Capítulo 02

902 62 2
                                    

Sina Deinert

— Sério, Eduardo, de novo?
— Sina é só dessa, vez juro! É rápido. Eu ainda não peguei o meu no conserto.
— Só dessa vez mesmo, não vou mais emprestar.
— Ok, meu anjo. — Entrego-lhe o meu notebook
— Vou à lanchonete comer algo e já volto.
— Sem problema, minha princesa guerreira.
— Nossa... Eduardo se for para me comparar com algo, que seja de bom gosto credo.
Às vezes penso que a idade mental daquela criatura é de doze anos e não de vinte e três.
Pego meu celular e começo a procurar o boneco do Harry Potter que eu tanto estou querendo. Estou tão distraída que não vejo o brutamonte que está na minha frente.
— Merda...
Abaixo para pegar o celular, que agora está com a tela trincada.
— Não olha para onde anda não?
— Se eu fosse você, trocaria as lentes destes óculos já que não consegue andar direito.
— Essas lentes são novas, meu filho, que eu saiba o corredor é grande e daria para você passar tranquilamente.
— Todos aqui são iguais a você? A alegria em pessoa?
— E eu lá sou obrigada a mostrar os dentes. Você é dentista por um acaso, hein?
— E você é uma mal-educada, bom saber. Não volto mais nesta livraria.
Não espera nem eu responder e já sai andando.
Mal-educada? Eu hein! Perdi até a fome.
É melhor voltar já são quase três horas, nesse horário a livraria fica cheia.
— Não ia a lanchonete, Sina?
— Perdi a fome.
Ele se aproxima com uma cara muito estranha colocar a mão na minha testa e balança a cabeça.
— O que foi?
— Para você negar comida só pode estar doente.
— Do jeito que você fala parece até que sou morta de fome.
— Deixa de drama, Sina Maria . A última vez que saí com você o dono da pizzaria quase te expulsou de lá. — Nossa, que mentira.
— Você comeu quinze fatias de pizza.
— Era um rodízio, tinha que valorizar o meu dinheiro.
— E uma coca sozinha. Fiquei até com medo de ter que te levar a um hospital.
— Não exagera.
— Não vou nem falar aquele dia que comeu um bolo inteiro.
— Está bem, eu já entendi. Vou dar uma olhada na sessão infantil tenho certeza que deve estar uma bagunça.
Passo por ele e como esperado está mesmo uma bagunça. Em pensar que já estou aqui há dois anos! Não dá para acreditar, trabalhar aqui é um sonho, poder ser a primeira a ver os lançamentos. Arrumo tudo com satisfação. Quando vejo o tempo passou voando. Já deu a minha hora de ir embora.
— Eduardo. Já estou indo.
— Até segunda, Sina
— Tchau!
Falo já saindo, a parte chata é ter que voltar de ônibus, mas é por pouco tempo. Estou juntando dinheiro para comprar um carro. Isso é, se eu não gastar muito na Comic Com esse ano. Sorrio com essa possibilidade. Morar em Boston é ótimo, eu particularmente acho. Ter conseguido um apartamento aqui é um milagre, mas consegui. Hoje é sábado então posso jogar ou assistir a uma série. Chego em casa e já são cinco e meia. Abro a porta e coloco minha bolsa em cima da cama, retiro o meu notebook e o ligo. Hora de fazer meu outro trabalho.
Quando comecei a hackear não era lá grande coisa, mas hoje posso afirmar que sou muito, mais muito boa mesmo. Sei que é errado, mas também sei que com isso posso ajudar muita gente, como esse orfanato na África que está precisando até do básico. A maioria das contas que invado tem valores absurdos. São políticos corruptos, empresários e pessoas do mundo do crime que pensam que colocar o dinheiro sujo em contas na Suíça é seguro, grande erro.
Começo e em menos de dois minutos aquelas crianças na África agora tem o que comer pelo menos por um mês, sempre que faço isso evito as instituições por três meses ou mais, depois começo tudo de novo.
Mais um trabalho bem feito. Meu peito se enche de felicidade e um sorriso bobo já se forma, eu realmente fui feita para isso.
Hora de tomar um banho. Entro no banheiro e ligo o meu celular colocando a música tema de Dragon Ball Z, começo a tirar a roupa e cada uma cai no chão em um passinho diferente.
Agora estou aqui, pelada com uma escova de cabelo na mão cantando igual uma doida, adoro essa música.
Termino e saio só de toalha a procura de um pijama. — Qual escolherei? Deixe-me ver. Você não, Naruto, você sim, Star Wars.
Agora é hora da meia.
— Você — falo apontando para um par de meias, uma com a estampa de banana e a outra de ovo frito.
Visto-me e prendo meu cabelo em rabo de cavalo como sempre. Faço uma pipoca, deito na minha cama e ligo a televisão. Coloco The Big Bang Theory para assistir. Depois de um tempo pego o meu celular e já são uma e meia.
— Dorme, dorme — falo comigo mesma.
Já estou quase dormindo quando ouço passos no corredor levanto-me assustada. Chego um pouco mais perto da janela para ver melhor e vejo sombras lá fora. Um arrepio passa por todo o meu corpo.
— Agora, o eu que faço?
Saio dos meus pensamentos quando ouço alguém tenta abrir a porta. — Pensa, pensa... — Bato duas vezes na cabeça. Dou uma olhada
para a parede da TV, vou até ela. Pego a espada do Jon Snow, de Game of Thrones.
— Você vai me ajudar, Garra Longa? — perguntoempunhando-a.
Quando vou pegar o celular para ligar para a polícia, dois homens armados entram no apartamento.
— O que vocês querem?
Os dois se olham totalmente surpresos por ver uma garota com uma espada quase do seu tamanho, desafiando-os.
— Você vem conosco, Srta Sina Deinert.
— No seu sonho, talvez. Como vocês sabem o meu nome?
Um deles tenta se aproximar, mas o ameaço com a espada.
— Saíam do meu apartamento, agora! Já liguei para a polícia eles já estão chegando.
O de cabelo preto tenta chegar mais perto.
—Não dá nem mais um passo, para trás agora.
— Você sabe que não tem como acertar os dois ao mesmo tempo.
— Pelo menos um já está bom para mim.
Tudo é muito rápido. O de cabeça raspada que, por sinal me lembra o ator de carga explosiva vem rápido na minha direção. Quando já está próximo de mim avanço com a espada, era para acertar o pescoço, mas o infeliz se vira e acabo acertando o seu braço direito.
— Vadia.
— Não sou sua mãe não, hein.
Distraio-me com o cabeça de ovo e acabo esquecendo do outro. Ele
chega mais perto e consegue retirar a espada da minha mão. — Devolve, é item de colecionador.
— Pode ficar tranquila vou cuidar muito bem dela.
— Ah! Cabeça de ovo devolve agora.
Tento me soltar mais ele e muito forte. — Inferno. Me solta!.
— Cala a boca, garota.
— Não.
— Acaba logo com isso, Braian.
Tudo que percebo é ele levantar a arma. Uma dor muito forte toma conta da minha cabeça, tento ficar acordada mais os meus olhos estão pesados e acabo apagando lentamente.
Mas que droga, por que não consigo mexer as mãos? E a minha cabeça, porque está doendo igual ao inferno. Tento abrir os olhos duas vezes, na terceira consigo.
Estou sentada em uma cadeira, em algum lugar. As minhas mãos estão presas nas costas. Para piorar, onde estão os meus óculos?
Aperto os meus olhos para enxergar um pouco melhor e com isso a minha cabeça começa a doer ainda mais.
Aqueles desgraçados me acertaram com tudo. Minha espada! E agora como vou recuperar lá.
— Pensei que iria ficar dormindo a noite toda.
— Até queria, sabe, mas o brilho da sua careca me fez acordar.
— Você é muito folgada, garota. Vou fazer questão de passar um tempo com você depois que o chefe terminar, lhe ensinarei a ficar com essa boquinha fechada.
— Chefe?
— Pode ficar tranquila, ele já está a caminho.
— Para o inferno você e o seu chefe, me tira daqui agora!
— Cala essa boca, é a última vez que aviso.
Era melhor obedecer por enquanto. Tento ver melhor, mass é difícil, não consigo enxergar quase nada de longe.
— Oh! Moço, moço, moço.
— O que foi? Porra.
__ Onde estão os meus óculos?
— Eu lá vou saber.
— Eu estava com eles quando você e o cabeça de ovo invadiram o meu apartamento.
— Não faço a menor ideia, mas pode ficar tranquila provavelmente depois que o chefe terminar com você, não precisará mais deles.
— Por quê?
Ele chega mais perto, fica cara a cara comigo. Consigo até sentir o cheiro de cigarro.
— Porque você provavelmente não terá mais olhos para isso.
O meu coração se acelera, não faço a mínima ideia do porque eu estou aqui.
Já se passou um bom tempo e nada de alguém me explicar o motivo de eu estar aqui. Sério a pouca paciência que tenho já se acabou faz tempo. Vejo uma movimentação estranha na porta do galpão, alguém entra e vem em minha direção, só quando está bem perto que consigo ver melhor.
Um homem muito alto se aproxima ficando bem na minha frente, ele me olha de cima a baixo e dá um pequeno sorriso.
— Finalmente nos encontramos senhorita Sina Deinert , tem como você me falar onde está o meu dinheiro, porque uma coisa eu tenho certeza, você não o usou para comprar roupas.
Fico um tempo olhando para ele sem saber o que fazer, de que dinheiro ele está falando?
— Foi o Eduardo, não foi? Aquele infeliz me paga, mas tenho que admitir, cara me senti em máfia aqui.
Ele não me responde. Se aproxima e simplesmente dá um tapa no meu rosto, não consigo nem explicar a raiva que estou sentindo agora
— Você me bateu? — A minha voz sai tão baixa, que parece que nem é minha. — VOCÊ ME BATEU? — Já estou gritando. — Me solta, infeliz. E vamos ver se vai conseguir me bater de novo
— Cala essa boca, ou vou quebrar todos os seus dentes.
Sabe uma coisa que tenho que aprender é ficar com a boca fechada, mas não vou, com certeza, não.
— Não sei onde você estudou, clone de Christian Grey, mas os dentes não vão me impedir de falar.
— E a língua também não.
— Seria uma boa ideia, mas que tal você me explicasse o porquê de eu estar aqui.
— Você pensa que sou idiota.
E mais um tapa dessa vez mais forte. Respiro fundo
— Idiota com certeza, e pelo visto burro também. Inteligência, não quero te ensinar a fazer o seu trabalho, mas que tal falar de que estou sendo acusada hem!
Ele vai para um canto da sala e se aproxima de uma mesa, volta com um alicate na mão.
— Oh! Droga, sério isso?
— Já que quer saber, ok, então, você coisinha estranha me roubou duzentos milhões.
— Primeiro coisinha estranha é a sua mãe. Segundo quem falou isso? E terceiro, você acha mesmo que se tivesse roubado esse dinheiro eu estaria no mesmo país ainda?
— Pensou que eu nunca iria te encontrar.
— Por que acharia isso, você por acaso é tão importante assim?
Ele levanta uma sobrancelha e continua olhando para mim.
— Vamos fazer assim então, já que você é tão insuportável. Vou te fazer uma pergunta se sua resposta não me agradar, você terá uma punição.
— Eu não.
— Quem falou que você tem que querer alguma coisa?
— Sabe o que acho, com essa cara de psicopata que você tem com certeza já teria me matado, se estou viva até agora alguma coisa você estar querendo. É o dinheiro? — falo levantando uma sobrancelha igual a ele.
— Por que você não fala em qual conta está o meu dinheiro? Talvez assim você possa sair daqui, pelo menos viva.
— Eu gosto de viver, sabe. Quem te falou que roubei seu dinheiro?
— O hacker que trabalhava para mim.
— E como ele chegou a essa conclusão?
— Ele hackeou a pessoa que me roubou e descobriu que o endereço de IP era do seu computador, descobriu também que você sempre faz pequenas com tribulações para algumas instituições pelo mundo, no mínimo se cansou de roubar pequenos valores.
— Se ele te falou tudo isso também deve ter te falado que nunca fiquei com nada que eu consegui nas contas.
— Conseguiu não, roubou mesmo.
— Que seja, cadê o seu hacker?
— O matei.
— Sério isso nossa, mas você é burro mesmo, hein!
Ele simplesmente não responde, se aproxima de mim e dá um soco no meu estômago. Com o impacto fecho os olhos, minha respiração se acelera e as lágrimas que estava tentando não soltar já estavam rolando pelo meu rosto.
— Isso mesmo, chora muito, adoro isso. Ele fala pegando no meu rosto o segurado forte.
—Escuta bem o que vou falar agora. A próxima vez que você abrir essa boca, quero que fale sobre o meu dinheiro! Mais alguma gracinha que sair dela, quebro o seu braço, me entendeu?
Apenas balanço a cabeça concordando. Ele me solta, só aí respiro direito. nem tinha percebido que estava segurando o fôlego.
A dor no meu estômago está aumentando. Já tinha apanhado de crianças maiores no orfanato, mas nunca de um adulto e pior ainda de um homem.
— Onde está o meu dinheiro?
— Se você não tivesse matado o seu hacker seria mais fácil te explicar.
— Sou bastante inteligente para entender.
— Qualquer pessoa com um nível avançado em conhecimento em computação, saberia que você pode entrar em uma conta e bagunça o sistema direcionado a outra pessoa para o endereço de IP desejado.
— Por que ele não falou nada disso?
— Eu também gostaria de saber se você não tivesse o matado, aí nos dois saberíamos.
— Por que uma pessoa iria ter o trabalho de fazer com que eu saísse do meu país para vim aqui te matar?
Comecei a tremer com essa revelação.
— Me matar?
— Você pensar que eu teria esse trabalho todo à-toa?
— Não precisa me matar não.
— O que eu ganharia em deixar que você vivesse?
E agora Sina pensa, anda!
— Posso tentar encontrar a pessoa que te roubou.
— Como?
— Ao contrário da pessoa que trabalhava para você sou boa em invadir sistemas e além do mais também quero saber quem se esforçou tanto para me ver morta.
Ele se afasta e vai para o outro lado da sala só aí percebo um homem nos observando, sombrio igual a ele.
— O que você acha, Josh?
— Não temos nada a perder, ela sabe que se estiver mentindo, nós a matamos.
— Ok, então podem soltar ela.
O mesmo cabeça de ovo vem em minha direção e retirar as amarras, passo a mão no meu pulso tentando aliviar a dor.
— Vamos ao seu apartamento quero ver se está falando a verdade.
— Ok
Vou seguindo ele para fora do galpão, quando estou próxima do carro caio no chão por não vê uma pedra no meu caminho.
— Merda.
— Olha para onde anda, garota. — Ele fala me levantando na maior ignorância.
— Até olharia se estivesse com os meus óculos aqui.
Ele não responde apenas abre a porta, e me joga literalmente dentro do carro.
— Não precisava me jogar, porra.
— Você não aprende né garota, não sou seu amigo, não fale comigo como se fosse.
Acabo encostando-me no máximo na porta. Passo a mão na lateral do meu rosto sentindo- inchar.
O carro se movimenta e um silêncio muito cômodo instalou-se entre nós.
Só quero que isso acabe, só isso.
Agora estamos aqui, na frente do meu apartamento. O infeliz pega a chave do bolso como se fosse dele e abre a porta. Entra e vou seguindo-o, como se esse lugar não fosse meu.
Uma angústia toma conta de mim como se meu coração se apertasse cada vez mais, era um pressentimento. Uma sensação que eu não voltaria mais aqui. Ele para na porta do meu quarto e observa cada canto e se vira para mim com um sorriso irônico no rosto.
— Quantos anos você tem? Dez?
— Não que isso seja da sua conta, mas tenho dezenove.
Passo por ele, mas quando estava pronta para abaixar e pegar os meus
óculos no chão, sinto sua mão envolta do meu pescoço ele me prende na cama.
Sinto sua respiração próxima do meu rosto.
— Você só pode ser louca, não aprende mesmo, que tal um companheiro para esse rosto hem!... — fala passando a mão pela lateral machucada do meu rosto.
Uma expressão de dor se forma o que o leva a apertar ainda mais.
— Entendi, pode parar.
— Espero mesmo.
Meu coração está tão acelerado que parece que vai explodir agora mesmo.
— Anda levante-se não tenho o tempo todo para ficar aqui.
Saio da cama e pego os meus óculos e os coloco. Aproximo-me do meu notebook e sento, com ele observando cada movimento, ele se aproxima e fica do meu lado.
— Qual é o seu nome?
— Noah Urrea.
Primeiro pesquiso tudo sobre essa cara. Assusto-me com o que acabei descobrindo tanto que começo a tremer. — Algum problema?
— Não, por quê?
— Você começou a tremer.
— Deve ser o frio.
Continuo a minha pesquisa e entro no sistema do banco da Itália e acabo nos seus dados pessoais. Invado o sistema da conta e vou à procura das transações bancárias. Não consigo nada ali que me ajude, então coloco o algoritmo que desenvolvi alguns anos atrás e acabo encontrando o endereço de IP da pessoa que me acusou de ter roubado esse dinheiro.
Mas tenho que admitir, que não foi tão fácil como eu imaginei.
— Consegui, a pessoa que te roubou e transferiu o dinheiro para uma conta na Itália se chama Pierre Lucena.
— Você só pode estar brincando com a minha cara. — Por que eu faria isso?
— Porque Pierre Lucena é o hacker que matei.
— Entendi, não podemos falar com ele.
— Descobriu mais alguma coisa útil?
— Sim, ele depositou esse dinheiro em uma conta na Itália, mas ainda não consegui descobrir de quem é, assim que eu descobrir mandarei um email para você com todos os dados.
— Um email?
— Se você preferir pode me passar um número de telefone.
— Acho que você não entendeu garota, você vai comigo para a Itália. Arrume suas coisas o mais rápido possível. Você tem trinta minutos para isso e coloque uma roupa que não foi feita para uma criança de dez anos.

A Nerd na MáfiaWhere stories live. Discover now