Capítulo 33

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Babilônia

Na madrugada seguinte lá estava eu novamente no apartamento de Valentina. Ontem nós trocou idéia e pá, tô ligado que não tratei ela como de costume mas eu tava de cabeça quente, não tinha como tratar melhor.

Nataly: A polícia sabe que tu tá aqui? - colocou com cuidado Cristian nos meus braços, ele já tava dormindo e eu não quis acordar pra se despedir.

Babilônia: Sabe pô. Me liberaram pra falar com vocês. - enxuguei a lágrima que escorreu no meu rosto. - Samara vai te fortalecer, morô? Nós já conversou e ela disse que pode passar a semana com ele.

Nataly: E não vai atrapalhar ela? Se for necessário eu posso falar com a minha mãe. - é uma parada que ela vai fazer só por necessidade mesmo, porque dá pra perceber que não quer.

Babilônia: Não, transferi dinheiro pra tua conta que dá pra pagar quantas babá quiser. Deixa tua mãe na dela. Meu advogado vai passar pra falar contigo, se tu precisar de qualquer coisa pode falar com ele.

Nataly: Tá... - falou quase sem voz, baixando a cabeça.

Babilônia: Não fica assim, minha intenção nunca foi te deixar sozinha... - minha garganta fechou e minha vontade era só de quebrar tudo. Só de imaginar que vou ficar longe do meu filho o meu mundo desaba. Ela chorou, ficou uns minutos sem me olhar e depois respirou fundo, enxugando as lágrimas. - tá tarde agora, tem um mano lá em baixo te esperando.

Ajeitei ele no meu ombro e fui até ela, estendi a mão pra mesma que se levantou e me abraçou. Encostou a cabeça no meu peito, ficando quieta. Olhei de relance pro quarto de Valentina e ela tava lá olhando pra nós dois, fixei o olhar nela e a mesma fechou a porta.

Nataly: Não te envolve em briga dentro do presídio, tá me entendendo? Quero que tu saia vivo de lá. - segurou meu rosto, olhando nos meus olhos. - quero que faça tudo certinho, não por mim, mas sim pelo nosso filho.

Babilônia: Eu vou andar na linha. Prometo pra vocês dois. - ela sorriu fraco, dei um beijo na testa dela, entregando Cristian em seu braço. - não deixa ele me esquecer.

Nataly: Jamais. - beijei ele.

Me despedi e fiquei olhando da varanda ela entrar no carro e ir embora. Meio sem saber o que fazer fui e bati na porta do quarto de Valentina, ela mandou eu entrar e assim eu fiz. Fechei e me encostei ali, observando cansado e totalmente perdido.

Valentina: O que vocês dois realmente têm? - perguntou tão séria e fria que nem parecia se importar com o que eu tô passando.

Babilônia: Tirando a parte que sou o pai do filho dela, somos amigos.

Valentina: Amigos? Não é o que me parece.

Só o que me faltava agora. Como se todos os caô já não fosse o suficiente agora Valentina quer pegar no meu pé por motivo besta. Ela sabe muito bem o que eu e Nataly temos, mas tá nessa de bater na mesma tecla. Tô zero paciência pra explicar o que já tô igual disco arranhado de tanto repetir.

Babilônia: Me poupe do teu ciúme sem sentido, mano.

Valentina: Por que você tá me tratando assim? Desde ontem tô percebendo a tua indiferença comigo, mas com ela cê tava todo sentimental, abraçou, chorou, só faltou dizer que ama.

Babilônia: A minha vida tá virada de cabeça pra baixo, vou ficar trancado naquela droga de presídio por sei lá quantos anos, e tu tá querendo vir com papo de que eu tô te tratando com indiferença? - tratei com ignorância mesmo e não tô nem aí, nem todo dia ou toda hora tô pra chamar de amor.

Valentina: E a culpa é minha por acaso? Você tá nessa porque quer, não posso fazer nada.

Babilônia: E eu não tô tentando mudar? - perguntei alto, me aproximando dela, que se assustou e ficou parada me olhando. - responde, Valentina. Eu não tô tentando mudar? - perguntei mais alto ainda.

Valentina: Sim. - respondeu com voz de choro. Dei uma volta, encostei a cabeça na parede, deixando as lágrima rolar. - Antony...

Babilônia: O que é, em? - ela não respondeu nada. - desde quando nós começou sair eu tento me encaixar nesse teu mundo, mas todo tempo só tu não pode viver dessa forma, só tu não quer essa vida, só tu isso e aquilo, mas e eu? Tu pediu pra eu sair do crime mas em momento algum me perguntou se eu já tinha tentado sair, não perguntou se eu já tinha resolvido alguma coisa. Tá pensando que o crime é a casa da mãe Joana que a gente entra e sai a hora que bem entende?

Valentina: Tu nunca me disse nada.

Babilônia: Lógico que não, tu não perguntou. Desde quando falei que eu tava querendo sair do movimento a galera tá pegando no meu pé, me ameaçaram e até me bateram, mas a única coisa que tu soube dizer foi que essa vida não era pra ti... Como se ela fosse pra mim e se eu ainda tava nela porque eu queria. - ela ficou calada, ainda abriu a boca pra falar alguma coisa mas novamente preferiu o silêncio. - eu só queria que tu entendesse que nada disso é fácil, mas que mesmo assim eu tô dando o meu melhor pelo meu filho e por ti. - falei em tom mais baixo.

Valentina: Vamos conversar melhor, eu me precipitei demais. - neguei, olhando pro chão e depois pra ela, que se levantou rápido e me deu um abraço apertado.

Babilônia: Desculpa se eu não consegui ser o melhor. - senti meu coração acelerado, enquanto observava o quadro na parede.

Valentina: A culpa não é tua. - falou em um tom tão baixo que conseguiu até se misturar com o som do meu coração desesperado. - te amo. - ouvi aquilo e foi a sensação mais sinistra que já senti em toda a minha vida. O ódio, o medo e o amor se misturando foi o que me deixou mais perdido nesse momento.

Beijei ela e saí dali. Ouvi ela me chamar e pedir pra eu voltar, mas continuei descendo aquelas escadas.

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