Colheita.

540 33 5
                                    

Prólogo: Percy.

Acordo com minha mãe invadindo o quarto e abrindo a cortina, fazendo o sol inundar o ambiente, quente e glorioso. Resmunguei, cobrindo a cabeça com o cobertor e ouvindo a voz dela dizer:

—Rachel já está esperando você, se arruma rápido ou vai atrasar a todos nós.

Sally Jackson. Sempre adorável.

Fico mais dez segundos deitado na cama depois que ela sai do quarto, pensando no sonho que tive, que pela primeira vez em muitos dias havia sido bom. Rachel e eu estávamos sentados na beira da praia, aliviados depois de escaparmos de mais uma edição dos Jogos, os sorteados na Colheita sendo dois completos desconhecidos.

E eu esperava que esse sonho se tornasse realidade hoje, mais tarde, quando os dois tributos do 4 já tivessem sido escolhidos e eu me sentasse com a minha mãe para assistir a Colheita pela TV.

Só acompanho os Jogos porque são praticamente o grande evento anual de Panem. Todos só falam nisso o tempo todo depois que acontece a Colheita, seja na escola, seja nas ruas, ou até mesmo em casa. Não saber o que está acontecendo nos Jogos é praticamente estar desinformado, e sinceramente, ninguém gosta de estar desinformado.

Odeio ver tudo aquilo. As mortes, o sangue, o glamour. A Capital triunfando sobre a população dos Distritos. É cruel. Sujo. Completamente sem noção, Rachel concorda comigo. Obrigar crianças a lutarem até a morte só porque podem? E ainda chamam isso de controle?

Poder. É tudo sobre poder.

Me coloco de pé e me visto o mais rápido que consigo depois de escovar os dentes, indo para a sala, onde encontro Rachel sentada no sofá, desenhando no bloquinho que sempre ficava sobre a mesinha de centro. O cabelo ruivo solto com os cachos caindo nos ombros, o vestido branco indo até depois do joelho e a sandália trançada nos pés.

—Finalmente. —falou ao erguer os olhos para onde eu estava.

Levantei os ombros.

—Não me julgue.

Ela abre a boca para dizer mais alguma coisa, mas minha mãe saiu da cozinha bem na hora, interrompendo-a:

—Prontos?

Rachel se levantou, colocando o bloco de volta no lugar. Seus olhos verde esmeralda brilhando ao ver a mulher parada na porta da cozinha. Ela sempre amou minha mãe, já que Sally a tratava como filha. A verdade é que o sonho de minha mãe sempre foi ter uma filha mulher, mas nunca mais conseguiu engravidar depois de mim, apesar de tentar. Acho que sempre fui mais próximo do meu pai por conta disso.

Mas ele foi embora antes de eu fazer quinze anos.

Costumávamos pescar juntos, ele foi quem me ensinou a fazer nós. Ele também me contava suas histórias de pescador, de como conheceu minha mãe, e eu falava das garotas. Puxei dele esse preconceito pelos Jogos. Nunca entendi porque ele foi embora, mas a maioria diz que está no Distrito 2, trabalhando para a Capital. Não sei se é verdade, e às vezes prefiro nem saber. Ainda sinto raiva quando penso nisso.

—Sim. —Rachel abre um sorriso radiante para ela antes de vir na minha direção e me envolver num abraço. —Oi. —sussurra perto do meu ouvido.

—Oi. —respondo, também sussurrando.

Escuto minha mãe pigarrear, e quando olho já localizei minha mãe destrancando a porta da frente da casa.

—Vamos, pombinhos? —ela sorri quando reviro os olhos, me afastando de Rachel.

—Vamos. —respondo, sem emoção, deixando os braços caírem ao redor do corpo.

Rachel agarra meu braço e passamos juntos pela porta, minha mãe vindo logo atrás.

Sacrifice Games - (percabeth)Where stories live. Discover now