de remédios. A vítima era um ex-usuário de drogas, que se manteve limpo por cerca de quatro anos e conseguiu melhorar seu estilo de vida. Enquanto investigava a trajetória dele de cima para baixo, descobri um conjunto de coisas que ele havia feito para si mesmo em pouco tempo, por realmente ter vontade de mudar.

Contudo, no final das contas, é como se todo o esforço não tivesse valido nada. A vítima teve uma recaída há dois meses atrás e recorreu ao antigo traficante. Com o passar das semanas acabou acumulando dívidas que não conseguia pagar, resultando em sua morte.

Desde então, eu me pego pensando se todo o meu esforço realmente está valendo a pena. Ou, se eu simplesmente deveria acabar com essa tortura e beber de novo.

- Você parece distante. - a minha psicóloga, Katrine Tammin comentou após me analisar por um certo tempo. E honestamente, não sei dizer por quanto tempo isso ocorreu. - Alguma coisa aconteceu desde a última sessão?

Ultimamente, eu confesso que estou alheia a todas as coisas ao meu redor, talvez muito mais envolvida do que realmente deveria, dentro da minha própria bolha de angústia e ansiedade.

É como se o meu sistema tivesse sido programado para funcionar em piloto automático, sem um tempo determinado para voltar ao manuseio correto.

- Só estou pensativa. - eu respondi depois de longos minutos, sem parar de olhar um ponto localizado na parede cinza claro.

- Vamos falar sobre isso, então. - Katrine decidiu a seguir, me conhecendo o suficiente para saber que aquela era hora de fazer com que eu me abrisse. - No que você está pensando agora, neste exato momento?

- No quão inútil todo o meu esforço para me manter limpa pode estar sendo. - eu confessei após um suspiro e ela me olhou com a sobrancelha arqueada, esperando a explicação por trás daquilo. - É que eu precisei investigar a vida de um ex-viciado que ficou limpo por anos, se casou, teve filhos, arrumou um emprego novo e uma casa nova. Mas, que em certo momento acabou tendo uma recaída.

- E por que isso te fez pensar que o seu esforço pode estar sendo em vão? - Katrine questionou. - Você se indentificou com ele, ou algo assim?

- Um pouco, já que eu também sou ex-viciada de certa forma. Faz quase dois anos que eu estou sóbria. - murmurei. - E parece que fica cada vez mais difícil resistir, porque ainda existem aqueles dias em que a vontade de beber se torna sufocante e esmagadora.

- E por que você não sacia essa vontade de uma vez? - Katrine perguntou. - Você sabe que pode fazer isso quando quiser.

- Eu sei muito bem disso. - assenti em forma de concordância. - Mas eu não quero. - fechei os meus olhos e neguei com a cabeça assim que alguns flashes me vieram a mente. - Eu só quero me sentir bem de novo, me sentir viva.

- E você não se sente assim? - neguei com a cabeça. - Por quê?

- Às vezes eu sinto como se nada fizesse mais sentido, assim como o meu sonho de me casar, construir minha própria família, ter uma casa grande, um cachorro. - revelei, conseguindo me tornar capaz de aliviar um pouco da angústia que sentia ao guardar tanta coisa dentro de mim. - Tudo isso parece impossível, porque sempre que eu encontro alguém, as coisas dão errado. No final das contas, talvez eu seja indigna de felicidade.

Simplesmente Acontece (Hailey Upton/You G!P).Where stories live. Discover now