Sorte.

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Capítulo 2: Percy.

-Eu não tenho nada a perder, mãe.

Os olhos de Sally estão marejados, e ela os seca com um lenço que tira de dentro do forro do vestido.

-E quanto a mim, Percy? -seu tom permanece incrivelmente calmo. -E quanto a mim, quando você é tudo que eu tenho?

Dei de ombros.

-Agora não tem mais volta.

Até eu mesmo me surpreendo com o quanto de frieza consigo imprimir nessas palavras, porque no momento realmente me sinto indiferente a tudo. Desde quando pisei no palco depois de me voluntariar foi como se a minha capacidade de ter emoções tivesse sido extinguida.

E com a minha mãe isso conseguia ser ainda mais intenso, como se toda a negligência dela por mim tivesse sido jogada na minha cara, não deixando nada além de um gosto amargo na ponta da língua. Porque eu nunca fui parte dos planos de Sally Jackson, isso era um fato. Fui mais um descuido, um peso a mais, um dano colateral. Qualquer coisa, menos algo do qual ela se orgulha, porque tudo que fiz na vida dela até hoje foi causar problemas.

Mas será que o fato de eu ser assim não é por conta de toda essa negligência? Dessa falta de carinho? Por mais que o meu pai fosse incrível comigo, existem coisas que só se podem receber de uma mãe.

E eu com certeza não tive isso.

-Vou fazer o possível para Rachel voltar. -falei depois de algum tempo de silêncio. -Você sempre preferiu ela, de qualquer maneira.

A expressão de minha mãe denuncia o quanto fui cruel ao expressar esse pensamento em voz alta, mas em nenhum segundo me arrependi de ter feito. Eu sabia que, mais tarde, quando deitasse a cabeça no travesseiro, provavelmente desejaria não ter dito aquilo.

-Você é meu filho, Percy. É claro que você sempre vai ser a minha prioridade, independente do que você pense. Me desculpa se não fui uma boa mãe. Me desculpa se não demonstrei amor o suficiente. Me desculpa por não te dar o que você merece. -ela seca as lágrimas que escorriam de seus olhos. -Mas nenhuma mãe merece ter que ver o filho morrer.

Sally fica de pé, indo em direção a porta. Só encaro as costas dela quando volta a falar, colocando a mão na maçaneta.

-Saiba que, caso volte, ainda vou estar no mesmo lugar em que me deixou, e torcendo por você.

-Eu não vou voltar, mãe. -eu disse quando ela abriu a porta. -Já me decidi quanto a isso.

Mas minha mãe não diz mais nada, apenas deixa o cômodo, voltando a fechar a porta atrás de si.

Respirei fundo, soltando o ar com força ao tombar a cabeça para trás, cruzando os dedos na nuca.

-Merda. -murmurei, refletindo sobre ir atrás da mulher ou não. Mas eu estava exausto daquela discussão, e não queria correr o risco de alguém me fazer mudar de ideia, porque dessa maneira eu iria acabar enlouquecendo.

Tenho que manter a Rachel viva, e é só isso que importa.

Fiquei repetindo isso para mim mesmo enquanto ia até o banheiro para lavar o rosto, encarando minha imagem no espelho. Eu parecia ter envelhecido cinco anos nas últimas horas, o rosto perdendo todo o ar de descontração e se tornando frio e duro feito um iceberg. A mínima sombra de sorriso sumindo completamente.

Não sei quanto tempo demorei para sair do quarto, mas encontro Rachel na sala de estar assim que o faço.

-Finalmente. -disse assim que me viu.

-Oi. -respondi.

Sentei numa poltrona que ficava de frente para a dela, uma pequena mesinha entre nós. A luz do sol passava pelos vidros das janelas, iluminando o local e fazendo os olhos verdes de Rachel brilharem.

Sacrifice Games - (percabeth)Where stories live. Discover now