18- Enfrentando demônios.

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S/N P.O.V

Todos nós certamente temos algo a temer. Cada um possui seus próprios demônios e possivelmente, está em uma guerra constante dentro de si.

No meu caso, eu tenho vários traumas que me assombram até hoje e eu me envergonho da maioria. Esses são os meus segredos que se mantêm guardados a sete chaves, e honestamente, eu não quero que nenhuma das pessoas da minha vida tentem desvendar.

Mas, é da nossa natureza fuçar, questionar e vasculhar incansavelmente até encontrar alguma coisa, principalmente nós que somos policiais. E sim, a minha profissão me fez ainda mais curiosa do que eu já sou.

Hailey e eu finalmente conversamos e decidimos ir devagar, primeiro nós vamos nos conhecer melhor.

Por um lado, esse feito é uma coisa maravilhosa, mas por outro, nem tanto. Há certas coisas sobre mim que nem meu pai e minha irmã sabem, e eu sinceramente quero manter dessa forma. Mas, ultimamente, eu estou com a leve sensação de que essa caixa preta vai ser aberta, e as pessoas vão descobrir a verdadeira raiz de todos os meus problemas psicológicos.

Do fundo do meu coração, estou desejando que isso não ocorra, pois eu temo que Hailey queira se afastar de mim novamente e dessa vez, permanentemente. Como também, só de pensar na ideia de que o meu pai, minha irmã e todos os meus amigos vão sentir repulsa de mim, me faz querer acabar com tudo de uma vez por todas.

Eu não aguentaria perder a única família que eu tenho.

- E aí, carinha. - eu falei, entrando na sala de interrogatório. - Está tudo certo por aqui?

- Eu ainda não quero falar com você. - Jack respondeu emburrado e cruzou os braços.

- Tudo bem. Você não precisa falar comigo agora, se não quiser. - eu o tranquilizei, me sentando na cadeira posicionada ao lado esquerdo dele. Eu trouxe comigo até aqui dois sanduíches e dois refrigerantes para dividir entre mim e o garoto. - Aqui, você precisa comer alguma coisa.

Depois de desembalar o sanduíche de dentro do papel filme, eu tirei as cascas do pão de forma sem pressa como sempre faço antes de comer. Eu soube que Jack esteve observando atentamente cada movimento meu e que consequentemente, começou a repeti-los.

Acontece que eu entendo esse garoto, passar anos sofrendo agressões constantes durante toda a infância é muito mais traumatizante do que pensam.

Talvez, se eu tivesse coragem também tentaria esfaquear o desgraçado do meu genitor que fez questão de me maltratar durante anos. Só que eu tive muito medo. Demorou um pouco até eu ter coragem de fugir e finalmente conhecer Voight e sua esposa, que desde o começo, sempre foram tão atenciosos e carinhosos sem nem me conhecer direito. Na época, eles estavam tentando ter filhos e ainda não estavam conseguindo, mas acabaram me acolhendo mesmo assim. Eu não sabia o que era realmente ser amada por pais, antes de conhecê-los.

Infelizmente, não importa quanto amor e atenção eu receba, porque no fundo todos esses traumas ainda vão existir. Todas as cicatrizes nas minhas pernas e costas nunca vão me deixar esquecer dessa fase infeliz e extremamente traumática.

- Você acha que o meu pai vai ficar bem? - em um fio de voz, Jack perguntou de repente.

- Eu acredito que sim. - fui sincera. - Mas de qualquer forma, você precisa saber que não foi culpa sua.

- Eu vou ser preso, não vou? - o garoto perguntou preocupado.

- Provavelmente não. - respondi. - Você agiu em legítima defesa.

- Eu juro que não queria fazer aquilo, só não aguentava mais ter que ficar sofrendo todo santo dia. - Jack confessou baixo, visivelmente envergonhado.

Simplesmente Acontece (Hailey Upton/You G!P).Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon