Café da manhã.

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Capítulo 9: Reyna.

O cheiro do cabelo dela foi a primeira coisa que senti, antes mesmo de abrir os olhos. É a primeira vez que dormimos juntas, apesar de isso entre nós estar acontecendo desde o início do ano. 

Foi uma péssima notícia quando Thalia foi sorteada, e deve ter sido ainda pior para ela quando uma coincidência infeliz também colocou seu irmão mais novo na jogada. Me sinto mal por ela, e sei que provavelmente vou perdê-la, por isso tenho sido mais receptiva e procurado aproveitar cada segundo que nos resta da melhor maneira possível.

E dormir juntas era algo que, apesar de parecer bobo, saía completamente da minha zona de conforto.

Reyna Avila Ramírez-Arellano de guarda baixa parecia piada, mas Thalia Grace derretia tudo dentro de mim, e a possibilidade de perdê-la intensificava isso ainda mais, me levando a fazer coisas jamais pensadas antes.

Levantei da cama e fui direto para o chuveiro, onde lavei o cabelo e vesti uma roupa confortável. Thalia já não estava mais ali quando voltei, então fui direto até a copa, onde Hera e Octavian já ocupavam seus lugares à mesa. Ele cortava o pão enquanto ela mexia em um tablet, desviando o olhar da tela assim que afastei a cadeira ao lado do mentor:

—Bom dia, Avila.

—Bom dia. —estendi o braço sobre a mesa para pegar a garrafa de café. —Bom dia, Octavian.

Ele abre um sorriso, pousando a faca na mesa e pegando uma fatia de pão.

—Dormiu bem, srta. Ramírez? —seu tom é puro sarcasmo.

—Muito bem, obrigada por perguntar. —encho uma xícara com o café. Sou seca.

Jason entra na sala segundos depois, ocupando a cadeira de frente para Octavian e cumprimentando todos da mesa com um sorriso fraco e um aceno de cabeça.

—Animado para o treinamento? —Octavian pergunta e ele assente, então o mais velho se volta para mim: —Você não acha que devemos falar sobre formar alianças?

Desvio o olhar, bebendo um gole de café. Os olhos de Octavian vinham tendo um brilho malicioso desde ontem a noite no desfile, e eu sabia o que isso significava, o que me enojava. O vi conversando com a mentora do 4, e sei exatamente qual a aliança vai propor que façamos.

—É melhor esperar por Thalia, não acha?

Hera limpa a garganta, cortando o que seria a próxima fala dele:

—Piper McLean foi minha aluna na universidade, vocês acreditam? —franzi o cenho pois não reconheci o nome logo de cara. —O trabalho dela no desfile de ontem mostrou potencial. Só se fala disso na cidade.

Então eu entendi. É claro que ela estava falando da estilista do 4. Por que o 4 de repente se tornou o centro das atenções?

—Achei fantástico o trabalho dela. —Octavian bajula, o que quase me faz revirar os olhos. —Acho que o 4 vai estar forte esse ano.

—Sem dúvidas. —Hera morde um muffin e se vira para Jason. —Não está com fome, querido?

—Ah, eu estou bem. 

Ergui as sobrancelhas para ele.

—Jason, você precisa se alimentar. O treinamento não é nada leve e você pode acabar prejudicado.

Ele me encara e eu retribuo o olhar. Sou mentora dele, essa é a minha função.

Não cedo, então quem cede é ele, pegando uma fatia de pão e começando a passar geleia de morango em cima.

—Só porque você pediu com muita educação.

Penso em revirar os olhos, mas então vejo Thalia entrar na sala. Ela não me parece feliz, eu no lugar dela também não estaria. Acho que ninguém em Panem é realmente feliz.

Ela se sentou e pegou um muffin. Não me olhou, muito menos comprimentou. 

Octavian não demora muito para continuar, se virando para mim:

—Agora que Thalia já está aqui, podemos falar sobre alianças?

Quis revirar os olhos de novo. Ele estava mesmo obcecado, e isso me preocupava. Octavian demonstrando qualquer ansiedade ou animação com algo é sempre um motivo de preocupação.

—Tudo bem. —uso um guardanapo para limpar a boca. —Nós somos Carreiristas, e o que esperam que façamos é uma aliança com os tributos do 4 e do 1.

—É quase um padrão. —acrescentou Octavian.

—Mas não precisa ser. —olho para Jason, abrindo um sorriso sugestivo. —Nos meus Jogos…

—Não precisamos abir exceções, Reyna. —o mentor me corta. —Somos Carreiristas e devemos nos aliar a outros Carreiristas. Ponto.

Virei o rosto na direção dele, os olhos brilhando de fúria. Eu poderia socar a cara de Octavian agora, mas consegui manter as mãos paradas com muito esforço. 

—Nunca mais me interrompa no meio de uma frase, Priest. Nunca. —o perfurei com o olhar, mas Octavian permaneceu neutro. Eu o odiava. Ele era o ser mais desprezível que existia na  Terra. Respiro fundo, os olhos pousando brevemente em Thalia antes de se voltarem para Jason. —A base de toda a aliança é a confiança. Vá ao treinamento, procure conhecer as pessoas. Ter maior poder e força não vai servir de nada se seu aliado te apunhalar pelas costas.

Me levanto da cadeira, que faz barulho ao ser arrastada no chão. Hera me encara, perplexa, mas a ignoro. Não estou com saco para ouvir sermões ridículos de alguém da Capital.

Quando estou indo para o quarto, penso no quão pouco as pessoas sabem sobre Octavian Priest. Ele arruinou minha vida, e eu não poderia permitir que fizesse isso com outras mulheres.

Eu iria matá-lo com as minhas próprias mãos.

Sacrifice Games - (percabeth)Where stories live. Discover now