Voluntário.

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Capítulo 1: Annabeth.


Nunca vou me acostumar com o silêncio ensurdecedor sempre que algum tributo é selecionado, porque acho que esse é o único momento no ano em que todos concordam com o quanto aquilo é triste e injusto. Na minha vez foi assim, e nas outras dez das quais me lembro também. Acredito que não tenha havido uma única vez em qualquer Distrito que um adolescente tenha sido ovacionado ao subir naquele palco ao invés de receber olhares de tristeza.

Observei conforme a garota, Rachel, se soltava da mão de um cara que deveria ser o namorado ou sei lá. Não importava. Dava pra ver o medo mesclado ao choque em sua expressão, e até mesmo no jeito de caminhar até o palco, subindo as escadas e recebendo um abraço de Anfitrite, que também não parecia nada feliz.

Acho que nunca vou conseguir detalhar exatamente o que senti na Colheita em que fui selecionada. Sempre fui competitiva e corajosa a ponto de me tacharem de louca muitas das vezes, mas naquele dia senti tanto medo quanto era visível no rosto de Rachel naquele momento.

Ela vem na nossa direção, o cabelo ruivo esvoaçando um pouco ao vento. Luke abre o seu sorriso mais falso que já vi na vida, e olhe que já vi esse tipo de sorriso nele mais vezes do que poderia contar, e a abraçou, sussurrando algo que não me dei ao trabalho de ouvir.

Nenhum voluntário.

Respirei fundo quando Anfitrite foi até o pote onde estavam os papéis com os nomes dos garotos, procurando novamente por Malcolm em meio a multidão e não localizando-o. Apertei as mãos com força, fazendo uma prece silenciosa para que meu irmão mais novo escapasse por mais um ano consecutivo, não tendo que ser obrigado a ferir inocentes como eu fui. Senti a adrenalina correndo em minhas veias conforme acompanhei a mulher abrir o papel e aproximar a boca do microfone:

—E o garoto que vai representar o Distrito 4 na sexagésima quarta edição dos Jogos Vorazes é… —uma pausa. —Malcolm Pace!

Já sentiu o mundo desabar ao seu redor, centenas de pedaços de concreto despencando em suas costas ao mesmo tempo e te esmagando contra o chão? Foi o que eu senti quando ouvi o nome ser pronunciado, meu café da manhã parecendo revirar o estômago. Luke olhou para mim, mas não olhei de volta. Sei que ele teria me puxado para perto se não estivéssemos no meio da população do 4 inteira, mas não lamentei por isso. Lamentei por ver meu irmão de apenas quatorze anos abrir caminho pela multidão silenciosa a caminho do palco.

Ele era tudo que eu tinha e mais amava naquele mundo, e agora, se eu quisesse que continuasse vivo, teria que transformá-lo num assassino a sangue frio. Assim como eu fui, o que me traz pesadelos até hoje. Nunca mais consegui ter uma boa noite de sono depois que deixei aquela Arena.

E então, no segundo seguinte, o sistema que eu estava amaldiçoando me salvou.

—Eu me ofereço! —gritou uma voz do meio da multidão. —Eu me ofereço como tributo!

Malcolm parou, olhando por cima do ombro, onde o mesmo garoto que estava segurando a mão de Rachel minutos atrás agora abria caminho entre as pessoas até ele. Uma mulher, que supus que fosse sua mãe pelo fato de ter os mesmos cabelos negros, tentou segurá-lo pelo braço, mas o garoto se desvencilhou e continuou andando na direção do meu irmão mais novo.

Parou na frente dele, encarando-o por um breve instante antes de lhe dar um tapinha no ombro e tomar sua frente, subindo as escadas de acesso ao palco, seguindo na direção de uma Anfitrite completamente perplexa.

—Qual o seu nome, querido? — a voz dela quis vacilar, mas se manteve firme.

O garoto suspirou, engolindo em seco antes de responder:

Sacrifice Games - (percabeth)Where stories live. Discover now